Assine VEJA SAÚDE por R$2,00/semana
Imagem Blog

Com a Palavra Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO

Por Blog
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

Estamos mesmo livres da poliomielite?

Médico da Sociedade Brasileira de Infectologia discute por que há um risco real de a pólio voltar, ameaçando crianças e adultos brasileiros

Por Dr. Leonardo Weissmann, infectologista*
12 nov 2019, 12h08

No início do século 20, a poliomielite, também chamada de pólio, era uma das doenças mais temidas nos países industrializados, paralisando centenas de milhares de crianças todos os anos. Logo após a introdução de vacinas eficazes nas décadas de 1950 e 1960, o problema foi controlado e praticamente eliminado enquanto desafio de saúde pública.

Enquanto isso, nos países em desenvolvimento, somente na década de 1970 a doença foi reconhecida como uma grande ameaça. Em 1988, por sua vez, foi lançada a Iniciativa Global de Erradicação da Pólio na 41ª Assembleia Mundial da Saúde, encabeçada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Rotary International, Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e governos nacionais, além de apoio de parceiros-chave como a Fundação Bill & Melinda Gates. Naquele momento, eram registrados aproximadamente 350 mil casos anuais da doença (quase mil casos por dia) em 125 países.

Desde então, o número de casos caiu mais de 99%, graças à ação de milhões de voluntários e o investimento de mais de 17 bilhões de dólares. Em 2018, apenas 33 casos da doença foram notificados em dois países: Afeganistão e Paquistão. No Brasil, o último caso de poliomielite ocorreu em 1989, na cidade de Sousa, na Paraíba. A vacinação está por trás desse êxito.

Um vírus nas sombras

A poliomielite é uma doença contagiosa, provocada por um vírus, que é geralmente contraído pela ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes de doentes ou portadores do vírus, ou, ainda, transmitido de pessoa a pessoa por meio de gotículas durante a fala, tosse ou espirro. Em 90 a 95% dos casos, a infecção pelo vírus não produz sintomas. Aproximadamente 5% dos infectados apresentam manifestações inespecíficas, como febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, tosse, coriza, vômitos, dor abdominal ou diarreia.

Uma em cada 200 infecções leva à paralisia irreversível, normalmente nas pernas. Entre os acometidos, 5% a 10% morrem quando há paralisia dos músculos respiratórios. Embora ocorra com maior frequência em crianças menores de 5 anos de idade, com suas defesas ainda em desenvolvimento — daí a doença também ser conhecida como paralisia infantil —, a poliomielite pode atacar adultos que não foram imunizados.

Continua após a publicidade

Existem três sorotipos do poliovírus, o agente responsável pela pólio: 1, 2 e 3. Os dois últimos foram declarados erradicados, mas ainda temos que enfrentar o sorotipo 1. Vale lembrar que a varíola é a única doença infecciosa que já foi erradicada — a poliomielite poderia ser a segunda.

Entretanto, enquanto não eliminarmos o vírus completamente, o risco permanece. Uma pessoa infectada pelo vírus, não obrigatoriamente doente, pode viajar para o Brasil, infectar uma pessoa suscetível e desencadear novos casos. É por isso que precisamos manter as campanhas de vacinação.

Quem deve se vacinar

Não há tratamento específico nem cura para a poliomielite. Mas há prevenção, por meio de uma vacina fornecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Todas as crianças menores de 5 anos devem ser imunizadas, conforme esquema de vacinação de rotina e na campanha nacional anual.

Desde 2016, o esquema vacinal contra a poliomielite passou a ser de três doses da vacina injetável, com vírus inativados, aos 2, 4 e 6 meses de idade, e mais duas doses de reforço com a vacina oral (gotinha), com vírus atenuados, entre 15 e 18 meses e entre 4 e 5 anos de idade.

Não deve tomar a vacina injetável somente quem teve reação alérgica grave à dose anterior ou a algum de seus componentes. Quanto à vacina oral, não devem recebê-la crianças com histórico de paralisia flácida associada à vacina, crianças em contato hospitalar ou domiciliar com pessoa imunodeprimida, crianças com hipersensibilidade conhecida a algum componente da vacina, crianças imunodeprimidas ou internadas em unidades de terapia intensiva (UTI).

Continua após a publicidade

Contudo, a vacinação contra a pólio no Brasil vive um momento preocupante. A meta de cobertura vacinal recomendada pela OMS é de 95%. Mas, segundo dados do Ministério da Saúde, o país não atinge 90% desde 2016. Em 2019, a cobertura é de aproximadamente 51% (entre janeiro e outubro).

Vários fatores estão contribuindo para que isso aconteça, como a falsa percepção de que a doença não existe mais, o desconhecimento, o medo de que as vacinas sobrecarreguem o sistema imune, as notícias falsas (fake news) e a falta de tempo dos pais para levar as crianças às unidades de saúde.

Precisamos ficar atentos! O Brasil perdeu o certificado de erradicação do sarampo três anos depois de recebê-lo, devido a uma baixa cobertura vacinal e ao fato de não conseguir controlar mais a transmissão do vírus. Não à toa estamos vivendo um surto dessa doença.

O mesmo pode acontecer com a poliomielite. Vacinas são seguras e importantes. Devemos nos proteger e defender nossas crianças. Afinal, ainda não estamos totalmente livres desse mal.

* Dr. Leonardo Weissmann é médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

A saúde está mudando. O tempo todo.

Acompanhe por VEJA SAÚDE.

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.