Está cada vez mais claro que os hábitos de vida têm tudo a ver com as chances de um casal engravidar. E uma prova extra disso apareceu há poucos dias no congresso da Sociedade Europeia de Reprodução e Embriologia Humana. É que cientistas da Universidade Rovira i Virgili, da Espanha, apresentaram um estudo que associou o consumo de nozes a uma melhora na fertilidade de indivíduos saudáveis.
O trabalho contou com a participação de 119 homens. Durante a intervenção, todos continuaram com sua dieta de estilo ocidental (marcada pela presença de produtos processados e refinados, carnes e fast food), mas só uma parte adicionou 60 gramas de nozes no dia a dia – cerca de dois punhados. Os pesquisadores esperaram 14 semanas para ver de que maneira isso impactaria no sêmen dos voluntários.
“Esse é o período adequado para verificar o espermograma [exame que mede a qualidade do esperma], já que é o tempo do ciclo de formação do espermatozoide”, comenta Guilherme Wood, médico urologista e especialista em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva, em São Paulo.
A turma que comeu a oleaginosa viu uma melhora de 16% na contagem de espermatozoide, de 4% na vitalidade deles, de 6% em sua motilidade e de 1% na morfologia. De acordo com os autores, todos esses parâmetros estão relacionados com a fertilidade masculina.
Além disso, os consumidores de nozes apresentaram uma redução significativa nos níveis de fragmentação no DNA dos espermatozoides. “Um DNA mais fragmentado prejudica a gravidez natural, aumenta o risco de aborto e atrapalha o resultado de uma reprodução assistida”, explica Wood.
O que as nozes têm de especial
Falamos de um combo, já que essas oleaginosas são ricas em ômega-3 – um nutriente de potencial anti-inflamatório – e outras gorduras boas, além de vitaminas e minerais. Mas os pesquisadores acham que é cedo para creditar os resultados somente ao alimento. Com base em outros estudos publicados sobre o tema, eles defendem que adotar comportamentos saudáveis ajuda na concepção.
No dia a dia, é o que Wood sugere a seus pacientes. “Peço que tenham alimentação equilibrada, que façam exercício físico e que não fumem nem engordem. Tudo isso melhora a saúde em geral e o espermograma”, relata.
Vale lembrar que, na pesquisa espanhola, os voluntários eram saudáveis e não possuíam problemas prévios de fertilidade. Por isso, os achados não podem ser extrapolados para outros grupos, como o de homens inférteis ou com dificuldades para ter filhos.
De qualquer maneira, não é absurdo imaginar que uma rotina mais saudável dê uma força a essa turma também. “Se a gente acredita que isso melhora não só a concentração de espermatozoides como a integridade do material genético, certamente terá repercussões positivas durante um tratamento para engravidar”, diz Wood. A verdade é que adotar hábitos legais nunca é um mau conselho.