Assine VEJA SAÚDE por R$2,00/semana
Imagem Blog

Com a Palavra Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

Será que eu estou roncando?

Médico discute a dificuldade de diagnosticar e tratar a apneia obstrutiva do sono, que pode causar roncos poderosos, assim por dizer

Por Geraldo Lorenzi Filho, pneumologista especialista em sono*
Atualizado em 20 ago 2020, 19h30 - Publicado em 20 ago 2020, 14h10

Podemos dividir uma investigação médica em sintomas e sinais. Sintoma é tudo que o paciente relata ao médico. Sinal é tudo que o médico observa no paciente — por exemplo, uma vermelhidão nas amígdalas que indica uma inflamação. O ronco não é nem um nem outro.

Não é sintoma, porque quem ronca não sabe que está roncando. E não é sinal, porque a pessoa (via de regra) não dorme durante uma avaliação médica. Costumo dizer que o ronco é uma reclamação de uma terceira pessoa, em geral o cônjuge que está acompanhando a consulta. Resultado: o ronco é frequentemente negado ou mal percebido.

De fato, o ronco está no ouvido de quem ouve. Quem já teve uma noite de insônia e ficou incomodado com o tique-taque de um relógio sabe que os sons corriqueiros podem se tornar ensurdecedores na calada da noite. A natureza foi muito cruel com os casais, porque os homens tendem a roncar, enquanto as mulheres sofrem mais com insônia. Colocar os dois problemas para dormirem juntos não me parece uma boa ideia.

Mas como surge o ronco? Ele é decorrente da vibração da musculatura da garganta, um sinal de que o relaxamento natural durante o sono causou obstrução parcial da passagem de ar. Além do barulho desagradável que dificulta o convívio social, o ronco pode indicar algo comum e mais grave: a apneia obstrutiva do sono.

A apneia é causada pela obstrução completa da faringe em alguns momentos durante o sono. Como a passagem de ar fica comprometida, o paciente passa a fazer esforço progressivo para respirar, mas sem qualquer resultado. Ele só sai dessa encrenca com um micro despertar, que é um recurso do organismo para restabelecer o tônus da via aérea superior. Isso libera a fluxo de ar e provoca um ronco alto e ressuscitativo. O micro despertar, até por ser curto, não é percebido pelo indivíduo.

Esse ciclo pode se repetir centenas de vezes. Ou seja, enquanto a maioria das pessoas descansa no período noturno, o paciente com apneia trava uma luta extenuante sem sequer notar isso.

Continua após a publicidade

As consequências da apneia do sono são múltiplas: sonolência excessiva diurna, cansaço, dificuldade de concentração e de memória, sintomas depressivos e até maior risco de doença cardiovascular.

Esse problema é tremendamente comum. Em um estudo feito com mais de 1 mil adultos representativos da cidade de São Paulo submetidos à polissonografia (aquele exame que você passa a noite monitorizado), chegou-se à conclusão que cerca de um terço tem apneia do sono. Entre os pacientes com doença cardiovascular já estabelecida (hipertensão arterial ou arritmia cardíaca, por exemplo), essa cifra pode chegar a 50%.

Atenção: a apneia do sono tem tratamento. Muitas vezes, ele envolve questões comportamentais, como dormir de lado (a língua tende a cair para baixo, fechando a faringe, quando você repousa de barriga para cima) e perder peso. Pois é: a deposição de gordura na língua e na faringe, uma consequência da obesidade, contribui para a obstrução da passagem de ar.

Mas o tratamento também pode incluir cirurgias, o uso de placas móveis na boca durante o sono… e o famoso CPAP (sigla em inglês para continuous positive airway pressure). Trata-se de uma máscara ligada a um compressor que abre a garganta enquanto você dorme.

Continua após a publicidade

Infelizmente, a maior parte das pessoas com apneia obstrutiva do sono no Brasil e no mundo segue sem saber que tem a doença. A boa notícia é que sistema simplificados de diagnóstico foram validados por estudos clínicos — hoje, uma parcela considerável dos pacientes consegue descobrir a presença desse problema no conforto do seu lar.

Em tempos de coronavírus, o cuidado deve ser redobrado. Um estudo italiano, por exemplo, constatou que 48,6% dos mais de 3500 indivíduos analisados ganharam peso durante a pandemia. Como o sedentarismo e a obesidade são dois fatores de risco para apneia do sono, é bom ficar de olhos e ouvidos atentos. Se alguém falar que você está roncando, acredite — e preste atenção nos sintomas que mencionei antes.

É hora de maneirar na alimentação e fazer mais atividade física. Ninguém merece dormir mal.

*Geraldo Lorenzi é professor de Pneumologia da FMUSP e diretor do Laboratório do Sono do InCor

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.