O medicamento clorpromazina é utilizado principalmente no tratamento de pacientes que apresentam quadros psicóticos. A comercialização no Brasil é feita apenas com prescrição médica.
A leitora Jessica Relequias pergunta se o remédio pode prejudicar de forma grave e permanente a atenção, memória e o raciocínio. Você também pode participar, enviando dúvidas sobre temas relacionados à saúde para o endereço saude.abril@atleitor.com.br.
Entre os efeitos colaterais descritos, estão sedação, ganho de peso, contrações musculares e tremores. “O medicamento pode dar sono no paciente. Em idosos, pode aumentar o risco de queda, por exemplo. Há também efeitos como agitação e movimentação irregular dos membros”, afirma o médico João Brainer C. de Andrade, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Academia Brasileia de Neurologia (ABN).
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O que é clorpromazina?
Descoberta na década de 1950, a clorpromazina é um antipsicótico típico, de primeira geração e com maior potencial de causar efeitos colaterais, que pertence à classe das fenotiazinas.
“A medicação é usada principalmente no tratamento de transtornos psicóticos, como esquizofrenia, transtornos delirantes e episódios agudos de mania. Além disso, pode ser prescrita para tratar náuseas e vômitos, agitação severa e no controle de distúrbios comportamentais em crianças e adolescentes”, resume o médico neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, professor livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
O neurologista Raphael Ribeiro Spera, do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que os antipsicóticos atuam especificamente sobre um receptor de dopamina chamado D2.
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Quais são os efeitos colaterais do medicamento?
Eles variam entre cada pessoa. Mas, no geral, envolvem questões neurológicas.
“A clorpromazina tem um efeito sedativo acentuado, que é útil em casos de agitação, mas tende a causar sonolência excessiva. Pode provocar boca seca, constipação e retenção urinária, além da síndrome metabólica, que pode incluir ganho de peso significativo, dislipidemia e resistência à insulina”, pontua Gomes.
A lista também inclui problemas como a síndrome extrapiramidal, uma alteração neurológica que leva a distúrbios do equilíbrio e da movimentação, tais como contrações musculares involuntárias (distonia), inquietação, ansiedade e dificuldade em ficar parado (acatisia) e tremores, rigidez muscular e desequilíbrio (parkinsonismo).
“Esses efeitos são mais comuns com doses mais elevadas e uso prolongado”, frisa Gomes.
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Prejuízos para atenção, memória e raciocínio
O uso de clorpromazina pode sim afetar temporariamente a atenção, memória e raciocínio devido a efeitos colaterais como sedação. No entanto, não há um consenso científico ou entre os especialistas do campo da neurologia sobre danos permanentes nesse sentido.
“De forma permanente não é totalmente provado, mas a situação pode ser grave. Tem paciente que usa, desenvolve o parkinsonismo, e o quadro não é revertido depois. É importante pontuar que, nesse caso, não se sabe se a pessoa tinha predisposição ou não”, afirma a neurologista Elisa de Paula França Resende, vice-coordenadora do departamento científico da neurologia cognitiva e do envelhecimento da ABN.
A literatura aponta que os efeitos cognitivos podem variar entre os pacientes e dependem da dosagem, duração do tratamento e predisposição individual.
“Existem evidências que sugerem que o uso prolongado de antipsicóticos típicos pode estar associado a déficits cognitivos persistentes em alguns pacientes, especialmente em grupos mais vulneráveis, como idosos”, diz Gomes.
Spera acrescenta que a medicação pode prejudicar principalmente a cognição. “Tanto que evitamos o uso em pessoas que já têm as doenças neurodegenerativas. Na maior parte das vezes, isso é reversível. Então, ao substituir por outro remédio, o paciente melhora”, afirma.
Por essas razões, é fundamental manter acompanhamento médico constante e discussão sobre os benefícios e riscos do uso da clorpromazina, buscando a melhor abordagem terapêutica para cada paciente.
“Orientações médicas e aspectos de suporte social são cruciais para mitigar potenciais riscos cognitivos associados ao uso prolongado de medicamentos antipsicóticos”, conclui Gomes.
Quais são as contraindicações?
O uso é contraindicado em contextos específicos, incluindo pessoas com reação alérgica conhecida ao princípio ativo da medicação ou a outros antipsicóticos fenotiazínicos.
“Não podem tomar o medicamento pacientes com depressão do sistema nervoso central, como aqueles em coma ou com intoxicação por álcool ou drogas, além de indivíduos com algumas doenças hematológicas pré-existentes”, afirma Gomes, que recomenda ainda cuidado especial para idosos, principalmente aqueles com demência, devido ao risco aumentado de eventos adversos e mortalidade.
O neurologista Raphael Ribeiro Spera explica que pessoas com a doença de Parkinson também devem evitar o uso, assim como portadores de demências como o Alzheimer e outros tipos.
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