Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Check-up com Sidney Klajner

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
O cirurgião e presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein levanta e debate as tendências e os desafios que interferem em nosso dia a dia e na saúde pública do país
Continua após publicidade

Rápido e devagar: os paradoxos do tempo na medicina

Nosso colunista tece uma reflexão sobre acolhimento, avaliação em consulta e tomada de decisão na relação médico-paciente

Por Sidney Klajner
31 out 2022, 08h44
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Filmes, livros, séries, quadrinhos… Não faltam obras de ficção explorando o paradoxo temporal, com direito a personagens viajando pelo tempo para alterar fatos do passado a fim de modificar o futuro. Na realidade da atividade médica, o paradoxo temporal diz respeito aos minutos ou às horas que devemos dedicar ao paciente no presente para modificar seu futuro, ou seja, cuidar adequadamente do problema que o trouxe até nós e buscar remediá-lo ou minimizá-lo.

    Nesse contexto, o que às vezes pode parecer gasto de tempo é, na verdade, um investimento. Investimento porque vai se refletir em ganhos na qualidade da assistência ao paciente e na melhor gestão do tempo do médico e da equipe de saúde, uma vez que informações úteis a um diagnóstico ou tratamento mais preciso foram captadas e as orientações pertinentes foram dadas no momento certo.

    Porém, quando o profissional acha que está economizando tempo com uma consulta rápida e acredita que vai resolver tudo só pedindo exames incorre em dois pecados. Um é deixar de ouvir o paciente e investigar seus sintomas, fiando-se apenas nos resultados dos exames como guia para o diagnóstico ou o tratamento. O outro é o desperdício de recursos que impacta a sustentabilidade do sistema de saúde, inflando custos com exames desnecessários.

    Aqui precisamos questionar: quantas doenças não podem ser diagnosticadas clinicamente? Não há ressonância magnética que aponte a causa de uma enxaqueca, por exemplo. Da mesma forma, nenhum exame laboratorial ou de imagem decifrará o gatilho de doenças que têm componentes psicossomáticos, como as gastrites e a síndrome do intestino irritável.

    + LEIA TAMBÉM: Outras colunas do doutor Sidney Klajner

    Ouvir o paciente, explicar o diagnóstico e as opções de tratamento, exercitar a empatia para ajudar em suas dores (físicas e emocionais), orientá-lo e esclarecer dúvidas são aspectos que fazem parte do cuidado tanto quanto a aplicação objetiva dos conhecimentos técnicos do médico. Mas quanto tempo é preciso dedicar a isso? Respondo: o tempo adequado a cada caso.

    Vou dar um exemplo simples, comum em meu consultório: o da cirurgia de hemorroida, que costuma atemorizar o paciente por causa do desconforto do pós-operatório. Se antes do procedimento ele já for informado de que poderá sentir dor, mas que irá para casa com um arsenal de medidas para lidar com ela — orientação para banho de assento e prescrição de laxantes, analgésicos, anti-inflamatórios ou mais uma medicação se tiver uma dor muito intensa —, tudo muda de figura.

    Continua após a publicidade

    O indivíduo se sentirá mais seguro por saber o que fazer e vai sentir menos dor, porque dor também depende de ansiedade. Com isso, o tempo “gasto” nas orientações prévias vira tempo ganho depois. Sem essas instruções, o paciente estaria ligando para se queixar da dor e pedindo ajuda, podendo até mesmo se deslocar até um hospital sem necessidade.

    Há um estudo de pesquisadores do Beth Israel Deaconess Medical Center, nos Estados Unidos, com resultados bem curiosos. O trabalho envolveu pacientes com síndrome do intestino irritável, um distúrbio dos movimentos intestinais que provoca cólicas, prisão de ventre e/ou diarreia e é disparado por gatilhos emocionais. Não evolui para nenhuma condição mais grave, mas impacta a qualidade de vida.

    Nessa pesquisa, os pacientes foram divididos aleatoriamente em grupos: um recebeu placebo (comprimido sem princípio ativo) e foi informado disso; outros dois receberam medicação ou pílulas de hortelã com formato igual à do remédio, sem saber quem estava tomando o quê. Adivinhe qual grupo apresentou melhora ao cabo de seis meses.

    Todos! A explicação mais plausível é que os voluntários em geral se beneficiaram das conversas regulares com os médicos nos retornos periódicos realizados durante o experimento.

    Continua após a publicidade

    Dedicar o tempo adequado ao relacionamento com o paciente tem a ver com a própria qualidade da formação médica, que precisa combinar o lado técnico e o humanístico. Com isso, o profissional saberá ajustar a janela necessária tanto para obter as informações relevantes para fazer o diagnóstico e propor o tratamento como para exercer seu papel de acolhimento. Essa relação, vale lembrar, inclui também os familiares.

    BUSCA DE MEDICAMENTOS Informações Legais

    DISTRIBUÍDO POR

    Consulte remédios com os melhores preços

    Favor usar palavras com mais de dois caracteres
    DISTRIBUÍDO POR

    Alguns acreditam que a transformação digital diminuirá o tempo da consulta e que algoritmos tomarão decisões no lugar do médico. É uma visão equivocada.

    Soluções tecnológicas ajudam a poupar tempo com aquilo que não agrega valor — por exemplo, facilitando o preenchimento do prontuário ou apresentando um gráfico com resultados de todos os exames do paciente ao longo dos anos, o que dispensa o trabalho de checar o histórico item por item. Os recursos digitais liberam tempo para o médico cuidar do paciente utilizando aquilo que realmente faz diferença: suas competências técnicas, bem como sua empatia e sensibilidade.

    Continua após a publicidade

    Eu costumo dizer que metade do tratamento é a atenção que dedicamos ao paciente (e familiares); o restante é a aplicação do conhecimento técnico. A transformação digital ajuda a ganhar tempo para nos dedicarmos a essas duas metades que, somadas, permitem fazer o atendimento como ele deve ser.

    Urgências e tomadas rápidas de decisão fazem parte do dia a dia de médicos e cirurgiões. Mas, no relacionamento com o paciente e seu entorno, o ritmo não pode seguir acelerado.

    Precisamos de tempo para interagir, examinar e dar apoio. Cabe ao médico, que abraçou essa carreira tão direcionada ao cuidado com o outro, dispor de tempo para isso. E cabe ao paciente exigir do médico esse tempo.

    Compartilhe essa matéria via:
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY
    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 10,99/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.