Queda de cabelo pode estar associada à pandemia de Covid-19
Tanto a infecção pelo coronavírus como uma alimentação desequilibrada e o estado emocional abalado prejudicam a saúde dos fios, alerta dermatologista
A queda de cabelo é uma das queixas mais frequentes no consultório dermatológico. E ela tem se tornado ainda mais comum neste momento da pandemia de Covid-19. O principal diagnóstico é o chamado eflúvio telógeno, nome que se dá ao encurtamento do ciclo de vida dos cabelos.
O fio tem três fases: anágena (fio em crescimento), catágena (fio maduro ainda no folículo) e telógena (fio em queda já destacado do folículo). A maioria dos fios está em fase de crescimento no couro cabeludo. O tal eflúvio telógeno ocorre quando, por alguma razão, os fios que deveriam estar em fase de crescimento pulam para a fase de queda.
Naturalmente, há uma queda fisiológica de fios, que pode ser de até cem deles por dia. Se você notar uma queda significativa e a diminuição do volume dos cabelos, deve investigar o que está acontecendo com um especialista. Inclusive agora na pandemia, quando temos razões a mais que podem estar por trás.
No cenário atual, a queda de cabelo pode até estar diretamente relacionada à infecção pelo coronavírus e ao estado de pós-Covid. Sabemos que a Covid-19 gera uma infinidade de complicações, entre pulmonares, cardíacas e dermatológicas. E também sabemos que a perda de cabelos é um fenômeno bem descrito após qualquer estresse fisiológico mais intenso.
Embora não tenhamos ainda um estudo científico de causa e efeito para a nova doença, situações de infecção e alta inflamação são comumente ligadas ao eflúvio telógeno, geralmente cerca de três meses depois do adoecimento.
Na pandemia, o bem-estar mental dos pacientes também está mais abalado. Muitas pessoas vivenciaram estresse e uma situação traumática de luto com a Covid-19. E está bem documentado que a tensão e a tristeza desencadeadas por esses momentos alteram o ciclo sono-vigília e os hábitos em geral, um contexto que acentua a queda de cabelo.
Por fim, dados indicam que não são poucos os brasileiros que mudaram seu padrão alimentar com a crise da Covid-19. O alerta aqui se deve ao fato de que dietas restritivas ou desequilibradas podem comprometer a obtenção de energia e o funcionamento do organismo, afetando a nutrição e a oxigenação de tecidos como pele e cabelo. Não é à toa que um dos principais sintomas de uma alimentação deficitária é a queda dos fios.
Pesquisas mostram que, com relação à nutrição, anemia e deficiência de zinco, vitamina B12 e vitamina D podem ser causas de eflúvio telógeno. E que o excesso de açúcar na dieta também prejudica a saúde dos folículos capilares, aumentando o risco dessa condição.
O que fazer diante disso tudo? Embora o eflúvio seja um quadro temporário, pode ser angustiante. Em primeiro lugar, recomendamos uma nutrição adequada, especialmente com alimentos ricos em proteínas, vitaminas e minerais. Alguns suplementos, quando bem indicados, podem ajudar a restaurar a integridade do cabelo e atenuar a queda.
Cuidar do estado emocional e, nos casos de Covid-19, receber toda a assistência médica necessária também são medidas fundamentais para manter a saúde (e os fios) em paz. O eflúvio telógeno é uma condição indolor, que vem sem outros sintomas, como coceira e descamação. No entanto, a melhor forma de identificá-lo e tratá-lo é com a ajuda de um dermatologista.
* Daniel Cassiano é dermatologista, professor da Universidade São Camilo, em São Paulo, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e cofundador da clínica GRU Saúde, em Guarulhos