Assine VEJA SAÚDE por R$2,00/semana
Imagem Blog

Com a Palavra Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

O sono em tempos de coronavírus

A pandemia de Covid-19 mexe com a rotina e causa ansiedade, o que não faz bem para o sono. Um expert traz dicas para voltar a dormir bem

Por Geraldo Lorenzi Filho, pneumologista especialista em sono*
Atualizado em 17 jul 2020, 12h22 - Publicado em 17 jul 2020, 09h49

Às vezes, nos perguntamos se tudo que estamos passando com o novo coronavírus (Sars-CoV-2) não passa de um pesadelo. De repente, sem pedir licença, chega um inimigo invisível que não fala uma única palavra, mas trava a ciranda de nossas vidas frenéticas.

As ruas desertas são testemunha de que perdemos o chão. Fomos privados do convívio no trabalho, do abraço dos amigos, do happy hour de sexta feira. E tamanha limitação veio temperada com medo e ansiedade, frente a possibilidade real de contágio. Nessa brecada brusca, temos medo de sair voando e nos espatifar numa UTI, perder algum ente querido, perder o emprego. A nossa rotina está de pernas para o ar — e ficar em casa o dia todo também não é fácil.

E o sono com isso? Bom, eu posso compará-lo a uma biruta. Em tempos calmos, ela fica sossegada. Mas os ventos que anunciam uma tempestade a fazem girar freneticamente. Nesses momentos mais revoltos da nossa vida, é possível que o sono fique agitado, ou mesmo nos abandone.

Nessas horas, muitas dicas podem ajudar. Nada de avançar noite adentro assistindo a séries na tevê, por exemplo. Trocar o dia pela noite é um convite para o desalento e a depressão. Já a exposição a luz solar e os exercícios físicos são fundamentais.

Para evitar a dificuldade de adormecer, precisamos retomar o controle da rotina, que talvez esteja bagunçada nessa hora de pandemia. Devemos formar horários para dormir, acordar, trabalhar, comer e praticar atividade física.

Evite acampar na cama o dia todo, levando computador, celular, trabalho e comida. A cama foi feita para dormir e fazer amor. Acordou, saia da cama, arrume a cama, tire o pijama — mesmo se não tiver nada para fazer. O ideal é ficar longe de eletrônicos uma hora antes de dormir.

Continua após a publicidade

Outro ponto importante: ficar na cama no meio da noite remoendo problemas é uma armadilha. Não conseguiu dormir depois de 20 a 30 minutos? Levante-se e vá ler algo leve. Quem sabe em meia hora o sono vem e aí você volta para a cama. O sono é uma entrega: se estivermos ansiosos, preocupados ou com os horários totalmente malucos, corremos o risco de ficar girando na cama, lembrando aqueles frangos de padaria.

A ciência tem mostrado que o sono é muito mais do que um momento de descanso. Ele é fundamental para a fixação da memória, a eliminação de toxinas acumuladas no cérebro durante o dia e o processamento das emoções. O repouso noturno não é um momento passivo, mas ativamente programado, com fases e funções distintas. Durante a fase de sono REM (Rapid Eye Movement), movimentamos os olhos indicando que estamos tendo sonhos visuais. O cérebro está ativo enquanto o corpo fica totalmente relaxado. É como se a gente atuasse em um mundo virtual.

Mas o que sonhamos? Cerca de 90% dos sonhos são um repasse do que aconteceu durante o dia, só que de forma desorganizada e cheia de associações malucas. Nos sonhos, os pensamentos se tornam realidade com grande conteúdo emocional.

E sim: todos sonhamos, pois a fase REM representa de 20% a 25% da noite. A verdade é que, no geral, lembramos pouco dos sonhos (e isso não tem necessariamente um significado). É provável que os sonhos sirvam como uma limpeza, ajudando na dissipação das emoções.

Continua após a publicidade

A psiquiatra e neurocientista Natalia Mota, trabalhando com o grupo do professor Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade do Rio Grande do Norte, estava estudando o conteúdo dos sonhos das pessoas antes da chegada do coronavírus. Ela seguiu com suas pesquisas e, no primeiro mês de pandemia, notou um aumento de conteúdos relacionados a medo, contaminação e limpeza.

Aliás, o medo de contaminação não aparece só nos sonhos. Ele se materializou naquela corrida inicial e meio sem sentido por papel higiênico. Ou na obsessão de alguns de passar mais um pouquinho de álcool em gel nas mãos.

Outra forma de enfrentar o medo e de se eximir de nossa responsabilidade na pandemia é aderir à tribo dos que “não estão nem aí” ou que simplesmente negam a realidade. É no mínimo curioso ver alguém tentando sustentar a hipótese de que o mundo todo parou por obra da mídia. Enquanto isso, o número sem precedentes de profissionais de saúde gravemente doentes brilha como a luz do dia. Segundo dados de junho do Ministério da Saúde, 168 profissionais morreram por causa do novo coronavírus no Brasil. E olha o sono aqui de novo: uma pesquisa realizada na China mostra que mais de um terço dos médicos envolvidos no atendimento aos pacientes com Covid-19 sofrem com sintomas de insônia.

A boa notícia é que estamos começando a flexibilizar nossa eterna quarentena. Mas alto lá! Não descuide do sono. Nada de aproveitar para fazer tudo que não conseguiu nos últimos três meses. Respeite o distanciamento e respeite também o seu sono. O ato de dormir pouco está associado a cansaço, sonolência, perda de concentração e memória, obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Ninguém merece enfrentar mais esses problemas em um período que já é muito desafiador.

*Geraldo Lorenzi é professor de Pneumologia da FMUSP e diretor do Laboratório do Sono do InCor

Continua após a publicidade
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.