Estudos já demonstraram que doenças e limitações não são consequências inevitáveis e exclusivas da velhice. Elas, na verdade, dependem também do conhecimento que as pessoas têm sobre prevenção e estímulo de hábitos saudáveis. Outro fator que influencia nessa equação é a visão da sociedade em relação ao processo de envelhecimento em si.
Você já parou para se perguntar por que em culturas orientais as pessoas vivem mais e melhor, por exemplo? Nelas, na maioria dos casos, a velhice é sinônimo de sabedoria e respeito. Aqui, o cenário é bem diferente. Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Disque 100 (órgão responsável pelas denúncias de violações de direitos humanos), o número de casos de violência contra idosos vem aumentando exponencialmente no Brasil. No ano passado, foram 32,2 mil atendimentos desse tipo de ocorrência, demonstrando um crescimento de 16,4%.
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Esse descaso, somado ao estereótipo de que a velhice é uma fase da vida repleta de limitações, traz sérias consequências. “Os idosos muitas vezes internalizam esses padrões, o que abala sua percepção do processo. Isso traz impactos, como danos cognitivos e físicos”, explicou a geriatra Randara Rios, durante o XVII Simpósio Anual do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Ela destacou a importância de os idosos se conhecerem bem e encararem o processo de envelhecimento como algo natural, e não como uma doença. Segundo a especialista, alguns estudos demonstram que as pessoas mais velhas que têm uma percepção mais positiva em relação ao avançar da idade vivem 7,5 anos a mais do que os que encaram esse período com pessimismo. E uma forma de recuperar a visão favorável, segundo algumas pesquisas, seria meditar.
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Para tirar isso a limpo, Randara se dedicou a testar os efeitos da técnica. Para isso, ela recrutou 26 voluntários e os dividiu em dois grupos. Um teve aulas semanais de meditação e, o outro, aulas de promoção à saúde. “A avaliação de si mesmo e de sua percepção do envelhecimento dificilmente é mensurada por números”, diz. Por isso, ela escolheu verificar esse dado por meio de desenhos. Antes da meditação, uma psicóloga deu um papel sulfite ao participante e pediu para que ele desenhasse uma pessoa idosa. Após a intervenção, o processo foi repetido. O resultado da experiência? Um desenho mais compatível com o envelhecimento real.
No exemplo mostrado pela geriatra no evento, o segundo desenho exibia uma idosa com bengala e pele enrugada — o que não apareceu no primeiro esboço. “Os participantes estavam com visões mais realistas em relação ao processo de envelhecimento e suas limitações. Mas de uma maneira otimista”, concluiu a geriatra.