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Pílula e trombose: qual a relação?

Médicos explicam o que há de verdade sobre o temor de que anticoncepcionais provoquem o problema

Por Dr. José Luna Filho e Dr. Ricardo Augusto de Almeida Correia, cirurgiões vasculares*
Atualizado em 23 dez 2020, 13h06 - Publicado em 19 abr 2018, 14h09
pílula contraceptiva oral trombose
Antes de usar a pílula, é preciso avaliar a presença de fatores de risco associados à trombose (Foto: Dercílio/SAÚDE é Vital)
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Desenvolvidos para evitar a gravidez, os contraceptivos orais não estão, a exemplo de qualquer outra medicação, isentos de efeitos colaterais. Dentre eles, a trombose, ainda que rara nesse contexto, é o evento mais temido. A trombose é caracterizada pela obstrução parcial ou total de veias ou artérias por coágulos sanguíneos (os trombos) em determinada região do corpo.

Em 90% dos casos as veias das pernas é que são afetadas, gerando sintomas como dor e inchaço. Entre as reações adversas mais graves da pílula também são relatados quadros de infarto e acidente vascular cerebral. Novamente, falamos de complicações raras. O período de maior vigilância, contudo, engloba os seis primeiros meses de uso do anticoncepcional, quando estatisticamente esses problemas apresentam maior incidência.

As pílulas são constituídas de hormônios sexuais femininos que possuem não só a capacidade de inibir a ovulação — daí o efeito contraceptivo — mas também a de induzir alterações no sistema de coagulação do sangue. Na prática, o que acontece é o aumento de substâncias e fatores pró-coagulação acompanhado da redução dos nossos anticoagulantes naturais.

Pesquisas ao longo dos anos vêm esmiuçando a ligação dos hormônios da pílula — especialmente a combinação de etinilestradiol e progestagênio, base da maior parte das formulações — com a probabilidade de sofrer uma trombose. Sabe-se hoje que os contraceptivos com dosagem reduzida oferecem menor risco nesse sentido.

Estudos revelam que mulheres em uso de pílulas com dosagens acima de 0,05 mg de etinilestradiol ou estradiol (derivados do estrogênio) apresentam um risco trombótico até dez vezes maior quando comparadas às não usuárias. Calcula-se que isso represente o dobro da possibilidade de ocorrência de uma trombose na comparação com as formulações com doses menores do hormônio.

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Em relação aos métodos contraceptivos que contêm apenas progesterona, observou-se no decorrer das análises que o levonorgestrel presente nos anticoncepcionais de segunda geração seria o que apresenta menor risco. Quando usado isoladamente, esse hormônio afeta de forma mínima o sistema de coagulação, de modo que não traria risco considerável para trombose. Ainda assim, vale notar que há uma diminuição do efeito contraceptivo.

O mais importante na hora de prescrever ou contraindicar essas medicações é avaliar a presença de fatores associados à trombose: obesidade, diabetes, câncer, tabagismo, sedentarismo, idade acima de 40 anos, varizes, alterações genéticas ou adquiridas na coagulação e histórico pessoal e familiar de eventos trombóticos.

A contracepção hormonal de hoje é segura e apresenta riscos menores para trombose até mesmo quando comparada a situações fisiológicas como a gestação e o período pós-parto. No entanto, seu uso deve ser individualizado e decidido e acompanhado junto a um médico.

* Dr. José Luna Filho e Dr. Ricardo Augusto de Almeida Correia são cirurgiões vasculares e membros da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular

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