Enquanto a insaturada recebe o apelido de “gordura boa” e a saturada, quando consumida na dose certa, tem sua importância para o organismo, a gordura trans não é recomendada em nenhuma quantidade.
Existe uma versão dela encontrada naturalmente em produtos de origem animal, como carnes e leites. Contudo, trata-se de uma dose singela. Quando se mencionam os infortúnios provocados pela trans, eles dizem respeito à versão hidrogenada, criada pela indústria. Essa gordura abala sem dó nosso perfil lipídico, pois eleva os níveis de colesterol LDL e baixa os de HDL.
De positivo, só dá para falar do seu sabor – ela confere textura e crocância aos produtos. Não à toa, por muito tempo foi protagonista na receita de salgadinhos, biscoitos e outras guloseimas. “Hoje, eu diria que 80% do mercado já não usa mais trans”, calcula o químico Renato Grimaldi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Mas ainda há marcas menores que não conseguiram se livrar dela por questões tecnológicas e comerciais. Para tirar a dúvida, verifique se o termo “gordura parcialmente hidrogenada” está na lista de ingredientes. Isso se refere à trans.
A tabela nutricional não é o melhor parâmetro porque, nesse espaço, só é obrigado a constar essa gordura caso a porção do produto contenha mais de 0,1 grama do ingrediente. Ocorre que, muitas vezes, as empresas trabalham com porções pequenas, como dois biscoitos.
Nessa quantidade, de fato o alimento pode concentrar pouca gordura trans. Mas em cinco, seis, sete biscoitos… a coisa muda de figura. “E mesmo teores baixos trazem riscos”, lembra Elisa Jackix, nutricionista da PUC-Campinas. Em uma dieta de 2 mil calorias, o limite de 1% sugerido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) dá 2,2 gramas ao dia. Saiba mais sobre os limites de outros tipos de gordura clicando aqui.
Tolerância zero vem aí
Nos Estados Unidos, a indústria tem até o fim deste ano para tirar totalmente a gordura trans artificial de circulação. Um movimento que, logo mais, deve ser visto no Brasil.
Mas um receio desponta: que tipo de substância entraria no lugar? “Em teoria, são as gorduras saturadas, que dão o mesmo resultado em termos de consistência”, explica Grimaldi. Para o expert, é como trocar o “péssimo” pelo “muito ruim”.
O melhor cenário seria substituir uma parte desse teor de saturada por uma gordura com perfil mais insaturado. “Mas nem todas as empresas estão preparadas para isso”, analisa o químico da Unicamp. Logo, se a trans sair mesmo de cena, a investigação do rótulo não poderá parar.