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Libido, coração, cansaço: a verdade sobre o uso de testosterona em mulheres

Especialistas enfatizam que o hormônio deve ser utilizado apenas em um contexto clínico específico, assim como sua dosagem

Por Lucas Rocha Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
7 Maio 2025, 14h00
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Existe somente uma indicação de terapia de testosterona para mulheres (Freepik/Reprodução)
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A utilização de testosterona por homens e mulheres é uma das questões médicas mais polêmicas dos últimos tempos. No contexto feminino, circula na redes sociais um conjunto de desinformações que alimentam mitos e aumentam o uso indevido do hormônio.

As promessas são diversas: recuperação da libido, melhora do desempenho esportivo, perda de gordura e até mesmo efeitos protetivos ao coração.

As evidências científicas disponíveis, no entanto, não comprovam os benefícios. Pelo contrário, estudos destacam efeitos colaterais como o crescimento anormal de pelos, engrossamento da voz, aumento de tamanho do clitóris, surgimento de acne, entre outros problemas ao organismo.

“A mulher produz testosterona em quantidade mínimas. Portanto, é preciso que fique bem claro que não existe nenhuma síndrome ou patologia associada ou descrita com baixa do hormônio entre elas”, destaca o médico endocrinologista Amélio Fernando Godoy Matos, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

Antes de mais nada, é preciso esclarecer que há somente uma indicação de terapia de testosterona para mulheres reconhecida e respaldada por diretrizes nacionais e internacionais. O recurso é válido como estratégia para o tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH) em mulheres na pós menopausa.

A informação é destaque de uma nota conjunta divulgada recentemente pela SBEM, pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e pelo Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

A publicação teve como objetivo combater fake news sobre o tema e alertar para os riscos da prescrição hormonal sem indicação formal.

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+ Leia também: Testosterona: quando dosar e quem realmente precisa dela

Testosterona pode aumentar a libido?

O transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH) é definido como a ausência ou redução significativa da libido ou motivação para relações sexuais.

Um amplo estudo com a participação de 14 mil mulheres entre 40 e 80 anos, de 29 países, apontou que até 43% delas apresentavam queixas relativas ao transtorno. Os achados foram publicados no The Journal of Sexual Medicine.

A condição se manifesta em critérios específicos avaliados pelo médico:

  • desejo espontâneo reduzido ou ausente
  • desejo responsivo reduzido ou ausente diante de estimulação
  • incapacidade de manter o desejo ou interesse durante a atividade sexual por um período de pelo menos seis meses, causando sofrimento

As instituições médicas destacam que o diagnóstico de TDSH é clínico e de exclusão. Ou seja, antes de considerar a terapia com testosterona o especialista deve avaliar e tratar outras causas associadas à baixa da libido.

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E não são poucas, viu? A lista inclui problemas como:

  • baixos níveis de estrogênio
  • depressão e outros transtornos psiquiátricos
  • efeitos colaterais de antidepressivos
  • obesidade e síndrome metabólica
  • disfunções no relacionamento conjugal ou fatores psicossociais

+ Leia também: Desejo em baixa? Confira 6 causas e saiba como aumentar a libido

Mulheres precisam fazer dosagem de testosterona?

Os níveis de testosterona são naturalmente baixos na mulher, embora tenham um papel importante para o organismo. Portanto, não há um limiar laboratorial bem definido que caracterizaria uma deficiência no hormônio.

Os especialistas são categóricos ao afirmar também que não há uma queda abrupta da testosterona na menopausa. Na realidade, os níveis caem progressivamente a partir da terceira década de vida, com redução discreta e gradual.

Nesse cenário, a dosagem deve ser feita apenas em um contexto específico: a investigação de possível alta desse hormônio, que caracteriza um quadro chamado hiperandrogenismo.

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A condição, causada por problemas como síndrome do ovário policístico, tumores ovarianos ou adrenais e síndrome de Cushing, pode levar à manifestação de características masculinas, como excesso de pelos, disfunções menstruais, alterações na voz, queda de cabelo e acne.

“Essas manifestações após a menopausa levantam a suspeita de hiperandrogenismo. Nesse caso, deve-se realizar a dosagem de testosterona e de outros androgênios para determinar a origem desses sinais, que podem vir de um tumor ovariano ou da suprarrenal, por exemplo”, reforça o médico.

As entidades médicas reforçam que não há indicação de dosagem para diagnosticar deficiência androgênica em mulheres saudáveis ou com queixa de baixa libido.

O teste também não é recomendado para rastrear “níveis baixos” como justificativa para prescrição de testosterona.

Por fim, frisam que a prática como exame de rotina ou sob alegação de “déficit androgênico feminino” não possui respaldo científico e pode induzir o uso inadequado de remédios e prescrição hormonal desnecessária.

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Testosterona protege o coração da mulher?

Não há evidências de que terapias com testosterona melhorem marcadores de síndrome metabólica ou a saúde cardíaca de mulheres na menopausa.

Na verdade, todos os estudos clássicos com o hormônio mostram um aumento do risco cardíaco em doses suprafisiológicas (ou seja, acima do considerado normal para aquela pessoa).

Testosterona ajuda contra o cansaço?

Frequentemente, médicos e outros profissionais de saúde oferecem tratamentos à base de testosterona para combater a falta de disposição e dar mais energia para o dia a dia.

A nota emitida pela SBEM, Febrasgo e SBC reforça que esse uso não é amparado por evidências científicas.

Embora a reposição hormonal na menopausa seja uma estratégia importante e amplamente estudada pela ciência, tratamentos hormonais indevidos podem se aproveitar dessa chancela e oferecer riscos sérios à saúde. Clique aqui para ler mais sobre o assunto.

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