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Borderline: os erros cometidos na música de Maraísa

Nas redes sociais, canção foi criticada por banalizar o transtorno. Especialistas pontuam que ele deve ser abordado com cautela para evitar estigmas

Por Lucas Rocha Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
29 abr 2025, 18h00
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Cantora Maraísa publicou e apagou vídeo com música que aborda o transtorno borderline (Foto: Instagram/Reprodução)
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A letra de uma música sertaneja se tornou alvo de uma polêmica nas redes sociais nesta semana. Performada pela cantora Maraísa, da dupla com a irmã Maiara, a canção aparentemente ainda em desenvolvimento destaca o transtorno de personalidade borderline, caracterizado por sintomas como instabilidade emocional, distorções cognitivas, comportamento impulsivo e relacionamentos intensos.

Embora esses elementos sejam, de fato, a receita perfeita para uma boa “sofrência”, especialistas em saúde mental pontuam que a abordagem de condições de saúde mental requer cautela para evitar o preconceito e o estigma.

A crítica de usuários de redes sociais, onde o vídeo repercute amplamente, envolve a banalização da condição associada a um sofrimento intenso, tanto para quem convive com o problema quanto para familiares, amigos e parcerias afetivas.

“Fiquei sabendo que ele namorou outras pessoas. Pra cada uma ele foi um personagem. Esse perfil se encaixa numa personalidade borderline. Repara, ele te isolou de todo mundo. Não romantiza esse absurdo. Ele é instável, ele é intenso, ele é extremo. E nesses casos, todo mundo sofre junto”, dizem versos da melodia.

A publicação, no entanto, foi apagada do perfil da cantora e o lançamento da música permanece incerto.

A modelo e produtora de conteúdo Andressa Urach, que é diagnosticada com o transtorno, também criticou a música, afirmando em rede social que iria fazer uma denúncia da canção ao Ministério Público por psicofobia.

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+ Leia também: Não é coisa da sua cabeça: sintomas menosprezados atrasam diagnóstico

Por dentro do transtorno borderline

O transtorno de personalidade borderline afeta o humor e a forma como a pessoa interage com os outros, como detalha o psiquiatra Antonio Egídio Nardi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ele explica que as pessoas já nascem assim, mas os sintomas ficam mais evidentes na adolescência ou início da vida adulta.

“Entre os sintomas, estão oscilações bruscas de humor, contextos de agressividade consigo ou com os demais e tendência aos extremos. As relações são sempre exageradas, tanto para o ódio como para o amor, e existe risco de suicídio nos episódios de humor depressivo”, resume Nardi, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

As causas do transtorno não são totalmente esclarecidas pela ciência. Especula-se que ele seja resultado de uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

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Os casos também mostram uma associação com traumas ou negligências durante a infância ou adolescência, como explica o doutor em psicologia José Tomás Ossa Acharán, pesquisador do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

“A principal característica do transtorno é o desafio nos relacionamentos interpessoais, que vem da dificuldade em estar em contato com suas próprias emoções. O que está por trás disso pode ser uma história de vida em que a pessoa sofreu situações difíceis. Como consequência, ela está sempre numa postura defensiva e numa tensão na relação com o outro”, pontua Acharán.

Nesse contexto, qualquer situação que remeta ao trauma de origem pode despertar gatilhos e ativar mecanismos de defesa. “Muitas vezes, as pessoas com borderline são agressivas para se defender. Então, acabam tendo muita dificuldade para ter relacionamentos íntimos, de amizade ou com colegas de trabalho”, acrescenta o psicólogo.

Além dessas características, o indivíduo manifesta sentimento de culpa e pode buscar alternativas nada saudáveis para lidar com a dor emocional. É nesse cenário que entra o risco aumentado para o abuso de drogas, incluindo o álcool.

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+ Leia também: Sharenting: compartilhamento de imagens de crianças nas redes traz sérios riscos

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Clique para ampliar (Ilustração: Editoria de Arte/Veja Saúde)

“Nem preciso de CRM”

A letra da música sertaneja também recebeu críticas pelo trecho que discorre sobre a identificação do transtorno. “Olha aqui, eu tenho que abrir seu olho pra esse relacionamento. Nem preciso de CRM para diagnosticar essa loucura que ‘cê tá vivendo”.

Ao contrário do que dizem os versos, a condição deve ser diagnosticada pelo profissional formado em medicina, com especialização em psiquiatria. Portanto, por um portador de registro em conselho regional de medicina (CRM).O processo também pode ser realizado de maneira conjunta com o auxílio de psicólogos, envolvendo a avaliação clínica e a análise dos sintomas.

“O diagnóstico é difícil de ser feito, exige longo acompanhamento do indivíduo e vasto conhecimento de psicopatologia”, frisa Nardi.

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Na canção de Maraísa, é sugerido o afastamento de pessoas com borderline, que apresentariam comportamento controlador. “Repara, ele te isolou de todo mundo. Não romantiza esse absurdo”.

“Infelizmente é algo que pode acontecer com transtorno de personalidade borderline , mas não ocorre com todos os indivíduos. Isso pode aumentar o preconceito em relação a esse transtorno”, enfatiza o professor da UFRJ.

A melodia afirma ainda “Ele não precisa de você e do seu sentimento. Só de tratamento” e “Corre senão você vai afundar junto. Você não é remédio de maluco“.

Vale destacar que o manejo da condição considera um conjunto de terapias, individuais ou em grupo, além do uso de medicamentos, quando necessário.

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“O tratamento envolve principalmente a psicoterapia, muitas vezes por toda a vida. Psicofármacos devem ser empregados apenas em momentos pontuais para controlar a impulsividade ou sintomas depressivos. Com o tratamento regular, é possível que a pessoa melhore e leve uma vida com mais qualidade”, resume o psiquiatra.

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