O sistema de saúde já enfrentava dificuldades dramáticas para responder às necessidades da população mundial antes mesmo da pandemia do coronavírus. Diante da crise trazida pela Covid-19, seja do ponto de vista da infraestrutura, dos recursos humanos ou do seu financiamento, a saúde agora está realmente na UTI.
A destinação de recursos para a saúde já representa cerca de 10% do PIB de diversos países, limitando aumentos significativos, visto que o orçamento do Estado atende uma série de prioridades. Portanto, faz-se necessário repensar investimentos, reavaliar custos e buscar caminhos sustentáveis para esse sistema que é vital a todos nós.
O endereçamento de possíveis soluções vai desde a oferta de saneamento básico amplo, passando pela responsabilidade individual da própria saúde, até os cuidados especiais em doenças graves ou incuráveis. O leque é vasto e passa por particularidades muito específicas.
Um dos primeiros passos nessa jornada pela saúde de todos os cidadãos é conscientizá-los sobre a responsabilidade individual que se deve ter em relação à própria qualidade de vida, o que chamamos de autocuidado.
Afinal, o que é autocuidado?
O termo resume um conceito desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e contempla uma atitude ativa e responsável de cada individuo diante da própria saúde, 24 horas por dia, 7 dias por semana, por meio de hábitos como higiene pessoal, alimentação balanceada e atividade física.
Um dos aspectos mais relevantes do autocuidado é a obtenção de informações de fontes confiáveis, o combate às fake news (ou notícias falsas) e a valorização de veículos de comunicação e profissionais de saúde que transmitem orientações e informações baseadas em ciência.
Os demais pilares trabalham outros aspectos com potenciais efeitos positivos na saúde física e mental. São indiscutíveis as vantagens de um estilo de vida saudável nos planos individual e familiar. O desafio é medir o impacto financeiro desses benefícios à sociedade, trazendo elementos concretos para que as autoridades e os governos mudem a lógica de como andam gerindo a saúde.
Investir, realizar, publicar e debater estudos que comprovem a eficácia dos pilares do autocuidado no custo evitado pela adoção de práticas saudáveis deveria estar na pauta emergencial do setor público e privado.
Uma contribuição nesse sentido vem do sétimo e último pilar, a utilização responsável dos medicamentos isentos de prescrição médica, os MIPs. Eles representam uma alternativa racional e segura para que a população consiga adquirir medicamentos antes de acessar o sistema de saúde ou ter de ir a um hospital. Essa solução traz, entre outras vantagens, uma economia para o sistema.
Estudos de economias geradas pelo consumo de MIPs ao redor do mundo vêm sendo publicados e nos ajudam a visualizar melhor o cenário. Nos Estados Unidos, onde existem as pesquisas mais abrangentes na área, observa-se que, para cada dólar gasto na compra de um MIP a fim de tratar um sintoma menor, a economia ao se evitar o acesso ao sistema de saúde é de 7 dólares. No Brasil, um estudo revela uma economia potencial da ordem de pelo menos 350 milhões de reais.
O que se vê como serviço “gratuito” de saúde no SUS e mesmo no sistema privado é, na verdade, pago pelo dinheiro de todos os cidadãos na forma de impostos, co-participações ou desembolso em exames e medicamentos. Não existe tratamento de graça.
Assim, melhorar os serviços de saúde é responsabilidade de todos. Em nossas mãos está a aplicação do autocuidado, assim como a replicação dos seus conceitos ao nosso redor, o que nos transforma em agentes de saúde.
Os desafios do sistema de saúde, ainda mais com a pandemia, são profundos e complexos. Cabe a nós refletir sobre a contribuição do autocuidado na ressignificação dos cuidados com a própria saúde.
* Cesar Bentim é publicitário e profissional de marketing, consultor e empreendedor no segmento farmacêutico e fundador da startup Artegist Healthcare Consulting, com sede em São Paulo e filial em Lisboa, Portugal