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Por que o ovo de chocolate está tão caro?

Crise global do cacau afeta preço dos doces e promete fazer desta a páscoa mais cara da história do país

Por Ingrid Luisa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 abr 2025, 01h37 - Publicado em 13 mar 2025, 12h41
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Ovos de páscoa devem ficar, pelo menos, 10% mais caros em 2025 (Daniel Grizelj/Getty Images)
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A situação atual do chocolate não está nada doce. A alta de 189% no preço do cacau no ano passado, segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (Abia), impactou o preço do docinho mais querido da Páscoa.

Nas redes sociais, chovem reclamações sobre ovos de páscoa relativamente simples custando mais de R$100 ou até R$200.

A Abia pondera, no entanto, que a indústria está tentando não repassar tudo isso ao consumidor. Diferentes tipos de recheio (como biscoitos e oleaginosas) podem ajudar a reduzir a quantidade de chocolate usada, e assim segurar um pouco o preço.

Mas isso nem de longe garante que o produto ficará barato: a estimativa é que o item fique pelo menos 10% mais caro que no ano passado.

+Leia Também: Mudanças climáticas fazem o preço dos alimentos disparar

A despeito dos preços, a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates (Abicab) está otimista para o período. A entidade afirma que mais de 45 milhões de ovos de chocolate serão produzidos para a Páscoa deste ano, e outros 803 tipos de produtos com a matéria-prima (como barras e bombons) também foram desenvolvidos.

Isso representa 22,5% ovos a menos do que em 2024 (quando foram produzidos 58 milhões) e 31,5% a mais de produtos de chocolate relacionados (ano passado foram 611 tipos).

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“O setor de chocolate exerce um papel fundamental na geração de empregos e na garantia de uma Páscoa acessível e democrática”, afirma Jaime Recena, presidente executivo da Abicab, em release divulgado à imprensa.

Ou seja: para quem não pode arcar com o preço dos ovos, resta apelar para os bombons ou coelhinhos de chocolate.

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Mas, afinal, por que o chocolate está tão caro?

A produção de cacau passa por sua maior crise global nos últimos 50 anos.

Os preços da tonelada do fruto empregado para fazer os chocolates industrializados subiram estrondosamente: de 2 500 dólares em julho de 2023, o valor saltou para mais de 10 mil dólares em abril de 2024. No Brasil, uma arroba de cacau (cerca de 15 quilos), que antes custava até 250 reais, chegou a bater mil.

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Esse pico de preços passou, mas a crise ainda não, e ela escancara uma mistura de problemas ambientais, estruturais e sociais.

Hoje, 75% do cacau comercializado no mundo vem da África, especificamente de quatro países: Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões. Em contrapartida, 75% do consumo de chocolate acontece na Europa e na América do Norte.

O Brasil é o sexto maior produtor, de acordo com a Organização Internacional do Cacau (ICCO), mas ainda não é autossuficiente e importa de 20 a 25% do cacau que processa para atender a demanda interna.

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Veja quem são os maiores produtores de cacau no Brasil e no mundo. (Foto: GoldStock/Getty Images; Ilustrações: Letícia Raposo/Estúdio Coral/Veja Saúde)
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Já faz alguns anos que as safras de cacau africanas sofrem por causa de pragas descontroladas, envelhecimento das lavouras e falta de recursos (tecnologia) para lidar com crises.

Tradicionalmente, as fazendas de lá vendem sua produção ao governo, que é quem negocia a commodity com o mercado internacional. Só que as fazendas e os trabalhadores são muito mal remunerados, apelando inclusive a trabalho escravo e infantil, problema grave que ainda não está erradicado.

“O cacau é uma commodity de países pobres, e a cacauicultura na África é uma bomba-relógio”, afirmou o biólogo Cristiano Vilela, diretor científico do Centro de Inovação do Cacau (CIC), no sul da Bahia. “Ali as lavouras sofrem demais com vírus, fungos e outras pragas, e o produtor africano é o que menos recebe pela matéria-prima no mundo”, completa.

O peso das mudanças climáticas

Em 2023, as mudanças climáticas e as poucas chuvas resultantes do fenômeno El Niño foram o estopim da devassa, levando as nações africanas a produzirem de 40 a 50% menos frutos.

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Somado a esse dilema social, o aquecimento global parece acelerar a contagem regressiva para a bomba explodir.

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A crise climática também repercute na produção nacional. No primeiro trimestre de 2024, pelas contas da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), houve uma queda de 31% no volume de amêndoas de cacau nacionais recebidas pelas empresas que fazem a moagem — etapa básica para a manufatura do chocolate.

Se quiser comprar ovo de chocolate na páscoa deste ano, é bom ir juntando uma graninha desde já.

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