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Café x Câncer

Estudos sugerem que o consumo diário ajuda a prevenir vários tipos de tumor. Na contramão existem indícios de que os fãs da bebida correriam maior risco de desenvolver a doença em alguns órgãos

Por Diogo Sponchiato
Atualizado em 28 out 2016, 08h41 - Publicado em 29 jul 2015, 09h53
Alex Silva
Alex Silva (/)
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Se estiver para tomar seu cafezinho… vá em frente. Não deixe ficar frio, por favor. Enquanto ele injeta energia em seus neurônios, você processa as informações, baseadas em uma nova safra de pesquisas, que vamos apresentar. Pois o café, há algum tempo, é alvo de experimentos em laboratório e análises populacionais. Já está comprovado que ele possui substâncias, caso da cafeína, que evitam danos às células – processo que culmina, entre outras doenças, no câncer. Em um estudo assinado pelo governo americano, englobando dados de mais de 400 mil pessoas, seu consumo foi associado a uma menor mortalidade por todas as causas. Só havia uma exceção: o câncer. Não é que o café piorava as coisas, mas… Começaram a pingar trabalhos focados na relação entre a ingestão da bebida e a incidência de tumores específicos. Fomos investigar. Aí descobrimos que, segundo essas evidências, pessoas que tomam café enfrentam menos câncer de mama, próstata, intestino… E, pelo contrário, a bebida elevaria o perigo no estômago, na bexiga… Confuso? Como um bom cafezinho, vamos ajudar a clarear as ideias.

Mamas

A evidência – O Estudo Europeu de Investigação Prospectiva em Câncer e Nutrição (Epic Study) analisou durante mais de uma década 335 060 mulheres de dez países e identificou que, entre aquelas que bebiam café com regularidade, a incidência de câncer de mama foi significativamente menor. O benefício, porém, foi observado apenas em casos da doença após a menopausa.

A conclusão – O levantamento só mostrou vantagem no cafezinho autêntico – o descafeinado não mudou a situação, nem pra pior nem pra melhor. O achado dos cientistas europeus corrobora constatações feitas em laboratório sobre a cafeína e outros ingredientes da bebida. “Esses fitoquímicos têm a capacidade de suprimir o processo de iniciação e progressão de diversos tipos de tumor”, conta a nutricionista Thainá Malhão, do Instituto Nacional de Câncer, o Inca.

Intestino

A evidência – As provas do papel protetor vêm tanto do Oriente como do Ocidente. No Centro Nacional do Câncer do Japão, o acompanhamento de 1 435 pessoas detectou que a ingestão frequente de café ajuda a evitar o surgimento de lesões precursoras de tumores nos confins do aparelho digestivo. Já um estudo do Instituto Nacional do Câncer americano tentou fazer uma apuração mais profunda: ao contrastar exames de sangue entre sujeitos com e sem câncer colorretal, os pesquisadores notaram que os indivíduos livres do problema apresentavam mais substratos derivados do café correndo pelas veias – indício de que a bebida estaria defendendo o organismo.

A conclusão – Claro que não adianta tomar baldes de café pensando em se blindar contra o câncer. Nunca é demais lembrar que a propensão ao mal é mediada pelos genes e outros hábitos. Mas umas xícaras por dia parecem ser realmente bem-vindas ao intestino. E a bioquímica já começa a decifrar. “A cafeína pode acelerar a passagem de substâncias cancerígenas pelo trato digestivo, reduzindo o tempo de exposição a elas”, explica o nutrólogo Dan Waitzberg, professor da Universidade de São Paulo. “Já moléculas como o caveol e o cafestol estimulam enzimas que diminuem a atividade dos agentes perigosos”, completa.

Próstata

A evidência – Um time de cientistas de Xangai, na China, revisou 30 estudos populacionais (juntos, eles envolviam mais de meio milhão de participantes) e diagnosticou uma menor probabilidade de ter câncer de próstata nos bebedores de café. Enquanto isso, um levantamento norueguês com 224 234 homens de 20 a 69 anos também indica proteção, mas só se a gente tomar o pretinho filtrado ou coado.

