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Colágeno nu e cru – tudo que você precisa saber sobre essa proteína

Suplementos dessa proteína, encontrada no nosso corpo, são vendidos para fortalecer músculos, ossos, pele, unhas e cabelos. Mas eles fazem tudo isso?

Por Ingrid Luisa
28 Maio 2024, 08h57
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  • Você já deve ter percebido que, com o passar dos anos, sua pele ficou mais fina e flácida e até apareceram umas ruguinhas no rosto. Ou que abaixar para pegar uma caneta sob o sofá já não é tão moleza como antes.

    É fato, goste-se dele ou não: do bigode chinês às articulações emperradas, muita coisa que acontece com o envelhecimento é culpa do colágeno. Ou melhor, da falta dele.

    Essa proteína é crucial para manter a resistência, a coesão e a elasticidade de todos os tecidos do corpo. Está presente na pele, nos ossos, nas cartilagens, nos músculos, nas veias e até nos olhos.

    O colágeno está pronto para manter a casa em ordem e reparar o que for preciso, mas essa maravilha toda não dura para sempre. Após os 30 anos, o corpo vai paralisando a produção e se estima que a gente perca 1% do volume da proteína ao ano. Mais velinhas sopradas, menos colágeno no organismo. E essa queda pode se acentuar: na menopausa, mulheres chegam a ter um déficit de 30% ao ano.

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    Bem, a solução parece estar aí na esquina — nas farmácias — ou no balcão de vendas da internet. Que tal repor o colágeno perdido? Por que não partir para um suplemento? Soa tão óbvio, não? Arrisco dizer que, se não é o caso do leitor ou da leitora, ele ou ela certamente conhecem alguém que toma cápsulas para a pele ou a articulação.

    Realmente, esse é um mercado efervescente. De acordo com a plataforma Innova Database, houve um crescimento de quase 60% no número de produtos (alimentos, bebidas e suplementos) com esse ativo lançados mundialmente entre 2018 e 2022.

    Sozinho, o setor de suplementos de colágeno foi avaliado em impressionantes 5,52 bilhões de dólares em 2023 pela agência de pesquisa Mordor Intelligence. A previsão é que ele beire os 8 bilhões até 2028.

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    No Brasil, a onda chegou (e para ficar): o consumo de produtos com a proteína decolou 167% entre 2015 e 2020, pelas contas da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad). A fabricação nacional cresceu 18% só no primeiro semestre de 2023.

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    Cifras à parte, a pergunta que não quer calar é: a suplementação funciona? Apaga as marcas do tempo no nosso corpo?

    Antes de trazer as respostas, convém ter, logo de cara, uma dose de senso crítico e desconfiar de qualquer solução, em pó, gotas ou cápsulas, que prometa melhorar pele, unhas, cabelo, ossos, intestino, coração e imunidade… E, por incrível que pareça, tem anúncios desse tipo por aí.

    “Existem propagandas absurdas dizendo que suplementar colágeno cura doenças articulares, o que não é verdade”, denuncia Marco Antonio Loures, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). “Muitas vezes, estamos diante de produtos caros que podem não trazer o resultado que o paciente espera. Antes de sair comprando, é essencial passar por um bom médico.”

    A dermatologista Elisete Crocco, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), pondera que dificilmente suplementar fará algum mal, porém… “É preciso alinhar expectativas e avaliar se é o melhor investimento”, afirma.

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    Recados dados, é hora de vasculhar o que procede ou não no ostensivo mercado do colágeno.

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    Quais as diferenças entre os tipos de colágeno?

    Na verdade, existem mais de 29 tipos, porém dois são mais usados em suplementos. Para entender por quê, vale uma aulinha de química. De que é formado o colágeno?

    Bom, todas as proteínas são constituídas por pecinhas chamadas aminoácidos. No total, nosso corpo possui 20 aminoácidos-padrão, que se combinam de formas diferentes para dar origem a diversas proteínas.

    Uma molécula de colágeno é composta de unidades de três aminoácidos, em que sempre o último é a glicina e os outros dois podem ser prolina, hidroxiprolina, alanina, lisina, hidroxilisina…

    Para originarem a proteína, as unidades triplas se agrupam formando uma grande cadeia, como se fosse um cordão, e três desses cordões se retorcem um em volta do outro, igual a uma corda em tripla hélice. O resultado: estruturas rígidas e longas.

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    Dependendo dos aminoácidos dessa receita, muda o tipo de colágeno, que assumirá características específicas do tecido onde está presente.

    O tipo I, o mais comum no organismo, pode ser encontrado na pele, nos ossos, em tendões e ligamentos. Já o tipo II dá as caras na cartilagem, enquanto o III aparece nos órgãos e o IV nos vasos sanguíneos… A indústria, no entanto, só fabrica em grande escala os tipos I e II.

    Não à toa, as principais indicações hoje rondam a dermatologia e a reumatologia.

    Suplementar colágeno melhora pele, unhas e cabelo?

