Herpes, HIV, HPV, sífilis, hepatite viral, clamídia, gonorreia… Essas são as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais frequentes no Brasil. E uma pesquisa feita pelo Datafolha e a plataforma Omens mostra que 11% dos homens relatam já ter tido algum problema do tipo – esse número chega a 27% entre os homossexuais. Contrariando qualquer preconceito, a taxa dessas doenças não muda significativamente de acordo com renda e escolaridade.
Pensando na realidade do nosso país, podemos prever que esses índices sejam ainda maiores, visto que muitas pessoas não passam por exames ou consultas de rotina, deixando de receber o diagnóstico.
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Com exceção da transmissão do HPV, sabemos que existe um método muito eficaz para evitar a disseminação das ISTs em geral, o uso da camisinha. Ainda assim, é importante lembrar que vírus e bactérias também podem pegar carona no sexo oral, considerando que a adesão ao preservativo nessas circunstâncias é baixa. Da mesma forma que aconselhamos não fazer sexo quando existe alguma lesão ou suspeita na região genital, o mesmo se aplica a machucados na boca.
Devemos esclarecer que a camisinha ajuda, sim, a reduzir a transmissão do HPV e das verrugas genitais causadas por ele, mas não o faz completamente, uma vez que o contato com o vírus pode ocorrer em áreas em que a camisinha não chega, como a base do pênis. A melhor forma de prevenir a doença é a vacinação contra os subtipos mais preocupantes do HPV. Ela é gratuita no SUS para garotos de até 14 anos e se estende até os 26 anos em caso de pessoas com imunodeficiências no setor público ou para qualquer paciente em serviços privados.
Outra doença passível de prevenção por vacina é a hepatite B, que faz parte do nosso calendário vacinal. Cabe só pontuar que as três doses preconizadas nem sempre promovem uma imunização completa. Por isso, pessoas com maior exposição ao vírus devem fazer o exame de sorologia de tempos em tempos a fim de saber se precisam de uma dose de reforço. Para outra forma de hepatite viral que também pode ser transmitida sexualmente, a do tipo C, ainda não contamos com vacina.
No caso do HIV, embora não tenhamos um imunizante disponível, dispomos de um método que se consolidou na prevenção, a profilaxia pré-exposição (PrEP). Também acessível pelo SUS, ele consiste em tomar diariamente medicamentos antivirais quando o indivíduo tem maior risco de entrar em contato com o vírus – a recomendação inclui homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e trabalhadores do sexo, entre outros. Não custa reforçar que o uso concomitante da camisinha continua de pé, até porque outras ISTs estão à solta.
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Por mais que hoje em dia as infecções sexualmente transmissíveis sejam, em sua maioria, curáveis ou pelo menos controláveis, não devemos subestimar os prejuízos que podem provocar – na conta entram tumores, infertilidade e complicações em outros órgãos. Mas, com as estratégias preventivas disponíveis, fato é que não há desculpa para se descuidar.
* João Brunhara é urologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e diretor científico da Omens, plataforma voltada à saúde sexual masculina