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A conclusão – Ainda não se conhece o mecanismo biológico que responde por essa atuação como guarda-costas da próstata. “A bebida tem propriedades antioxidantes, isto é, combate o estresse oxidativo que danifica as células e leva a doenças como os tumores”, diz a nutricionista Mônica Pinto, da Associação Brasileira da Indústria de Café. Mas e essa história de o coado ser melhor? É que, com esse preparo, dá pra eliminar substâncias do grão não tão interessantes para a saúde.

Ovários

A evidência – Tumores nas glândulas sexuais femininas são um desafio e tanto para a medicina porque a maioria dos casos é flagrada em estágio avançado e não se sabe ao certo como o estilo de vida interfere em seu aparecimento. Nesse cenário, tomar uns cafezinhos pode ajudar. É o que se tira de conclusão de um estudo feito com 1 293 mulheres pelo Centro de Pesquisa da Sociedade Dinamarquesa de Câncer. O consumo da bebida (e de chá também) foi associado a um risco discretamente menor de encarar o problema.

A conclusão – O dado anima, só que os especialistas pedem cuidado: os genes pesam muito (mas muito) mais que copinhos de café na equação que resulta nesse tumor. Daí a importância de prestar atenção no histórico familiar. Agora, a bebida teria um efeito colateral bacana nas mulheres: há indícios de que ela resguarda o endométrio, tecido que reveste o útero, contra o… câncer.

Fígado

A evidência – Pesquisadores baseados na Califórnia, nos Estados Unidos, investigaram como o café se comportaria nesse caso. Para amplificar a validade dos seus resultados, fizeram questão de recrutar mais de 160 mil americanos de etnias diversas: brancos, negros, de origem latina, asiática… E aí foi um brinde ao café. Pessoas que tomavam de duas a três xícaras por dia corriam um risco 38% menor de ter câncer no fígado em comparação com quem mantinha distância dos goles.

A conclusão – Parte dos componentes da bebida passa pela maior glândula do corpo para ser processada no organismo. Nesse trajeto, é provável que as células do fígado sejam agraciadas com uma dose de benefício. No entanto, de nada vale ser fã do cafezinho se o álcool aparece em excesso na rotina ou a dieta é calórica e pura gordura – o abuso etílico e a obesidade botam qualquer vantagem a perder.

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Boca

A evidência – Parece que é no gole em si que o café já começa a banhar o corpo com suas propriedades. Epidemiologistas franceses esmiuçaram informações de 4 170 pessoas, sendo que 689 delas foram diagnosticadas com um câncer na cavidade bucal. Cruzando dados e eliminando variáveis que poderiam confundir os resultados (como tabagismo e consumo de álcool), os estudiosos constataram que o cafezinho diário ajuda a evitar o surgimento da encrenca.

A conclusão – Os experts franceses creem que o efeito se deve ao poder antioxidante da bebida. “Experimentos apontam que, além dessa ação, moléculas como o ácido cafeico reduzem inflamações e estimulam o suicídio de células malignas”, conta Waitzberg. Em outras palavras, o café ajuda a prevenir e a reparar danos microscópicos por trás do nascimento dos tumores.

Estômago

A evidência – Agora a coisa começa a ficar preta pro café. Após uma revisão de trabalhos englobando mais de 300 mil pessoas, pesquisadores chineses acusam a bebida de patrocinar o câncer gástrico. Já o Epic Study, embasado no acompanhamento de milhares de europeus, concluiu que o café não eleva o risco de maneira geral, mas pode, sim, estar ligado a uma maior propensão a tumores na divisa entre o estômago e o esôfago.

A conclusão – Calma! Não é pra abolir o cafezinho. A menos que você tenha refluxo ou uma gastrite da pesada – mesmo assim, vale uma conversa com seu médico. “O café é desaconselhado a quem tem refluxo porque a cafeína relaxa o esfíncter que separa o estômago do esôfago. Aí o ácido volta e vem aquela queimação”, diz Mônica. Em caso de gastrite, o conselho é tomar a bebida após a refeição, nunca de barriga vazia. E jamais abusar.

