Do ovo de galinha ao de Páscoa, passando pela salada: como o preço afeta o que se come
Pesquisa comprova que custo dos alimentos interfere no acesso a uma dieta saudável, especialmente na população com baixo poder aquisitivo

Do ovo de galinha ao de Páscoa, a impressão que se tem é que tudo está mais caro no supermercado. E a inflação, com raízes que se estendem ao impacto das mudanças climáticas na produção alimentar, não só afeta aquilo que levamos para casa como compromete a adoção de uma dieta nutritiva e equilibrada.
É o que confirmou uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O trabalho, de autoria da nutricionista Thaís Caldeira, mostra que o custo da dieta é fator importante para a composição de um cardápio saudável. E, com a alta nos preços, quem mais sofre é a população vulnerável economicamente.
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A tese defendida por Caldeira foi baseada em dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo IBGE periodicamente para avaliar questões de consumo, gasto e renda das famílias brasileiras.
Como critério para analisar quão adequado era o padrão dietético, levou-se em consideração o conjunto de recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira e de documentos da comissão de estudos EAT-Lancet.
A investigação revelou que, em geral, 70% das calorias diárias ingeridas pelo público eram originárias de grãos e vegetais ricos em amido como arroz e batata (25,4%), produtos ultraprocessados (22,5%), fontes de proteína como aves, peixes, ovos e leguminosas (13,8%) e carne vermelha (10,5%).
O trabalho concluiu que o valor da dieta está diretamente relacionado a quão balanceada ela pode ser. Nesse sentido, pessoas com menor poder aquisitivo tendem a comprar e a consumir menos frutas, hortaliças, carnes magras e laticínios. Na contramão, comem mais carne vermelha e alimentos ultraprocessados, combinação já ligada a maior propensão a problemas de saúde.
Sobretudo nas regiões menos desenvolvidas do Brasil, as limitações sociais e financeiras se mostraram decisivas para diminuir o acesso a alimentos frescos e minimamente processados. Como alternativa, tais comunidades se tornam mais dependentes de ultraprocessados, produtos cujo consumo frequente está associado ao maior risco de doenças crônicas.
O estudo da UFMG descobriu que o custo médio da dieta foi de R$0,65/100 kcal para a população total, com oscilações conforme a renda e a região. O Nordeste apresentou o menor custo e o Sudeste, o maior. Os valores também foram superiores nas áreas urbanas na comparação com as rurais.
A grande preocupação que vem na esteira desses achados é que, com o aquecimento global e as mudanças ambientais, já existem reveses na produção de uma série de alimentos, o que, em última instância, se reverte em preços mais elevados no mercado e escolhas mais difíceis para o consumidor.