Água no pulmão?! O que é isso, doutor?
Nosso colunista esclarece o que está por trás do acúmulo de líquidos nos pulmões, situação que compromete a respiração
Água no pulmão. Eis uma expressão frequente que ouço de pacientes ou parentes de pacientes em minha rotina de consultório e hospital. Mas o que é isso, afinal? Parece uma pergunta simples de ser respondida, mas não é bem assim.
Bom, o termo faz referência ao acúmulo de líquidos em alguma parte dos pulmões. Só que tem significados e tratamentos completamente diferentes dependendo do caso e da área comprometida. Então vamos tentar esclarecer um pouco mais essa história entendendo algumas características desses órgãos.
Imagine os pulmões como árvores cujas folhinhas são os alvéolos, estruturas que só podem ser vistas no microscópio e onde ocorre a troca gasosa. O oxigênio passa dos alvéolos para a corrente sanguínea, e o gás carbônico faz o caminho inverso, sendo eliminado pela respiração.
Os alvéolos concentram predominantemente ar. Mas, por algumas razões, pode ser que líquidos entrem no pedaço. Um exemplo: na insuficiência cardíaca, o coração tem dificuldades para bombear o sangue para o restante do corpo e, como consequência, líquidos tendem a se acumular em algumas regiões do organismo, caso dos pulmões.
É o que chamamos no jargão médico de edema pulmonar. Os alvéolos ficam cheios de líquido e não conseguem fazer a tal da troca gasosa. Aí o indivíduo fica com dificuldade para respirar e oxigenar direito o sangue.
No exemplo que dei, a causa do problema não se encontra no pulmão, mas no coração. Assim, o tratamento precisa compensar a insuficiência cardíaca. Com os medicamentos certos, conseguimos fazer isso e reduzir o volume de líquido nos alvéolos, que passam a ficar cheios de ar novamente. Ponto para a respiração!
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A água no pulmão também ocorre quando outra estrutura que fica no tórax acumula líquido: a pleura. O que é isso? A pleura é uma membrana dupla que recobre os pulmões e tem papel importante nos movimentos respiratórios.
Normalmente, existe uma pressão negativa nesse espaço entre as membranas, com um mínimo de líquido que serve para impedir o atrito entre elas no inspirar e expirar da respiração. Só que algumas doenças rompem esse equilíbrio, fazendo com que uma maior quantidade de líquido se concentre no espaço das pleuras. Aí a “água nos pulmões” é fruto do que chamamos de derrame pleural.
Uma porção de problemas pode provocar esse quadro: infecções, câncer, sangramentos, insuficiência renal, doenças reumatológicas… E cada uma pede um tratamento completamente diferente.
Como vocês podem perceber, para tratar um edema pulmonar ou derrame pleural precisamos saber o que está causando o acúmulo de líquido, e uma das formas de apurar isso é investigando uma amostra desse material aquoso.
Para tanto, fazemos uma punção para extrair um pouco do líquido (o nome técnico do procedimento é toracocentese). Essa amostra é enviada para análise em laboratório e, com o laudo, temos mais dados para esclarecer por que se acumulou água no pulmão.
Embora muitos fiquem assustadíssimos ao ouvir a palavra “punção”, devo dizer que é um procedimento simples, rápido e praticamente indolor (se necessário, recorremos a uma anestesia local). Para ficar fácil de entender, pense numa injeção ao contrário: em vez de a agulha e a seringa levarem algo para o corpo, elas aspiram algo dali.
Com a informação do que está causando o depósito de líquido no pulmão (e outros exames podem ser requisitados), partimos para o tratamento correto: antibiótico, se for uma infecção; diuréticos, se houver insuficiência cardíaca; anticoagulantes, e assim por diante.
Quando o volume de líquido na pleura é grande, precisamos retirar uma quantidade maior para aliviar a situação enquanto os medicamentos fazem efeito. E dá para fazer isso no hospital.
Daria para escrever um livro só com as causas de “água no pulmão”, mas espero que você tenha captado o conceito geral. Em resumo, pulmão é lugar de ar, não de água. E é bom ter isso em mente, pois respirar é preciso.