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Vírus Marburg: entenda por que ele está na mira da OMS

Organização Mundial da Saúde acompanha surto do vírus na Guiné Equatorial; agente infeccioso vem de morcego comum na África e causa hemorragia grave

Por Rico Russo
Atualizado em 17 abr 2023, 12h52 - Publicado em 28 fev 2023, 16h44

No início de fevereiro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou um surto do vírus Marburg na Guiné Equatorial. O último boletim, de 23 de fevereiro, constatou nove mortes, quatro casos prováveis e outros quatro suspeitos. Mais 34 pessoas estão em acompanhamento, pois tiveram contato com os doentes.

Notícias como essa despertam o medo de uma nova pandemia, porém o risco de esse vírus se espalhar da mesma forma que o coronavírus é baixo, segundo especialistas.

A tendência é observarmos surtos regionais, já que os bloqueios de casos suspeitos costumam ser eficientes. De qualquer forma, a OMS está atenta.

“A maior estrutura de testes está no Senegal, ou seja, fora do país em que se identificou o surto. Então, as atualizações sobre a situação levam tempo. Isso é o que mais preocupa os agentes de saúde, porque essa demora pode significar que há mais casos não reportados”, informa o virologista Edison Luiz Durigon, professor do ICB-USP.

Entenda de onde veio o Marburg e quais os riscos que ele oferece.

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O que é o vírus Marburg e onde ele surgiu?

Esse agente infeccioso pertence à família dos filovírus, a mesma do ebola. Ele causa a doença chamada de febre hemorrágica de Marburg ou, simplesmente, febre de Marburg.

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O vírus foi descoberto em um acidente de laboratório na cidade alemã de Marburg, em 1967, por isso ganhou esse nome. Sete cientistas foram infectados e morreram após manipular células do fígado de macacos trazidos de Uganda.

Na época, houve surto em Frankfurt, outra cidade alemã, resultando em 29 casos naquele país. O vírus chegou ainda à antiga Iugoslávia, hoje Sérvia, com dois infectados, que sobreviveram.

+ Leia também: De varíola dos macacos a Covid-19: vivemos a era das pandemias?

Depois disso, o vírus já provocou surtos no Congo e em Uganda, e casos isolados no Quênia e na África do Sul. Angola registrou o pior deles, em 2005, quando foram registrados 374 casos, e 329 mortes – representando uma letalidade de 88%.

“Esse número varia, mas os menores índices de mortes estão entre 24% e 33%, que são considerados bastante altos”, afirma Carlos Magno Fortaleza, infectologista e presidente da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI).

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Quais as diferenças entre o Marburg e o ebola?

Os dois são, digamos, primos. “Eles são chamados de filovírus pela aparência em forma de filete”, explica o virologista Paulo Eduardo Brandão, professor da USP e colunista de VEJA SAÚDE.

Os dois causam doenças hemorrágicas com sintomas e letalidade similares, sendo que o ebola é um pouco mais mortal e rápido em sua ação.

O ebola foi descoberto depois do marburg, em 1976. Ele tem esse nome porque o primeiro caso surgiu próximo ao rio de mesmo nome, que fica no nordeste do Congo.

Os dois vírus têm como origem os morcegos. Sabe-se que o marburg, especificamente, vem de uma espécie chamada Rousettus aegyptiacus, comum na África, na Arábia e na Turquia. Ele pode adoecer mamíferos, como macacos e porcos e, nós, os seres humanos.

Transmissão: por que há surtos locais e baixo risco de pandemia?

Após os primeiros casos em humanos, o Marburg não depende mais só dos morcegos infectados para se espalhar: ele também pode pular de pessoa para pessoa.

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“Nesse quesito, ele é mais criativo do que o coronavírus. A transmissão pode acontecer a partir de qualquer fluido corporal, como o sangue, por se tratar de uma doença hemorrágica, e também por meio de tosse, espirro e objetos contaminados”, descreve Brandão.

O que ajuda a evitar que ele se espalhe rápido é o fato de os sintomas surgirem por volta do segundo dia da infecção. Com isso, o indivíduo adoece rapidamente e já é isolado.

