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Superfungo transmitido sexualmente: o que se sabe sobre casos na Europa e EUA

Micro-organismo não é novo, mas apresenta alterações genéticas e resistência a medicamentos antifúngicos

Por Lucas Rocha
11 nov 2024, 18h00
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  • O aumento de casos na Europa e nos Estados Unidos de uma infecção por fungo transmitida por contato sexual chama a atenção de autoridades sanitárias.

    Os episódios estão associados a uma espécie chamada Trichophyton mentagrophytes, já conhecida e descrita pela ciência. E provocam coceira intensa e outras complicações.

    A novidade é que o micro-organismo apresenta alterações genéticas e uma nova via de contágio: as relações sexuais. Além disso, têm sido relatadas dificuldades no tratamento devido ao aparecimento de resistência do agente aos medicamentos antimicrobianos.

    “Nas infecções já descritas na literatura, as lesões costumavam surgir no tronco, no braço, na área inguinal e na cabeça”, afirma Manoel Marques Evangelista de Oliveira, pesquisador do Laboratório de Taxonomia, Bioquímica e Bioprospecção de Fungos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

    Nos casos mais recentes, foram relatadas lesões na virilha, genitais e nádegas.

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    Que fungo é esse?

    O Trichophyton mentagrophytes é um fungo emergente, capaz de causar lesões na pele, que pode ser transmitido sexualmente. O germe também pode se espalhar por meio de roupas, toalhas e lençóis que não foram limpos após o uso por alguém infectado.

    Os pacientes apresentam feridas avermelhadas, em formato de círculo e que provocam coceira.

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    Algumas evoluem para machucados mais sérios e persistentes, que causam inflamação, dor e podem deixar cicatrizes ou levar a infecção bacteriana secundária.

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    Casos na Europa e nos EUA

    De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, esse tipo de infecção já foi relatado em 2021 na França, e também entre pessoas que viajaram para o Sudeste Asiático para turismo sexual.

    Em junho deste ano, foi reportado um caso da micose nos EUA, de um homem que desenvolveu lesões genitais após viajar para vários países da Europa e para a Califórnia, com histórico de contato sexual com várias pessoas durante a viagem. Após o episódio, outros quatro casos foram investigados e confirmados no país.

    Um estudo publicado no periódico Emerging Infectious Diseases em 2023 descreve 13 diagnósticos na França. No trabalho, os autores já enfatizavam a possibilidade da transmissão sexual do patógeno.

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    Mudanças genéticas

    Cientistas identificaram alterações genéticas que podem estar associadas ao novo padrão de comportamento do Trichophyton mentagrophytes. Seria um genótipo, uma espécie de subtipo, até então inédito, agora nomeado de genótipo VII.

    “Na avaliação molecular, foi observado que este genótipo específico a esses casos considerados de transmissão sexual”, detalha Oliveira.

    Apesar dos achados até o momento, mais estudos são necessários para responder quais são estas mudanças genéticas e se elas oferecem vantagens ao micro-organismo, como a facilidade de transmissão, por exemplo.

    “Estamos falando de um patógeno que fez uma adaptação para viver no organismo humano de uma forma diferente, passando a causar lesões mais profundas, que ultrapassam a epiderme e a derme. Começamos a observar casos de disseminação para a corrente sanguínea, que levam a um processo inflamatório maior”, acrescenta o pesquisador da Fiocruz.

    O especialista acrescenta que a doença requer atenção, especialmente em pacientes que têm algum grau de imunossupressão, como as pessoas com HIV descompensado ou outras doenças e tratamentos que abalem a imunidade.

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    Risco de chegar ao Brasil

    Vale ressaltar que até o momento não foram identificadas pessoas com a doença no Brasil. Mas isso pode acontecer.

    “Os casos no mundo ainda são poucos, mas a infecção pode chegar ao país devido à alta circulação de pessoas no mundo”, diz o especialista da Fiocruz.

    Ele ressalta, contudo, que a situação é motivo de atenção e vigilância, mas não para alarme da população.

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    Resistência antimicrobiana pode afetar tratamento

    Pode ser difícil fazer exames para detectar se o novo fungo está por trás de uma micose. Para acelerar o tratamento, é indicado que os médicos iniciem o cuidado de maneira empírica, com base nas características do paciente.

    Segundo o CDC, as evidências atuais sugerem que a terbinafina oral (250 mg por dia) é uma opção eficaz para infecções pelo fungo. A terapia pode durar até três meses. Na maior parte dos casos, a micose desaparece após algumas semanas de tratamento.

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    No entanto, foram identificados episódios de resistência antimicrobiana, situação em que o germe não responde aos fármacos típicos. O problema é potencializado pelo uso indiscriminado de antibióticos, que favorece o surgimento de agentes que conseguem driblar os compostos existentes.

    Essas infecções tendem a ser mais graves e podem demorar meses e meses para serem sanadas.

    Para prevenir a transmissão da doença, os profissionais de saúde devem aconselhar os pacientes sobre a importância de evitar o contato pele a pele com as áreas afetadas e de não compartilhar itens pessoais até a resolução dos sintomas.

    Novas pesquisas deverão responder a uma série de dúvidas em aberto, como se preservativos podem ou não proteger do contágio. Outra questão é entender se o fungo tem a capacidade de atingir fluidos corporais, como saliva e esperma, por exemplo.

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