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Vínculo fantasma: “Muitos começam a relação e somem sem dar satisfação”

Analista esmiúça, em livro, como comportamentos imaturos e falta de compromisso prejudicam os relacionamentos modernos

Por Larissa Beani
2 set 2024, 09h30
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  • Ana e André começaram a sair depois de se conhecer em um evento profissional. Em quatro meses, ele já tinha conhecido a família dela e ambos haviam marcado de passar as férias juntos em uma pousada. Mas, de uma hora para outra, as coisas mudaram: André disse que não podia mais se encontrar com Ana porque havia decidido voltar com a ex-namorada.

    É com a mulher pedindo uma sessão extra de terapia para tratar o fim abrupto e absurdo do relacionamento que começa o livro Vínculo Fantasma: Os relacionamentos voláteis da atualidade (Record – clique aqui para comprar). A obra marca a estreia da analista junguiana Tatiana Paranaguá, que se baseou em casos recebidos em seu consultório de pessoas que foram traumatizadas por relacionamentos que acabaram do nada.

    “Criei esse termo, o vínculo fantasma, para fazer um alerta sobre o que eu considero ser uma epidemia de imaturidade”, afirma a autora. Na obra, ela investiga as origens desse comportamento irresponsável e orienta como podemos nos blindar dele numa época em que tudo parece cada vez mais efêmero.

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    VEJA SAÚDE: Como você define um vínculo fantasma e por que decidiu escrever um livro sobre ele?

    Tatiana Paranaguá: O vínculo fantasma é uma queixa muito frequente nas sessões de análise. Ele é também uma manifestação da falência de uma das capacidades mais valiosas para o ser humano, que é a de construir relações, de formar laços.

    É a atitude de, repentinamente, abandonar um relacionamento assim que ele começa a “ficar sério demais”, a demandar compromisso.

    + Leia também: As fases de um relacionamento abusivo

    Criei esse termo para fazer um alerta sobre o que eu considero ser uma epidemia de imaturidade. Ao nomear essa situação, espero ajudar outras pessoas a perceber as nuances de atitudes como essa.

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    Espero que deixemos de normalizar um comportamento imaturo, muito relacionado ao arquétipo do puer aeternus [eterno menino].

    De que forma esse abandono se diferencia de outras práticas que vemos por aí, como o ghosting?

    O ghosting se dá no ambiente virtual, quando alguém abandona uma conversa que estava indo bem. Isso acontece principalmente porque as pessoas passam a ver o outro como um objeto, uma tela, algo que sirva apenas para satisfazê-las. E esse comportamento começou a se espalhar para o relacionamento olho no olho.

    Isso tem afetado a vida de muitas pessoas que acreditavam estar construindo uma conexão profunda e real com alguém e, de repente, foram surpreendidas com o abandono. Uma história de amor que se transforma em uma assombração.

    + Leia também: Estado emocional dos brasileiros está entre os piores do mundo

    Quais fatores têm contribuído para a normalização desse tipo de comportamento?

    Eu acredito que, ao termos dominado uma série de tecnologias ao longo dos séculos, fomos criando a ilusão de que somos seres autossuficientes, independentes da natureza e dos outros.

    Isso gera um afastamento não apenas com quem está ao nosso redor, mas também com nós mesmos. Só nos conectamos verdadeiramente com nosso interior quando há conexão com o outro. Se as relações que estabelecemos são descartáveis, há um prejuízo a todo o sistema.

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    Há cada vez mais gente por aí se encaixando nesse padrão do puer aeternus?

    O arquétipo da “eterna criança” representa bem esse padrão de comportamento disfuncional que temos visto de forma tão recorrente.

    A imaturidade se manifesta ao acreditar que se pode viver de maneira independente dos outros, sem assumir compromissos, com o pé na porta para poder fugir quando se sentir desconfortável.

    O imaturo, o fantasma, não pensa no impacto que causa na vida das pessoas.

    + Leia também: Educação positiva prega respeito, mas não é sinônimo de permissividade

    A que devemos ficar atentos para evitar dissabores com esse perfil?

    Muitas vezes é difícil distinguir logo no início do relacionamento se o parceiro tem uma tendência esquiva. Em geral, homens apresentam mais esse comportamento, mas mulheres também podem agir assim.

    Muitos começam a relação engajados, mas, conforme a conexão demanda mais atenção, somem sem dar satisfação. Então sugiro que procurem saber o histórico de relacionamento dessa pessoa.

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    Se ela costuma dizer que todos os “ex” eram desequilibrados ou problemáticos, tem coisa aí. E é preciso ficar de olho nos sinais de que ela está começando a querer fugir dos compromissos.

    Como lidar com um relacionamento que teve fim de forma tão abrupta?

    A primeira coisa a fazer é prestar atenção se a vítima tem o padrão de se relacionar com esse perfil, se isso já aconteceu com ela muitas vezes. Se esse for o caso, é preciso voltar a si mesma e refletir sobre o que pode estar por trás desse padrão.

    Também é interessante fazer essa análise com o acompanhamento de um psicólogo.

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    E quem tem esse padrão de comportamento imaturo também deve procurar ajuda?

    Sim! Eu estou tendo a grata experiência de ver “fantasmas” aparecerem no consultório. Isso é muito bom, porque eles também sofrem as consequências do próprio comportamento. Se a pessoa não é narcisista, se ela não pensa exclusivamente no seu prazer, ela é capaz de admitir isso e procurar ajuda.

    É possível fazer as pazes com essa “eterna criança ” que nos habita?

    É o desejável, porque o puer também representa uma ternura comovente que nos ajuda a enxergar o lado bonito da vida. O perigo está em deixar que ele prevaleça e que justifique criancices na vida adulta.

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    Vínculo fantasma: os relacionamentos voláteis da atualidade

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