Ambiente tóxico no trabalho: o impacto silencioso sobre a saúde mental
Estresse crônico, falta de diálogo e liderança abusiva afetam diretamente o bem-estar dos profissionais e aumentam os riscos de adoecimento

É cada vez mais frequente que pacientes cheguem aos consultórios trazendo como principal queixa o estresse relacionado ao ambiente de trabalho.
O tema ganhou espaço nos congressos de saúde mental e nas discussões sobre a relação entre bem-estar psicológico e ambiente organizacional — e não por acaso. Empresas, assim como pessoas, também adoecem.
Quando a cultura organizacional adoece
Organizações com culturas empresariais rígidas, comunicação falha entre setores e lideranças autoritárias criam ambientes hostis que, com o tempo, adoecem seus colaboradores.
Transtornos como a síndrome de burnout — em que há colapso físico e emocional — têm se tornado mais comuns. Em casos extremos, a tensão contínua pode até desencadear quadros graves, como infartos.
Segundo um estudo da University of South Australia, trabalhar em um ambiente tóxico pode aumentar em até 300% o risco de desenvolver depressão. Esses dados escancaram o impacto das emoções na produtividade e na saúde dos trabalhadores.
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O papel das empresas na prevenção
Empresas que negligenciam a saúde mental de seus colaboradores tendem a perder seu maior ativo: o capital humano. A falta de políticas de apoio, a ausência de canais de escuta e o despreparo das lideranças agravam ainda mais o cenário.
Promover ações como rodas de conversa, palestras sobre saúde emocional, escuta ativa e formação de líderes empáticos são formas eficazes de transformar ambientes. Investir em relações saudáveis no trabalho não é apenas uma questão ética, mas estratégica.
Cada profissional é, antes de tudo, uma pessoa
A convivência diária em um ambiente tóxico compromete não apenas a saúde emocional, mas também a física e social. De acordo com o Journal of Occupational Health Psychology, não apenas a toxicidade nos ambientes está aumentando, como o número de profissionais adoecidos pela ausência de cuidados estruturais cresce a cada ano.
Alguns conseguem manter certo distanciamento emocional e preservar sua saúde, mas isso depende de uma estrutura psíquica estável e, nem sempre, é possível. Por isso, é fundamental que cada trabalhador se questione:
- Esta empresa está disposta a mudar sua cultura?
- Consigo melhorar minhas relações no ambiente atual?
- Existe um plano real de crescimento aqui?
Se as respostas forem positivas, vale tentar transformar o cenário. Mas se a percepção for de que nada mudará, é preciso reconhecer: existem outros caminhos. E cuidar da saúde emocional, física e social deve ser sempre prioridade. Afinal, esse é o nosso bem mais precioso.
*Dorli Kamkhagi é doutora em psicologia clínica e mestre em gerontologia
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)