No Brasil, o exame mais associado à detecção do tumor de colo de útero é o Papanicolau. E ninguém vai falar mal dele aqui! Mas o fato é que, sozinho, o método às vezes deixa passar uma lesão cancerosa nessa região.
Para flagrar a presença do vírus antes de ele causar estragos é que existe o tal teste de HPV. Por meio de uma coleta semelhante à do Papanicolau, o ginecologista fica sabendo, dias após a realização do exame, se a paciente carrega esse inimigo microscópico.
“Ele identifica a presença do DNA de diferentes subtipos de HPV no colo do útero”, detalha Neila Maria de Gois Speck, ginecologista da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Isso significa que o exame é capaz de, digamos, denunciar qual versão do vírus invadiu a paciente.
Mas por que isso é importante? Ora, alguns subtipos — principalmente o 16 e o 18 — são associados ao câncer de colo de útero. Já outros, como o 6 e o 11, provocam verrugas genitais. Obviamente, saber contra qual adversário você está lidando ajuda a determinar os próximos passos.
Resultado positivo não é sinônimo de câncer
Mesmo a presença de um tipo cancerígeno de HPV não quer dizer que a mulher tem ou terá um tumor de colo de útero. Aliás, na maioria dos casos, o sistema imune consegue se livrar sozinho desse oponente antes que ele provoque mutações perigosas.
“Ao detectarmos o vírus, costumamos fazer um acompanhamento mais próximo, eventualmente com exames complementares”, explica Neila. Ou seja, o resultado positivo não vai necessariamente exigir cirurgias ou procedimentos invasivos, e sim uma maior atenção para pegar eventuais lesões no começo.
Já se o teste não acusar nada, a pessoa só precisa repeti-lo cinco anos depois. É uma vantagem em relação ao Papanicolau, que cobra visitas anuais ao ginecologista.
Infelizmente, muitas pacientes não recebem a devida orientação por aqui e, assim, encaram um eventual resultado positivo do teste de HPV como um atestado de que possuem câncer. Fora isso, há casos em que profissionais desinformados submetem a mulher a tratamentos agressivos sem a presença de lesões aparentes.
“Falta um pouco de conhecimento inclusive sobre a idade ideal para receitar o exame”, contextualiza Neila. Veja: antes dos 25 anos, uma quantidade significativa das mulheres foi infectada com o HPV.
Ocorre que, como já dissemos, a maioria vai se livrar dele por conta própria. “Não há motivo para fazer o teste nessa faixa etária, uma vez que o resultado positivo não tem muita relevância. Ele só vai gerar preocupação”, argumenta Neila.
Agora, se depois da terceira década de vida o HPV é notado, a probabilidade de ter resistido aos ataques do sistema imunológico da hospedeira é maior. Daí porque valeria a pena se submeter a esse exame a partir dessa idade.
O teste de HPV está disponível?
Atualmente, ele integra o rol de procedimentos obrigatórios da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Isso quer dizer que é ofertado a quem possui um seguro privado. No momento, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o Papanicolau para a triagem do câncer de colo de útero.
Isso, por sua vez, gera um paradoxo: enquanto as brasileiras que dependem do sistema público não têm acesso ao exame, as que recorrem ao privado muitas vezes passam pelo procedimento sem necessidade “apenas porque é de graça”.
A assessoria da Roche Diagnóstica, responsável pelo teste do HPV, informou que a empresa está discutindo com o Ministério da Saúde a possibilidade de inclui-lo no SUS. Uma das justificativas é a de que, embora mais caro em um primeiro momento, ele evitaria uma série de exames de Papanicolau. Isso sem contar os casos em que dispensaria tratamentos muito custosos contra o câncer — geralmente empregados quando a doença é percebida em fases avançadas. Resumindo, a estratégia economizaria dinheiro no médio e longo prazo.
Nos Estados Unidos, o método é indicado para rastrear mulheres com 25 anos ou mais. Será que o mesmo vai acontecer por aqui no futuro?
Leia também: novo teste de HPV chega ao Brasil