    Até existem experimentos pequenos que demonstram certas vantagens, mas faltam estudos robustos e controlados comprovando que vale a pena recorrer a suplementos de colágeno com essa finalidade.

    E isso acontece por dois simples motivos. O primeiro: é impossível direcionar a proteína ingerida para um lugar específico do corpo — pele, unhas, cabelo… O segundo: para ser processada pelo organismo, independentemente da via (gota, pó, gominha), a substância inevitavelmente passará pelo estômago, onde será quebrada pelas enzimas digestivas.

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    Assim, a proteína é diluída em peptídeos (conjuntinhos de aminoácidos), que depois serão desmembrados em peças menores lá no intestino, a partir do qual ganharão a corrente sanguínea.

    O que sobra desse processo, contudo, é direcionado às partes do corpo que mais necessitam desses aminoácidos, que podem até ajudar a formar outras proteínas (e não mais colágeno).

    Complicado? Na prática, importa que o ingrediente não chega íntegro e pronto para agir em nossas células. “Seria incrível se não houvesse essa quebra do colágeno, pois poderíamos repor tudo. Mas não é o que acontece”, afirma Elisete.

    Ok, mas e o colágeno hidrolisado? É melhor? Ele já entrega peptídeos menores, que facilitam a absorção pelo organismo, mas, ainda assim, não se garante a tão esperada atuação na ponta.

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    Colágeno faz bem para as articulações?

    Não há provas contundentes. Acredite, apesar de ser uma indicação comum entre profissionais de saúde, ainda não há evidência científica suficiente para afirmar que o uso de colágeno consiga chegar às articulações e blindá-las dos efeitos do tempo.

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    Mesmo ingerindo colágeno tipo II, que naturalmente está presente nessas regiões do corpo. “Todos os estudos confiáveis que mostram alguma efetividade são pequenos e não significativos. Por isso, no momento, as entidades mundiais entendem que tomar colágeno não é uma medida adequada para tratar ou regenerar a articulação diante de problemas como artrose”, esclarece Loures.

    Ainda assim, tem gente que relata ganhos em termos de dor e rigidez tomando o suplemento. O ponto é que pode ser um efeito placebo — aquele induzido pela expectativa de melhora. “Uma pessoa que foi a uma consulta e melhorou após o uso de colágeno muito provavelmente também tomou analgésicos ou aderiu a medidas não farmacológicas, como fisioterapia e atividade física”, observa o reumatologista João Alho, também membro da SBR.

    “Só a opinião do paciente, ou mesmo de médicos, não é capaz de discernir o que funciona ou não, pois existem milhares de variáveis confundidoras. Por isso é que existem bons estudos”, conclui.

    Para mitigar e controlar as encrencas articulares, nada melhor que um combo formado por dieta adequada, prática de exercícios e prescrições customizadas pelo reumato.

    Pode turbinar a imunidade?

    Não. É conversa para boi dormir. Assim como os anúncios de que colágeno baixa o colesterol, protege o coração ou zela pelo intestino.

    Como o mercado desse suplemento cresceu exponencialmente, decolaram também as propagandas afirmando que a proteína é imprescindível para tudo… e todos.

    E elas inclusive apelam a um pseudoconhecimento da biologia para vender produtos. Ora, não é porque tem colágeno orgânico formando o tecido que reveste os vasos sanguíneos que tomar o composto vai melhorar a circulação. Não há estudos atestando essa hipótese.

    Da mesma forma, há gente dizendo na internet que o colágeno impulsiona a imunidade porque “os ossos são ricos em colágeno, e todas as células do sistema imunológico derivam da medula óssea”. Para leigos, pode até fazer sentido, mas entenda: a medula fica, sim, dentro de grandes ossos, mas é um tecido essencialmente hematológico — ou seja, deriva do sangue, não do osso. Não existem indícios (nem lógica) de que repor essa proteína levante nossa imunidade.

    O sistema de defesa é complexo, depende de uma série de fatores, como estilo de vida, idade, genética, uso de vacinas… Não é um suplemento sozinho que vai construir um escudo contra doenças infecciosas. Aposte nas táticas convencionais e validadas pela ciência. Sairá até melhor para o bolso.

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    Há algum meio de induzir o corpo a produzir colágeno?

    Segundo os dermatologistas, a forma mais efetiva de obter neocolagênese, ou seja, produção de fibras colágenas novinhas em folha na pele, se dá através de bioestimuladores de colágeno, que são substâncias injetadas por um especialista em consultório com ativos como ácido polilático, hidroxiapatita de cálcio ou policaprolactona.

    Elas causam uma inflamação controlada na pele e estimulam as células formadoras de colágeno (fibroblastos) a produzirem a proteína, mesmo quando já não o fazem mais naturalmente.

    Outra possibilidade, também utilizada nas clínicas, é recorrer a tecnologias como laser e ultrassom microfocado, que promovem um aquecimento dos tecidos, criando pontos de coagulação e contração que exigirão novas fibras colágenas.

