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Antidepressivos e perda de libido: o que você precisa saber

Grande parte dos remédios contra depressão está associada à diminuição do desejo sexual, mas especialistas contam com alternativas para lidar com isso

Por Lucas Rocha
Atualizado em 11 jan 2024, 10h20 - Publicado em 9 jan 2024, 17h41

O risco de queda de libido (chamado também de desejo sexual) devido ao uso de medicamentos antidepressivos é uma preocupação comum de pacientes que chegam aos consultórios em busca de tratamento para condições como a depressão e a ansiedade.

É um fato. Podemos dizer que grande parte desses remédios está associada à diminuição do desejo sexual, mas não todos. Além disso, os indivíduos são afetados de maneira diferente – o famoso cada caso é um caso.

Nesse contexto, tomar como base a experiência de familiares ou de amigos para fazer uma decisão terapêutica pode ser uma furada – até porque não seguir um tratamento para a saúde mental frequentemente traz danos consideráveis, inclusive em relacionamentos afetivos. Na dúvida, consulte alguém que realmente entende do assunto: um psiquiatra.

“Infelizmente, os antidepressivos mais eficazes tendem a diminuir a libido. Mas algumas pessoas tomam doses altas e não têm esse efeito adverso. Além disso, é bom lembrar que a depressão também afeta a libido”, afirma o psiquiatra Antonio Egídio Nardi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

+ Leia também: O que fazer quando a libido cai?

Mecanismo de ação dos antidepressivos

Mas o que explica esse fenômeno?

Os principais medicamentos dessa classe interferem no aproveitamento de substâncias chamadas de neurotransmissores envolvidos em circuitos responsáveis pela estabilidade do humor e das emoções no sistema límbico, a parte emocional do cérebro.

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Nesse arsenal de fármacos, destacam-se os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), que são amplamente utilizados devido à sua segurança e efeitos adversos mais leves.

O médico neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, professor livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (SP), resume como eles funcionam: “Os ISRS inibem principalmente a recaptação do neurotransmissor serotonina, o que aumenta sua disponibilidade para os neurônios”.

⁠Do ponto de vista comportamental, a serotonina tem como principais funções a regulação do humor, sono, libido, ansiedade e apetite. Embora se saiba que a depressão e mesmo a ação desses fármacos não se resumam à serotonina, a ideia é a de que esses medicamentos, ao deixarem-na mais disponível, aprimorem os sintomas e o estado de humor da pessoa deprimida com o tempo.

+ Leia também: O que não dizer para alguém com depressão

Só que, por mais que os ISRS atuem de forma mais concentrada na serotonina, ainda assim pode haver uma diminuição da dopamina, relacionada ao desejo sexual e à excitação. Então mesmo eles são capazes de reduzir a libido (além do fato de que a interferência em circuitos tão complexos como o cérebro pode gerar efeitos colaterais, mesmo que a gente não saiba de onde eles vêm).

O problema pode atingir homens e mulheres, com variações além da falta de desejo. Para elas, os impactos incluem a redução da lubrificação natural e aumento da dificuldade em atingir o orgasmo. Entre os homens, são observados efeitos como a perda da ereção e o tempo prolongado para ejacular (não à toa, há quem use esses medicamentos contra a ejaculação precoce).

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O tratamento da depressão é essencialmente medicamentoso (Foto: Christina Victoria Craft/Unsplash/Divulgação)

Uso correto da medicação (e doses de paciência)

Esse efeito colateral dos antidepressivos é alvo de uma discussão de longa data, potencializada principalmente pelas redes sociais.

O receio de perder o desejo sexual chega a afetar até mesmo a busca por ajuda especializada. O psiquiatra da UFRJ afirma que é comum pacientes chegarem ao consultório com essa apreensão.

“Principalmente quando irão tomar o antidepressivo por outra causa que não seja a depressão, como para transtorno de pânico ou enxaqueca. São doenças em que a libido não está comprometida e o antidepressivo pode diminuí-la”, explica Nardi.

Há inclusive quem deixe de tomar o antidepressivo por conta própria devido à perda de desempenho sexual. “Em geral, isso ocorre quando o paciente melhora da depressão. Ao abandonar o tratamento, a depressão retorna”, raciocina Nardi.

Além disso, interromper a terapia sem orientação de um profissional de saúde pode trazer problemas como distúrbios do sono, tremores, oscilações de humor e irritabilidade excessiva.

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+ Leia também: Conheça sete hábitos de vida que podem prevenir a depressão

O tratamento de transtornos mentais requer paciência. Diferentemente de remédios para a dor de cabeça, por exemplo, os efeitos de antidepressivos costumam ser sentidos de duas a quatro semanas de uso – e a sua eficácia está condicionada à continuidade do tratamento, de acordo com o prazo estipulado pelo psiquiatra.

A perda de libido que a depressão causa

A perda de libido faz parte da lista de sintomas da depressão e de outros transtornos. Um estudo brasileiro publicado no periódico Nature mostrou que quase 83% das mulheres e 63% dos homens deprimidos vivenciam algum tipo de disfunção sexual.

Nesse sentido, é essencial tratar primeiramente o problema e, em seguida, buscar soluções para a recuperação do desejo sexual. Até porque, a bem da verdade, um indivíduo com uma condição psiquiátrica como essa muitas vezes nem pensa em sexo.

“Estamos falando de uma condição potencialmente grave, que pode levar a pensamentos de suicídio inclusive. A libido fica inteiramente em segundo plano”, pondera Nardi.

Ou seja, supervalorizar a questão da libido nesse momento não costuma estar em acordo com as vontades da própria pessoa.

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Causas da perda de desejo sexual

Entender o que está por trás dessa falta de vontade é fundamental para a escolha da melhor forma de abordagem do problema.

A psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da USP, afirma que a redução do desejo sexual pode ser compreendida dentro de três grandes bases: a física, a psíquica e a relacional.

“Alguém que tenha falhas na área sexual por problemas como diabetes, alterações hormonais ou doenças cardiovasculares, por exemplo, apresenta questões de base física”, explica.

A questão psíquica envolve o estado de humor da pessoa – o que inclui a presença e o tratamento de doenças como a depressão. “Mas, às vezes, a pessoa está perfeita no plano físico e psíquico, mas está em um relacionamento desgastado. Isso leva à disfunção de base relacional”, detalha Carmita.

+Leia também: As fases de um relacionamento abusivo

O que pode ajudar

O tratamento de um eventual transtorno mental pode ajudar a trazer de volta a libido. Além disso, a psiquiatria tem outros recursos em mãos para lidar com o problema.

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Na busca pelo melhor resultado possível, os médicos podem alterar dosagens, trocar os medicamentos ou combinar compostos para ajustar o tratamento de modo a minimizar diferentes reações adversas. Uma conversa clara e empática também pode ajudar a entender realmente os prós e contras do seguimento de determinado tratamento, diante do contexto daquela pessoa.

Vale lembrar que a melhor medicação para uma pessoa pode não ser a mais indicada para outra. Por isso, esse tipo de fármaco deve ser consumido apenas com prescrição e acompanhamento médico.

Na ausência de melhora da libido com o tratamento do transtorno, especialistas recomendam a investigação de outras causas, como problemas hormonais, doenças crônicas, excesso de álcool ou uso de outros medicamentos. Se esse for um incômodo, sempre vale a pena buscar apoio especializado.

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