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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.
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Os outros coronavírus escondidos debaixo do nosso nariz

Sabia que outros tipos de coronavírus circulam pela nossa espécie há anos? Nosso colunista esclarece quem são eles e o que podemos aprender desse convívio

Por Paulo Eduardo Brandão
Atualizado em 20 out 2021, 14h48 - Publicado em 19 out 2021, 10h33

E se eu dissesse que você já deve ter tido coronavírus? E se, para ficar mais assustador, eu dissesse até que você teve várias vezes, desde que era criança? E que nem deve ter notado?

Sem medo: não estou me referindo ao coronavírus responsável pela Covid-19, cuja gravidade é inegável, mas aos seus primos menos famosos.

Todos os anos, temos resfriados, geralmente no período das baixas temperaturas, quando as pessoas tendem a ficar mais juntas e em ambientes mais fechados. Resfriados são bem diferentes da gripe: enquanto eles são causados por uma grande diversidade de espécies de vírus e se limitam a sintomas leves na parte superior do nosso sistema respiratório, ela é uma doença provocada por um vírus específico, o influenza, e pode acometer o organismo todo.

Na comunidade viral dos resfriados, os coronavírus humanos OC43 e 229E são frequentadores assíduos dos nossos narizes. Só que somos hospedeiros silenciosos, sem sintomas para essa infecção – quando temos sintomas, não costuma passar de uma coriza, exceto em pessoas com deficiências imunológicas.

O fato é que somos infectados ano após ano por esses coronavírus porque nossa imunidade despertada pela invasão deles é curta. Tanto o OC43 como o 229E têm suas próprias variantes que caminham pelo mundo, mas, como a importância deles em saúde pública é baixa, nem é necessário se preocupar com vacinas.

+ LEIA TAMBÉM: Como surge uma variante do coronavírus?

A explicação pela “mansidão” desses dois coronavírus pode estar no tempo que levamos convivendo com eles. Especula-se que o OC43 tenha pulado para humanos a partir do coronavírus bovino mais ou menos no fim do século 19, adaptando-se entre a nossa espécie cada vez com menos virulência.

Até é possível que, naquela época, nos nossos primeiros anos como hospedeiros do OC43, tenha havido uma pandemia com a mesma gravidade que vemos agora. E não é que os médicos de antigamente eram menos inteligentes do que os de hoje. Só que eles tinham menos conhecimentos e ferramentas, já que o estudo dos micro-organismos como causadores de doenças estava em sua infância.

Outros dois coronavírus humanos, o NL63 e o HKU1, são implicados em doenças respiratórias mais graves do que resfriados, mas muito menos severas do que a Covid-19. É como se esses dois estivessem no meio do caminho da adaptação para a vida entre os humanos.

Para os coronavírus humanos “bonzinhos”, caminhos similares por hospedeiros diferentes devem ter ocorrido, levando à nossa relação de “amizade” atual com eles. Mas todos esse vírus, lá na sua origem, vieram mesmo foi de morcegos.

Para os coronavírus humanos mais recentemente descobertos (SARS-CoV-1 em 2002, MERS-CoV em 2012 e SARS-CoV-2 em 2020), a história, como sabemos, é bem diferente.

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Será que o vírus da Covid-19 vai se tornar também um coronavírus mais amigável? Talvez. É o que especulam alguns cientistas, com base no que aprendemos com os outros coronavírus.

Mas agora podemos usar a ciência para ajudar nesse processo (e nessa espera). Vacinar as pessoas anualmente, uma vez que a imunidade aos coronavírus é de curta duração, continuar usando máscaras e evitando aglomerações pode elevar a imunidade da população sem que tenhamos que esperar a morte de pessoas, encurtando, assim, o tempo de nossa adaptação mútua.

Outros coronavírus virão. E outros vírus, outras bactérias, outros protozoários e tudo o que nos esconde o microcosmo. Já podem até estar por aqui agora, debaixo do nosso nariz.

Só que o negacionismo científico e as fake news também estão aí, fazendo alguns narizes crescerem, feito o do Pinóquio, e sedimentando os incubatórios da próxima pandemia.

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