Faz parte da essência humana associar as refeições diárias a emoções. Seja um belo jantar para celebrar um momento especial ou um docinho para diminuir o estresse de um dia cansativo, essa prática é mais comum do que parece.
Entretanto, em alguns casos, essa correlação se desequilibra e pode tomar o controle dos nossos hábitos alimentares, como tem ocorrido com a modelo Yasmin Brunet.
Ao participar do Big Brother Brasil, o maior reality show da televisão brasileira, seus hábitos têm sido expostos e amplamente discutidos nas redes sociais, principalmente após Yasmin afirmar que está depositando a ansiedade na comida.
+ Leia também: Sobre honrar os nossos desejos
Sem a menor ambição de fazer um diagnóstico apenas com base no comportamento da modelo no programa – o que seria uma irresponsabilidade e vai totalmente contra ao que eu como médica acredito – é possível afirmar que esse tipo de comportamento pode compor um perfil alimentar que chamamos de “comedor emocional”.
Isso ocorre quando o indivíduo come como uma forma de recompensa e para lidar com as emoções, sejam positivas ou negativas. Esse hábito pode resultar em sobrepeso ou obesidade, caso não haja controle adequado, já que o indivíduo come sem a necessidade fisiológica de repor suas energias.
Recentemente, um estudo analisou os perfis alimentares de centenas de pessoas e as classificou entre quatro categorias, determinando a abordagem para cada uma. São elas:
- Hiperfágico: que come grandes volumes de comida nas principais refeições.
- Beliscador: que não faz grandes refeições, mas está sempre com fome e petiscando.
- Queimador lento: que tem metabolismo lento ou baixo gasto energético.
- Comedor emocional: que come como uma forma de recompensa e para lidar com as emoções, sejam elas positivas ou negativas.
O estudo demonstrou que a terapia guiada por esses perfis resultou em uma perda de peso 75% maior do que o tratamento prescrito sem considerar as características individuais dos pacientes. Portanto, a terapia individualizada é uma estratégia eficaz para obter melhores resultados na perda de peso.
Ignorar a influência das emoções no comportamento alimentar pode ter um impacto negativo no tratamento da obesidade. A pessoa que come em resposta aos sentimentos frequentemente experimenta impulsos intensos e, muitas vezes, incontroláveis. Isso compromete a adesão ao plano alimentar e a motivação para seguir com o tratamento.
+ Leia também: Compulsão alimentar: o que causa e como lidar com o transtorno
Uma pesquisa nacional realizada pelo Instituto Ipec em abril de 2023 aponta que 7 a cada 10 brasileiros sentem ou já sentiram a fome emocional. A fome emocional acontece também em pessoas com peso ideal, mas tende a ser mais frequente à medida que o Índice de Massa Corporal (IMC) aumenta, conforme indicado pela pesquisa.
A pesquisa também destacou que a fome emocional está frequentemente associada a episódios de “craving”. Esse termo, traduzido como fissura alimentar, descreve um desejo ou impulso intenso e imediato por um alimento específico, com sabor doce ou salgado e de grande apelo sensorial.
O estudo aponta que três em cada quatro pessoas com obesidade afirmam lidar com o craving e que o sintoma é 50% mais frequente no gênero feminino.
+ Leia também: Não consegue deixar de comer bife? Pode ser culpa dos seus genes
Existem alguns comportamentos que contribuem para descredibilizar o tratamento da obesidade. Por exemplo: 60% das pessoas com obesidade na amostra do Ipec conhecem alguém ou já utilizaram medicação para emagrecer por conta própria.
Entretanto, já sabemos que o tratamento sem acompanhamento médico pode prejudicar o processo de perda de peso, causando frustrações e trazendo riscos à saúde.
O especialista avalia todo o seu perfil de saúde e de alimentação antes de escolher o tratamento. A fome emocional, por exemplo, pode ser identificada a partir de perguntas simples sobre as emoções envolvidas na busca pela comida:
- Você procura comida após uma situação estressante?
- Você come quando se sente ansioso?
- Costuma pensar “hoje eu mereço” após um dia puxado ou para comemorar alguma conquista?
É importante compreender e reforçar que essa diferenciação entre os perfis têm impacto no resultado do tratamento. Com uma avaliação correta, é possível escolher o tratamento mais adequado, que, combinado a reeducação alimentar, atividade física e acompanhamento profissional, pode trazer mais chances de sucesso e, claro, qualidade de vida.
*Fabiana Mandel Cyrulnik é endocrinologista e gerente médica de Obesidade e Diabetes na Merck Brasil.