Bexiga

A evidência – Esta vem lá da China, e de outra meta-análise. Os especialistas amam meta-análises porque essas revisões congregam, em tese, o que há de evidência mais forte sobre um tema. No elo entre café e câncer de bexiga, o pretinho escorregou: sua ingestão foi relacionada a uma maior probabilidade do problema, classicamente ligado ao cigarro.

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A conclusão – Substratos nocivos da alimentação podem acabar na bexiga antes de se despedir pela urina. E, nessa passagem, chegam a agredir o órgão. A questão é que o café também pode esconder substâncias capazes de fomentar o câncer. “Caso dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, cuja presença é atribuída à contaminação do grão nas etapas de secagem ou torrefação”, conta Thainá. Mas nesse ponto dá pra minimizar os riscos. “Dê preferência ao tipo coado e não ferva o pó com a água”, orienta a expert do Inca.

Garganta

A evidência – Os orientais estão realmente interessados em caçar benefícios e eventuais malefícios do café. Um compilado de artigos feito por uma equipe da Escola de Medicina de Xangai, reunindo prontuários de mais de 500 mil pessoas, indica que o consumo rotineiro subsidia o câncer de laringe. Só que outra revisão, também conduzida por chineses, diz que não é possível bater o martelo.

A conclusão – Diferentemente do cigarro e do excesso de álcool, faltam provas para condenar o café por desserviços à garganta. No entanto, cuidado com a quentura, que também chega a ferir o esôfago. “A bebida deve ser servida numa temperatura abaixo de 60 °C. Como sai do fogo a 90 °C, convém esperar alguns minutos antes de tomar”, esclarece Thainá. “Isso evita danos térmicos às células, o que potencializa a ação de compostos cancerígenos.”

Pulmões

A evidência – Uma das únicas meta-análises a destrinchar o possível impacto da ingestão de café nos órgãos-chave do sistema respiratório foi amparada em dados de cerca de 110 mil indivíduos e concluiu que o hábito pode elevar o risco de câncer. Os próprios autores ponderam, contudo, que fatores de confusão como o tabagismo se intrometem tanto na história que não dá para dar um veredicto.

A conclusão – Esse é um caso em que o café está mais para figurante do que para ator coadjuvante. “Há perigo se o consumo da bebida estiver associado ao cigarro”, avalia Waitzberg, que acaba de presidir o Ganepão, um dos maiores congressos de nutrição do país. É verdade que muita gente que fuma adora um cafezinho, mas daí a repartir a culpa da fumaceira com ele chega a ser um exagero. Dentro de uma rotina saudável, uns goles diários só vão ajudar a fornecer energia à sua vida.

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E O SALDO É…

Pelos dados disponíveis, dá pra dizer que ele é positivo. Com algumas exceções (doenças prévias e hábitos nocivos no meio da história) e certos cuidados (coar a bebida, esperar esfriar um pouco, não adoçar…), tiramos ótimo proveito do café. Como afugentar alguns tipos de câncer. Só é preciso bom senso – beba, no máximo, cinco xícaras ou copinhos de 50 mililitros por dia. Um levantamento da Universidade de Brasília mostra que nós, brasileiros, estamos degustando na medida certa: consumimos, em média, 163 mililitros por dia, ou três porções.

Aceita uma xícara?

Os tipos de preparo podem influir nas propriedades

Letícia Raposo
Letícia Raposo ()

Coado

É a versão mais consumida no Brasil. Ainda bem. Quando se usa o filtro, a gente impede que compostos potencialmente ruins caiam na bebida. Só não vá ferver o pó junto com a água.

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Letícia Raposo
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Espresso

Já popular por aqui, é mais forte que o tipo coado. Desse modo, resquícios dos grãos conseguem acessar mais o que vai pra xícara. Por essas e outras, dois copinhos por dia estariam de bom tamanho.

Letícia Raposo
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Italiano

É feito com aquela cafeteira pequena sobre o fogão. Nesse caso, substratos do grão torrado também chegam mais aos goles. Depois que a bebida fica pronta, evite deixar um tempo extra no fogo.

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