    Os efeitos desses procedimentos não são imediatos: o corpo precisa de no mínimo três a quatro meses para repor as fibras. E é justamente nessa janela de oportunidade que a suplementação via oral pode ajudar. “Como a pele está recrutando matéria-prima nesse período, aumentam as chances de que os peptídeos ingeridos possam ser utilizados para formar proteínas de colágeno”, explica Elisete.

    Novamente, não há como garantir que a substância vá agir exatamente naquele local, mas, como expõe a médica da SBD, podemos pegar carona num momento mais propício. De qualquer forma, essas iniciativas independem de um aporte extra de colágeno para dar resultados.

    Já não há muitos estudos sobre essa proteína?

    Verdade, não faltam pesquisas em quantidade. O que falta são estudos mais amplos e rigorosos.

    Uma busca rápida por “collagen supplement” (suplemento de colágeno) no PubMed, plataforma do governo americano que reúne toneladas de artigos científicos, traz mais de 4 mil estudos na área. Mas o fato de existirem tantas pesquisas não significa que tenham a melhor metodologia ou suas conclusões sejam reprodutíveis e confiáveis.

    Uma das questões que merecem ser levadas em conta é o conflito de interesse por trás dos trabalhos. “Em geral, eles são patrocinados ou desenvolvidos por empresas que fabricam produtos na área, o que aumenta o viés por um resultado positivo”, diz Elisete.

    Outra crítica em relação aos experimentos atuais está no quesito comparação, ou seja, quem é o grupo controle diante do qual se testará a intervenção com colágeno. Geralmente, os estudos que avaliam sua eficácia dividem os voluntários em dois grupos — um que consome a proteína; outro que fica com o placebo, cápsulas ou pós sem princípio ativo.

    Ao fim, quando se avaliam os benefícios, a turma do colágeno quase sempre apresenta melhoras. Acontece que, no frigir dos ovos, essas pessoas estão ingerindo mais proteínas, o que pode ter um saldo positivo para a saúde delas de qualquer maneira, especialmente com o avanço da idade.

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    É melhor tomar colágeno ou Whey protein?

    Vivemos na era da proteína. Nunca se viu tanto suplemento proteico, iogurte proteico, bebida proteica, snack proteico, energético proteico, tudo proteico… Sim, é importante consumir esse nutriente, e a recomendação é de 0,8 g por quilo de peso por dia, quantidade mínima para quem busca saúde e bem-estar.

    Atletas ou pessoas que querem ganhar massa muscular chegam a comer 2,5 g por quilo de peso, mas já fica a dica: só se deve elevar nesse nível a cota do nutriente com supervisão de um nutricionista.

    Para chegar lá, tem gente que parte para os suplementos. Mas whey e colágeno são proteínas bem diferentes. O primeiro vem do soro do leite e é supercompleto do ponto de vista nutricional, contando com todos os aminoácidos essenciais de que o corpo precisa. Já o colágeno tem no máximo seis aminoácidos combinados.

    Pensando na entrega para o organismo, sobretudo para a musculatura, faz mais sentido investir no whey. E já há dezenas de estudos assinando embaixo dos seus benefícios, quando consumidos adequadamente.

    Outro fator que pode pesar aqui é o preço. Os potes de colágeno, principalmente os hidrolisados e do tipo II, são caros — muitos não saem por menos de 300 reais. Já na prateleira dos whey há boas opções bem mais acessíveis. Agora, se você já tem uma alimentação equilibrada, rica em proteínas, e não está na fissura por massa muscular, talvez dê para ficar sem os dois suplementos.

    Como reduzir a degradação natural do colágeno?

    Através do cuidado diário com a pele. Isso inclui várias medidas, sendo a principal delas o uso do protetor solar. É que a radiação degenera as fibras de colágeno, num efeito que tende a amplificar no longo prazo. Por isso, passar o filtro na quantidade certa e reaplicar quando preciso é o básico para preservar a integridade cutânea.

    Outros comportamentos contam pontos. Beber bastante água e manter uma boa ingestão de proteínas são alguns deles. Lembra que o organismo depende dos aminoácidos para formar suas próprias proteínas e tecidos? Sim, é como se fosse uma operação de monta e desmonta molecular.

    Os médicos também salientam que é prudente evitar o cigarro e a bebida alcoólica, porque ambos podem acelerar a destruição das fibras. Com o tempo, eles colaboram para a pele perder viço e luminosidade, e o corpo já não consegue manter a pique sua capacidade de reparação natural.

    Tudo que estimula a formação dos radicais livres — e o processo de oxidação — repercute nas nossas células e contribui para esvaziar o estoque de colágeno. Como a poluição é um desses fatores onipresentes, há mais um ótimo motivo para caprichar na rotina de skincare, conservando a pele limpa, hidratada e cuidada.

    Botar o corpo para se mexer e dormir bem são outras recomendações batidas, mas necessárias. Afinal, não existe milagre num sachê ou cápsula de colágeno.

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