Envelhecimento pós-Covid: como ficam os idosos que tiveram a infecção?
Sequelas do coronavírus são comuns entre idosos que venceram a Covid-19. Nossa colunista aborda a importância de atenuar e reverter os estragos
Já ouviram aquela expressão “só acaba quando termina”? Talvez, para quem é amante de jogos de futebol, ela se aplique como uma luva. Afinal, significa que a partida só é definida nos 45 do segundo tempo (ou nos acréscimos). Enquanto a bola está em campo, tudo pode acontecer.
Mas, se transpormos essa ideia para o universo dos pacientes que travaram batalha contra a Covid-19 e venceram a infecção, será que ela se aplica? Em outras palavras: a doença “acaba quando termina” mesmo?
Temos celebrado a vitória de cada idoso que deixa a UTI após a alta. Sem dúvida, é um sopro de esperança. Mas o que acontece quando eles cruzam a porta de saída do hospital? Há consequências? Para muitos desses idosos, a vida jamais será a mesma após cruzarem seus caminhos com o vírus Sars-CoV-2.
Estudos vêm demonstrando que, quanto mais avançada a idade e debilitado o organismo, maior a propensão a sequelas da infecção pelo coronavírus. Maior o risco de desenvolver o que se chama de síndrome pós-Covid.
O quadro abrange impactos sobretudo na função respiratória e motora. Muito tempo internado, com o corpo lutando com o vírus, a inflamação e outras complicações, pode abrir caminho à fibrose muscular, situação que costuma vir acompanhada de dificuldade para respirar e se locomover e, às vezes, é seguida por uma insuficiência cardíaca.
Não são raros os relatos de pacientes que saem da Covid-19 com fadiga crônica, dor no peito, problemas respiratórios… Sem falar na saúde mental, fragilizada com o medo da doença e a necessidade do isolamento social.
Pesquisa realizada em países europeus, como a Itália, aponta que 87% dos pacientes apresentaram a persistência de pelo menos um dos sintomas da Covid-19. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano estima que um em cada três infectados pode desenvolver algum problema crônico decorrente do coronavírus.
Temos dados nacionais recentes, do estudo Coalizão Covid Brasil, grupo formado pela aliança de oito hospitais, mostrando que, por aqui, 25% dos pacientes que passaram por uma UTI e foram entubados morreram seis meses depois de sair do hospital. Sim, a Covid-19 pode ter árduas consequências.
Minimizando e revertendo estragos
Como podemos reduzir esses índices e ajudar a reverter a situação? Acredito que a palavra de ordem é reabilitação. É preciso ter em mente que, para o idoso e sobretudo para aquele que já apresentava comorbidades, a infecção tem potencial limitante. Idosos que sobrevivem à Covid-19 estão mais sujeitos a várias situações de fragilidade — da dificuldade respiratória ao maior risco de quedas e fraturas.
Precisamos promover medidas de intervenção de reabilitação respiratória a fim de otimizar o prognóstico do paciente e preservar sua capacidade funcional, melhorando sua qualidade de vida e contribuindo para que ele de fato possa ter motivos para comemorar a alta hospitalar. Não dá para deixarmos esses idosos à própria sorte.
Tampouco dá para concordar com aqueles que pensam que “é a lei da vida, quando velhos, morreremos de uma maneira ou outra”. Quem somos nós para dizer que um idoso de 80 anos, sem ter deparado com a Covid-19, não poderia chegar aos 100?
A era da Covid tem nos transformado diariamente. Acredito que todos nós jamais seremos os mesmos ou encararemos o envelhecimento da mesma maneira que antes da pandemia. Essa experiência dura tem aberto os olhos do mundo para o fato de que, como qualquer outra pessoa, a vida do idoso importa.
E, com a vacinação e as medidas de reabilitação, podemos manter a esperança de que, no jogo da Covid-19, seremos capazes de vencer… e a pandemia irá acabar quando terminar. Com um final feliz!