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Trombose e a síndrome da classe econômica: risco negligenciado

Médica que pesquisa e dá aulas sobre o tema relata uma experiência pessoal que teve com a doença

Por Por Suely Meireles Rezende*
Atualizado em 23 dez 2020, 13h07 - Publicado em 13 out 2017, 06h00

Conhecer novos lugares, culturas diferentes… Enfim, enriquecer social e culturalmente. Viajar é uma maravilha. Mas, como em quase tudo na vida, o turismo também exige cuidados específicos para que as coisas corram conforme o planejado, inclusive em relação à saúde.

Senti um dos efeitos colaterais de uma viagem longa de avião na própria pele. Logo eu, que sou médica hematologista e trabalho na conscientização de pacientes e estudantes de medicina sobre os perigos da trombose, fui vítima de uma embolia pulmonar grave ao voltar de Lisboa. Mal desembarquei da aeronave e tive de ser socorrida pela equipe do Aeroporto Internacional de Guarulhos.

A embolia pulmonar é uma das manifestações da trombose venosa que mais trazem risco à vida. Ela ocorre quando um coágulo, geralmente formado nas veias dos membros inferiores, se desprende e se aloja nos vasos pulmonares, obstruindo-os.

A imobilização prolongada das pernas, a posição sentada e o aperto provocado pelos assentos de avião fazem o sangue nas veias dos membros inferiores estagnarem. E essa alteração no fluxo sanguíneo é tida como a principal causa da trombose venosa. Aliás, a tal trombose venosa, quando relacionada à viagem, é conhecida como “síndrome da classe econômica”.

Esse quadro é pouco falado no Brasil – e aí que reside o perigo. Um estudo prospectivo observacional publicado em 2008 calculou que o risco de embolia pulmonar grave imediatamente após um voo aumenta com a duração da viagem e varia de zero em voos com duração inferior a três horas a 4,8 eventos por milhão em viagens com duração acima de 12 horas.

O 13 de outubro é o Dia Mundial da Trombose e temos que aproveitar a data para falar sobre os problemas decorrentes da doença e conscientizar a população. Especificamente no caso da síndrome da classe econômica, a maioria das companhias aéreas internacionais inclui, em sua revista de bordo ou em vídeo, orientações a respeito da prevenção da trombose venosa. Estou falando de recomendações de exercícios que devem ser feitos durante a viagem, do estímulo à ingestão de líquidos. Só não vale bebidas alcoólicas, que causam justamente o efeito contrário.

Infelizmente, no Brasil nenhuma das companhias aéreas nacionais com trajetos acima de quatro horas apresentam em qualquer local informação similar. Além disso, ao menos em minha experiência pessoal, a equipe médica de atendimento do aeroporto não se mostrou preparada para considerar o diagnóstico e muito menos para conduzir um tratamento adequado.

Foi meu conhecimento médico que me permitiu analisar o quadro e organizar a minha própria remoção para um hospital local, onde foi confirmado o diagnóstico e iniciado o tratamento. Aqui é importante lembrar que o serviço médico da operadora aeroportuária estatal está incluso na taxa de embarque, que é paga por todos os passageiros.

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Esta é uma situação particularmente preocupante, tendo em vista o incremento do número de passageiros em viagens aéreas internacionais. De acordo com dados do Ministério do Turismo, mais de 10 milhões de passageiros desembarcaram de voos internacionais no Brasil em 2016. Baseados nessa informação, temos uma dimensão de quantas pessoas podem ter desenvolvido trombose venosa sintomática, embolia pulmonar grave e embolia pulmonar fatal imediatamente após o voo.

É fundamental que, no Dia Mundial da Trombose, disseminemos ao máximo essas informações para que os nossos representantes na esfera legislativa atentem para a situação e trabalhem em um projeto de lei que torne obrigatória a inclusão das informações de prevenção e tratamento desse problema em voos de duração superior a quatro horas.

Também é urgente a necessidade de capacitação das equipes médicas dos aeroportos para o pronto atendimento e diagnóstico das diversas manifestações da trombose venosa, em especial da embolia pulmonar. De novo, estamos falando de uma condição potencialmente fatal.

Dessa maneira, todos teremos a garantia de que as únicas recordações de nossas viagens serão as felizes.

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*Médica hematologista, PhD em Hematologia pelo Imperial College London, Universidade de Londres e pós-doutora em Epidemiologia Clínica pela Universidade de Leiden, Países Baixos.
Professora associada da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
Membro do Conselho Diretor da International Society of Thrombosis and Haemostasis (ISTH) e coordenadora do ISTH Regional Training Center em Belo Horizonte. 

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