O tempo de incubação pode chegar a dez dias, mas isso é raro. “Uma pessoa assintomática tem a probabilidade de transmitir o vírus, mas é mais comum que isso ocorra quando os sintomas estão no seu pico”, pondera o virologista Durigon.

+ Leia também: Aquecimento global pode “despertar” vírus capazes de causar doenças

Na África, há surtos maiores porque o sistema de saúde não é tão eficiente e existem costumes que dão oportunidade para o vírus se espalhar. “Em algumas regiões, há contato direto com os mortos durante funerais”, exemplifica Fortaleza. O principal costume é lavar o familiar falecido antes do enterro.

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Sintomas e diagnóstico

Os primeiros sinais são semelhantes aos de outras doenças hemorrágicas mais comuns por aqui, como leptospirose, a dengue, a malária e a febre amarela. Esses sinais iniciam de forma abrupta:

  • Febre alta
  • Dor de cabeça intensa
  • Mal-estar intenso
  • Dores musculares

A doença pode ser confirmada por meio de exames de sangue, testes de antígeno ou RT-PCR.

Por volta do terceiro dia, também é possível observar:

  • Diarreia intensa
  • Dor abdominal
  • Cólicas
  • Náuseas e vômitos

Segundo informações da OMS, muitos pacientes desenvolvem manifestações hemorrágicas graves entre 5 e 7 dias após a infecção, e os casos fatais tendem a apresentar algum tipo de sangramento, geralmente em várias áreas.

Ao afetar o sistema nervoso central, o Marburg pode provocar confusão, irritabilidade e agressividade. A morte acontece mais frequentemente entre o oitavo e nono dias após o início dos sintomas.

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Tratamento

Não há um tratamento que neutralize a ação do vírus. A sobrevivência depende de alguns cuidados para aliviar os sintomas e brecar as hemorragias.

Hidratação e transfusão de sangue são algumas medidas bem-vindas. É importante reduzir a febre e manter a pressão arterial controlada.

Prevenção

No Brasil, não há a espécie de morcego que pode carregar o vírus Marburg. Por isso, o risco de pegar a doença diretamente desse animal só existe entre quem fizer uma viagem até os países que já registraram surtos.

“Em alguns países africanos, existe o costume de consumir carne de morcego, mas o contato direto com o animal já é suficiente para contrair o vírus, porque ele é expelido pelas fezes e pela urina”, explica Durigon.

Mas, de novo, cabe dizer que um indivíduo contaminado pode passar a doença adiante para outras pessoas. Por isso, embora ainda não exista motivo para pânico por aqui, precisamos aproveitar esses surtos para refletir mais sobre a estrutura de vigilância atual no Brasil.

“Seria importante termos laboratórios e enfermarias de nível 4 [máxima proteção] para que os profissionais de saúde que tenham contato com um  caso suspeito não adoeçam”, afirma o virologista.

Como os sintomas são repentinos, o doente corre para o hospital, fazendo com que os profissionais de saúde sejam um grupo de risco importante para a doença.

Vacina contra o Marburg

Existe uma vacina contra o vírus ebola, e há pesquisas semelhantes para produzir uma contra o Marburg. Um imunizante desses está sendo conduzido nos Estados Unidos, e  os primeiros resultados já foram divulgados.

A fórmula é a de uma vacina que utiliza um vetor viral não-replicante (que não causa infecção) de adenovírus de chimpanzé (semelhante à da farmacêutica Astrazeneca contra o coronavírus).

+ Leia também: Qual a diferença entre as vacinas contra a Covid-19?

Ela foi testada em humanos saudáveis nos Estados Unidos e teve resultados positivos quanto à segurança e a resposta de anticorpos. São passos importantes, mas agora é preciso ter mais testes na África, especificamente nas regiões de risco.

“Como a vacina contra o ebola teve resultados animadores em países da África, a tendência é que ocorra o mesmo com esse imunizante. Com esses últimos surtos, espera-se que esses estudos ganhem prioridade”, afirma Durigon.

 

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