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Vacinas sofrem crise de confiança em boa parte do mundo, segundo pesquisa

Dados de 149 países mostram cenário preocupante de desconfiança, que pode provocar a volta de doenças do passado e até sabotar o controle da Covid-19

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 9 fev 2021, 11h00 - Publicado em 15 set 2020, 09h42

Em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) listou a hesitação vacinal (atraso ou recusa em tomar vacinas) como uma das dez maiores ameaças à saúde pública. Pois um levantamento recentemente publicado no The Lancet justifica essa preocupação: cada vez menos gente encara a vacinação em massa como uma estratégia segura e eficaz de proteger a população de diferentes doenças.

O artigo reuniu informações de 149 países, baseado em pesquisas que ouviram mais de 280 mil pessoas. O megaesforço foi coordenado pelo Vaccine Confidence Project, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, na Inglaterra.

Os dados analisados foram coletados entre 2015 e 2019. Nesse período, o nível de confiança nas vacinas diminuiu em diversos países, incluindo o Brasil. Por aqui, a quantidade de entrevistados que concordam fortemente que os imunizantes são seguros caiu de 73% para 63%.

Justiça seja feita, a taxa supera a de vários países. O problema está nessa tendência de redução — e que não se resume à segurança das vacinas. Em 2015, 75% dos brasileiros concordavam plenamente que elas eram eficazes; agora são 56%.

Coincidência ou não, o país acaba de atingir seus índices mais baixos de cobertura vacinal da história entre as crianças.

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Lugares onde a situação é mais crítica

Mentiras sobre a segurança e dificuldades de comunicar sobre a importância das vacinas parecem ser os maiores responsáveis pela queda. É o caso do Japão, onde relatos não confirmados de reações adversas graves à vacina do HPV fizeram o país figurar entre os que menos confiam nas doses. No Brasil, algo similar aconteceu no Acre — pesquisas recentes já descartaram qualquer associação do tipo.

Raramente a crise de confiança decorre de problemas com a composição da vacina em si. Mas a verdade é que isso também aconteceu. Em 2015, as Filipinas estavam entre as dez nações que mais confiavam na segurança dessa estratégia preventiva contra infecções. Dois anos depois, um imunizante contra a dengue (da Sanofi) foi aplicado em 850 mil crianças antes que se descobrisse que ele realmente poderia ser perigoso em determinadas situações.

O escândalo fez com que o país caísse para a 70ª posição do ranking de confiança. Eventos do tipo são raríssimos, mas mostram como é importante realizar estudos clínicos rigorosos com as vacinas, além de responder rapidamente às preocupações populares sobre o tema, justificadas ou não.

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O curioso é que, também nesse período, tivemos prova e mais provas de que os imunizantes são seguros. O boato que associa a tríplice viral ao autismo, por exemplo (baseado em um estudo comprovadamente fraudulento), foi refutado em 2019 mais uma vez, em uma revisão sistemática envolvendo meio milhão de pessoas.

Mesmo assim, estima-se que até 30% dos pais norte-americanos ainda acredite nisso, segundo os médicos Daniel Salmon e Matthew Z Dudley, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. O dado foi apresentado em um comentário também publicado no The Lancet.

Para eles, a lentidão na resposta científica permite que boatos ganhem corpo até que sejam desmentidos.

Essa crise de reputação precisa ser contornada com urgência. O risco vai além do retorno de doenças que mataram aos milhares no passado, caso do sarampo e da poliomielite. Todo o investimento feito para desenvolver uma vacina contra a Covid-19 pode ser desperdiçado se as pessoas relutarem na hora de tomarem suas doses.

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