Alguns animais podem pegar coronavírus. Mas o que isso significa?
Novos estudos mostram quais animais podem contrair o vírus, ainda que muitos não fiquem doentes nem o transmitam aos humanos
Muitas pesquisas sobre o novo coronavírus têm sido desenvolvidas e publicadas nos periódicos científicos internacionais nos últimos meses. E não apenas sobre o impacto da infecção na saúde humana. Estudos sobre a incidência e a repercussão nos animais também estão em curso. Então, o que se sabe até o momento?
Como já relatei em uma coluna do Pet Saudável, gatos e outros felinos parecem ser mais suscetíveis à infecção pelo vírus porque possuem o receptor ECA2 (responsável pela entrada do patógeno na célula) mais parecido com o do homem. O mesmo ocorre com os ferrets (furões).
Mais recentemente, um grupo de pesquisadores constatou a presença do coronavírus em visons em fazendas de criação desses animais na Holanda e em 24 felinos no mesmo local.
Um experimento laboratorial demonstrou, mais uma vez, que o vírus Sars-CoV-2 replica com maior facilidade em gatos. E um estudo publicado na respeitada revista médica The New England Journal of Medicine observou que gatos inoculados com o agente infeccioso em laboratório contraíram o vírus, passando para os demais felinos com os quais tiveram contato. A pesquisa comprova, assim, a maior suscetibilidade dos felinos à infecção.
É importante esclarecer que não existe, até o momento, relato de que um animal de estimação, felino ou não, tenha transmitido o coronavírus para humanos.
No caso das fazendas holandesas de visons, a situação é peculiar porque são lugares com alta concentração de animais e que não mimetizam o ambiente de contato em casa entre um bicho de estimação e seu tutor.
Nessas fazendas ainda se encontram em investigação quatro funcionários diagnosticados com Sars-CoV-2. Ao que tudo indica, parece que essas pessoas podem ser os primeiros casos de infectados devido ao contato com animais, visto que a análise genética do vírus mostra semelhança com o dos visons e não com o tipo que circula entre a população da Holanda.
Mas ainda não há veredicto e pretendo atualizar vocês em breve por aqui.
Vale ponderar que os relatos de infecção natural por coronavírus nos pets são raros por ora e a presença do vírus não significa que ele ficará doente. Até o momento, foram notificados nove gatos nessa situação em todo o mundo (Bélgica, China, Estados Unidos, França, Espanha, Alemanha, Holanda e Rússia).
Continua-se a observar que cães são menos sujeitos ao vírus. Tivemos até agora dois relatos de cachorros com a infecção natural, ambos na China. Mais recentemente, o governo americano anunciou a confirmação de um pastor alemão com o coronavírus, como VEJA contou.
Somam-se a eles os episódios registrados com cinco tigres e três leões no zoológico de Nova York, nos Estados Unidos.
Precisamos esclarecer que há uma grande diferença entre pegar a infecção no ambiente real e dentro de um experimento de laboratório. Pelos estudos em que se inoculou o coronavírus em animais, já se sabe que, nesses modelos experimentais, podem contrair o patógeno, além de felinos e ferrets, hamsters, coelhos, macacos-rhesus, macacos-cinomolgos, macacos-verdes-africanos, saguis e morcegos-das-frutas. Já os porcos e camundongos não foram infectados.
De novo: no mundo inteiro não se tem notícia da transmissão de animais de companhia para humanos.
Só com o passar do tempo e mais estudos teremos informações precisas sobre a evolução da doença nos animais e conseguiremos entender melhor o comportamento do vírus entre as espécies. Dessa forma, persiste a recomendação de lavar as mãos antes e depois do contato com o pet e respeitar as regras de isolamento social, que também valem para eles.
No caso dos cães habituados a fazer as necessidades nas ruas, procure sair apenas para essa finalidade. Em relação aos gatos, evite saídas por aí e busque colocar telas nos ambientes para impedir escapadas.
Se alguma pessoa da família testou positivo para o coronavírus, só deve manipular o animal com proteção de luvas e máscara, ou utilizar álcool em gel antes e depois de mexer com o bicho. O ideal é pedir ajuda a algum amigo ou familiar para cuidar do pet até a remissão da infecção para a maior proteção dele.
Enfatizo aqui que os pouquíssimos episódios de pets que tiveram coronavírus pegaram o patógeno de seres humanos — e não o contrário!
Portanto, não há razão alguma para deixar de ter animais como companhia, muito menos abandoná-los. A amizade continua importante para ambos os lados, ainda mais em tempos duros de pandemia.