Análise da saliva pode ajudar no diagnóstico de depressão e esquizofrenia
Dispositivo de baixo custo desenvolvido por pesquisadores da USP detecta rapidamente alterações em proteína associada a transtornos psiquiátricos

Um grupo de cientistas brasileiros desenvolveu um novo dispositivo capaz de detectar, com rapidez de minutos e a um custo reduzido, marcadores associados a transtornos psiquiátricos como a depressão, a bipolaridade e a esquizofrenia. A ideia é que o equipamento possa vir a contribuir para diagnósticos precoces, ajudando a obter melhores desfechos nos tratamentos.
O instrumento, um biossensor portátil, foi apresentado à comunidade científica em um artigo publicado em agosto na revista especializada ACS Polymers Au. A inovação é resultado do trabalho de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Embrapa Instrumentação.
Como funciona o biossensor
Na prática, o dispositivo é uma tira flexível com eletrodos, que avalia gotas de saliva para determinar a concentração de uma proteína essencial para a formação e manutenção dos neurônios, conhecida pela sigla BNDF (inglês para “fator neurotrófico derivado do cérebro”). O resultado sai em menos de três minutos e pode ser exibido em tempo real em outro dispositivo com transferência por Bluetooth.
Quando há uma redução do BNDF, o resultado pode ser indicativo de alterações associadas aos transtornos psiquiátricos. Uma vantagem é a pequena amostra necessária para obter um resultado, o que auxilia na detecção precoce de fatores de risco.
O dispositivo fornece um auxílio para acelerar o diagnóstico, e não é utilizado isoladamente. Se os números causam alguma preocupação, o paciente pode ser encaminhado para exames adicionais que confirmem a suspeita ou venham a descartá-la.
Outro trunfo do biossensor, segundo os autores, é o amplo espectro em que ele é capaz de detectar as concentrações de BNDF: além de observar níveis muito baixos, que podem indicar problemas, ele também consegue acompanhar eventuais aumentos, que ajudam a monitorar a resposta a tratamentos já iniciados ao longo do tempo.
Quando chegará ao mercado?
Ainda não há uma linha do tempo clara para a comercialização do equipamento, mas os resultados promissores e o custo considerado baixo para desenvolver o biossensor encorajam os pesquisadores, que já buscam patentear a invenção.
Na fase de testes publicada até o momento, o aparelho se destacou pelo custo de apenas US$ 2,19 por unidade, equivalente a menos de R$ 12 pelo câmbio atual.
Além da versatilidade e agilidade para obtenção dos resultados, o sensor também é capaz de armazenar os dados a longo prazo e apresentou um desempenho superior a outros produtos equivalentes que já existem, indicando que há um caminho para viabilizar sua entrada no mercado.