Nos últimos anos, a ciência tem tem indicado os vírus como possíveis causadores de alguns tumores. Dentre os mais importantes neste contexto, está o papilomavírus humano (HPV).
Na verdade, a sigla representa um grupo de mais de 200 vírus, que infectam pessoas com muita frequência. Para ter ideia, atualmente, estima-se que 80% da população sexualmente ativa será infectada por algum dos HPV durante a vida, representando cerca de 700 mil novos casos de infecção ao ano somente no Brasil.
Depois do contágio, o vírus pode passar a residir nas células epiteliais escamosas, que fazem parte da superfície da pele e também de mucosas, como, por exemplo, a mucosa oral e dos órgãos sexuais. A principal forma de transmissão é pelo contato íntimo, principalmente durante a atividade sexual, seja ela vaginal, anal ou oral.
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HPVs e HPVs
Os possíveis problemas de saúde relacionados ao vírus variam conforme seu tipo. Existem os chamados de baixo risco (incluindo os tipos 6 e 11), que são associados a verrugas cutâneas e genitais, e que raramente evoluem para câncer.
Já os subtipos de HPV considerados de alto risco (como o 16 e 18), podem causar uma infecção crônica, levando a um dano recorrente nas células epiteliais infectadas, que pode evoluir para o câncer.
Dentre os tumores que podem estar associados a infeção pelo HPV estão os de colo de útero, vulva e vagina, pênis, ânus, boca e garganta. Alguns desses são importantes problemas de saúde pública no Brasil. O câncer de colo de útero, por exemplo, é o segundo mais frequente entre as mulheres, atrás do câncer de mama.
Prevenir é possível
Atualmente, a principal forma de prevenir o HPV e suas consequências é a vacinação. O imunizante disponibilizado na rede pública brasileira é quadrivalente e protege contra os subtipos mais comuns de baixo risco (6 e 11) e alto risco (16 e 18). E existe, na rede particular, a vacina nonavalente, que inclui mais tipos ligados aos tumores.
Os estudos realizados revelaram uma proteção praticamente completa da vacina quadrivalente em relação às lesões pré-cancerígenas, que causam 90% dos tumores relacionados ao HPV, e que tal proteção não se reduziria com o passar do tempo após a vacinação completa.
No geral, a vacina também se demonstrou bastante segura. Para a maior eficácia, o ideal é que o produto seja administrado para crianças e jovens antes do início da atividade sexual, preferencialmente entre 9 e 14 anos. A indicação mais ampla seria para meninas e mulheres de 9 a 26 anos de idade e meninos de 9 a 14 anos.
A meta atual é de que 80% da população elegível a vacina esteja vacinada. Com isso, espera-se uma importante redução na incidência de cânceres relacionados ao HPV nos próximos anos.
Infelizmente, o número de pessoas vacinadas está atualmente aquém do desejado (cerca de 57% das meninas e 37% dos meninos). Existem inúmeros motivos que explicam esses números, incluindo falta de conhecimento sobre o vírus HPV e suas consequências, desconhecimento da vacina e questionamentos infundados sobre a eficácia e segurança da mesma.
É importante a disseminação do conhecimento para melhorar essa cobertura vacinal, tornando os tumores associados ao HPV cada vez mais raros.
*Denis Jardim é oncologista, professor de pós graduação no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e membro do Comitê de Tumores Genitourinários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)