Quando as redes sociais fazem bem à saúde
Facebook, Instagram e outras plataformas trazem desafios para o bem-estar emocional, mas também podem contribuir, dependendo de como forem usadas
Nos últimos anos, as redes sociais (Facebook, Instagram…) ganharam usuários interessados em algo que vai além do compartilhamento de opiniões ou fotos de pratos e viagens. Pessoas com deficiências ou doenças crônicas, bem como seus familiares, encontraram ali um meio de se conectar com indivíduos em situações parecidas, criando extensas e sólidas comunidades online que, não raro, extrapolam os limites virtuais.
É esse o caso da rede “As Fissuradas”, idealizada por Luiza Pannunzzio, mãe de Bento, um menino nascido com fissura labiopalatina – malformação que pode ocasionar uma separação no lábio e no céu da boca da criança. Criada no Facebook, a comunidade reúne histórias e fotos de pessoas nascidas com a condição e tem entre seus objetivos a diminuição do estigma e a troca de conhecimento e experiências.
Além dos familiares, a rede conta com o suporte de profissionais de saúde especializados, que contribuem com a publicação de textos informativos. Regularmente, realiza encontros presenciais para que as crianças e as famílias se conheçam, entre outras ações voltadas à causa, como a encenação em hospitais de uma peça teatral baseada na história do filho de Luiza. Todas as atividades são possíveis graças ao incentivo e à colaboração, por vezes financeira, dos membros da comunidade.
Exemplos como esse mostram que, se bem utilizadas, mídias sociais interativas podem ser aliadas na promoção da qualidade de vida. A ciência já constatou, no entanto, que pessoas com sintomas depressivos podem abusar desses meios na tentativa de aliviar sua angústia. Por outro lado, a possibilidade de anonimato parece propiciar que os indivíduos sintam-se mais à vontade para compartilhar suas aflições – não só diante de uma doença mas também de outros desafios.
Hoje, ferramentas de extração de dados servem para indicar os termos mais recorrentes nas postagens em grupos previamente selecionados e também padrões de construção de frases. Com essa estratégia é possível, entre outras coisas, identificar ideações suicidas, permitindo que se ofereça ao usuário o aconselhamento em tempo real, de forma a evitar a tentativa de suicídio.
E assim caminha a pesquisa sobre a interface entre a saúde e o computador: unindo pacientes, especialistas e áreas do conhecimento, sem ignorar os riscos do uso em excesso, mas aceitando que, mais do que um hábito, participar de uma comunidade digital pode ser uma prática social positiva.
*Silvana Schultze é jornalista e pesquisadora na área de Comunicação em Saúde. Tem mestrado pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e é doutoranda em ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP