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Uso da cirurgia bariátrica é ampliado entre diabéticos no Brasil

Decisão baixa o limite mínimo de peso para esses pacientes recorrerem à cirurgia, sob a alegação de que isso vai ajudar a controlar o diabetes

Por Theo Ruprecht e o Chloé Pinheiro
Atualizado em 8 Maio 2019, 18h49 - Publicado em 7 nov 2017, 19h07
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  • A cirurgia bariátrica não visa só o emagrecimento. Há algum tempo, o Conselho Federal de Medicina (CFM) liberou seu uso para pacientes que não conseguem controlar o diabetes tipo 2, desde que tenham um índice de massa corporal (IMC) acima de 35 – ensinamos a calcular o seu valor no fim da reportagem, mas estamos falando de casos de casos de obesidade severa.

    A novidade? Um parecer da mesma entidade acaba de liberar a técnica para vítimas dessa doença com IMC entre 30 e 34,9, considerados obesos de grau 1. Ou seja, para diabéticos do tipo 2 menos cheinhos.

    Antes de entrar na decisão em si e na polêmica por trás dela, convém dar magnitude à mudança com um exemplo. Um indivíduo com níveis de glicose descontrolados de 1,75 metro teria de pesar 107 quilos para chegar àquele limite de 35. Agora que o sarrafo mínimo do IMC baixou para 30, esse mesmo enfermo poderia ir para a faca a partir dos 92 quilos.

    “Estimamos que 70 a 80% dos diabéticos do tipo 2 têm menos do que 35 no IMC. Nem todos são candidatos para o procedimento, mas o acesso ao tratamento foi ampliado”, defende o cirurgião Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

    Para justificar a mudança, o relatório do CFM reitera que essa operação ajuda, sim, a reduzir as taxas de glicose. Primeiro porque, claro, ela contribui para a perda de peso, uma medida fundamental no manejo do diabetes tipo 2. Segundo porque estimula a produção de substâncias corporais que, no fim das contas, reduzem a resistência à insulina e preservam o pâncreas, o órgão que produz esse hormônio.

    Em um parecer que serviu de base para o documento do CFM, membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica – assim como de outras instituições – escrevem que, segundo trabalhos científicos, o tratamento cirúrgico normaliza a glicemia de diabéticos em 81% das vezes em um período de três anos. Outro artigo associa o procedimento a níveis glicêmicos normais durante ao menos dez anos em 36% dos casos.

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    Além disso, outros países que já aderiram a essa alteração foram usados de exemplo. A Inglaterra e os Estados Unidos estão entre eles.

    Mas calma! A decisão não agradou a todos – e ainda é cheia de restrições, como você verá agora.

    O outro lado da história

    A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) também haviam enviado uma nota ao CFM sobre o assunto. No entanto, essas instituições eram contrárias à redução do limite no IMC de 35 para 30.

    No comunicado, critica-se alguns dos estudos levantados para ampliar a recomendação da cirurgia bariátrica aos diabéticos. Eles, por exemplo, avaliariam um número pequeno de pacientes com IMC entre 30 e 34,9.

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    Mais: faltam dados sólidos sobre a mortalidade dos indivíduos com diabetes tipo 2 submetidos à técnica, assim como na redução de encrencas como infarto e AVC – o próprio comunicado do CFM admite isso. Assim, não daria pra ter certeza se essa operação fará enfermos viverem mais e sofrerem menos com as consequências mais danosas da doença em questão.

    O cirurgião Ricardo Cohen não vê dessa maneira. “A decisão de diminuir o limite do IMC para 30 veio até atrasada. Temos evidências fortes dos benefícios da cirurgia metabólica para o controle do diabetes”, assegura.

    Liberou geral?!

    Pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri demonstra preocupação com o parecer do CFM. Isso porque poderia incentivar o atropelamento de etapas imprescindíveis antes da operação.

    “O documento pede que a doença esteja descontrolada há mais de dois anos antes de optar pela cirurgia. Mas o texto é subjetivo em alguns momentos”, opina. Em resumo: haveria um risco de pacientes sem necessidade acabarem indo para a faca.

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    Segundo Couri, quem tem condições de pagar pode ir direto ao cirurgião e solicitar a bariátrica. “Mas, para ela ser eficaz, deve ser indicada por um endocrinologista de confiança, com o aval de uma equipe multidisciplinar, com nutricionista e psicólogo”, arremata.

    Em comunicado à imprensa, o médico Cid Pitombo, recordista em cirurgias bariátricas pelo Sistema Único de Saúde, também pediu cautela. “Em obesos mórbidos, o método é indiscutivelmente benéfico, mas me preocupa a ideia de que isso seja aberto de uma forma mais ampla”, afirma. “Se você é portador de diabetes, está com o IMC entre 30 e 35, antes de ser operado, tenha certeza que tanto seu cirurgião quanto o grupo de endocrinologistas são especializados no assunto. Não se arrisque”, conclui.

    Por outro lado, cabe ressaltar que o parecer do CFM afirma, com todas as letras, que a cirurgia bariátrica só deve ser realizada após a autorização de dois endocrinologistas. Ela também exige o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar antes e depois do procedimento. E define, como idade mínima, os 30 anos – a máxima é de 70.

    No mais, os pacientes só devem recorrer ao método se o diabetes foi diagnosticado há menos de dez anos, quando o pâncreas está mais preservado e, portanto, a cirurgia confere mais benefícios. Dependentes químicos ou indivíduos com histórico de doença mental precisam passar por uma avaliação do psiquiatra antes de receberem autorização. Entre outras coisas.

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    “Não há como ser mais restritivo do que isso. Se algumas pessoas ou profissionais não seguem as regras, a culpa não é do parecer do CRM”, argumenta Cohen. “Temos de monitorar os casos e nos certificar de que todas as medidas de segurança serão tomadas”, diz.

    Se fosse para resumir tudo isso em algumas poucas linhas: independentemente do IMC e do controle do diabetes, a cirurgia bariátrica trará mais resultados benéficos – e menos efeitos colaterais, que não são poucos – quando entra em cena em casos muito bem selecionados, nos quais o paciente passa por um acompanhamento antes, durante e depois da operação.

    O tal IMC

    Para saber o seu IMC, basta dividir o seu peso (quilos) pela altura (metros) ao quadrado. Se o número ficar entre 20 e 25, você está em forma.

    Se estiver entre 25 e 30, é sinal de sobrepeso. Pessoas com IMC acima de 30 são consideradas obesas de grau I; acima de 35, de grau 2. E, quando estouram o patamar de 40, possuem obesidade de grau 3 (também chamada de obesidade mórbida).

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