Superbactérias: o que você pode fazer para combater o problema de saúde global?
Essa encrenca está batendo na porta há anos e já mostra seus danos, mas nem hospitais, médicos ou indivíduos estão fazendo a lição de casa

Quando falamos em gripe, é comum lembrar daquele cansaço, vontade de ficar deitado, nariz entupido, tosse, dores de cabeça e garganta. A dengue dá um susto chegando a provocar dores intensas, prostração, febre alta, náuseas e vômitos e muito mais.
Agora, pense em bactérias ou fungos resistentes, que muitas vezes são micro-organismos invisíveis aos olhos humanos, identificados no contexto hospitalar e laboratorial…
Para o paciente e os familiares, a mensagem que fica é de que aconteceu um erro do serviço de saúde que levou a uma infecção hospitalar, uma doença mais duradoura ou difícil de curar. Só que não é bem assim.
A resistência antimicrobiana é considerada um grave problema de saúde pública global, que poderá levar a um exponencial número de mortes até 2050. Leia reportagem especial aqui.
O que eu tenho a ver com esse problema?
Em resumo, ao utilizar determinado medicamento antimicrobiano, bactérias e fungos sensíveis são eliminados e uma outra parte desenvolve mecanismos de resistência.
Ou seja, isso significa que a medicação não vai funcionar para aquele grupo que vai “ganhando força”. É um processo natural. No entanto, o uso excessivo de antibióticos, de maneira indiscriminada, potencializa o fenômeno.
Dessa forma, temos o primeiro aspecto dessa encrenca: problemas comuns e tratáveis atualmente vão se tornar cada vez mais difíceis de lidar e curar. E não é nada muito distante de pessoas comuns, não. Podemos citar, por exemplo, infecções urinárias ou sexualmente transmissíveis, pneumonias e ferimentos cirúrgicos.
Além de grave, trata-se de um problema de todos, incluindo indivíduos de todas as idades e de cada parte do mundo (incluindo países ricos e pobres). E mais: envolve ainda a saúde animal e a produção de alimentos.
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Uso indiscriminado de antibióticos
Ao longo dos tempos, propagou-se a lenda de que antibióticos são medicamentos potentes que resolvem qualquer problema. Mas trata-se um equívoco. Esse tipo de remédio é dividido em diferentes classes e serve apenas para o combate de infecções bacterianas. Vamos imaginar um cenário…
Um paciente que chega ao posto de saúde com um quadro gripal, na imensa maioria das vezes causado por um vírus respiratório, não deve sair de lá com uma prescrição de antibiótico. Só que nem todo mundo entende isso, e o uso indiscriminado ou irregular desses medicamentos é um dos principais fatores que leva à resistência.
Entre as causas para ele, estão a prescrição desnecessária por profissionais médicos. A pressão dos pacientes por uma receita. E mais: a venda irregular por farmácias que driblam a regulação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária que pede a retenção do documento.
Se é um problema de todos, como podemos ajudar?
- Não peça prescrições de antibióticos
- Faça o tratamento seguindo exatamente os dias e horários determinados pelo médico
- Não compre antibióticos ilegalmente
- Não tome restos de antibióticos
- Não aceite antibióticos de familiares e amigos (o que funcionou para eles pode ser ruim ou não ter efeito pra você)
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Falhas dos hospitais
Os hospitais também contam com um papel fundamental no enfrentamento da resistência antimicrobiana. Uma nova pesquisa, realizada pelo Instituto Qualisa de Gestão (IQG), divulgada nesta quarta-feira, 20, traz dados preocupantes sobre o tema.
O estudo aponta que um quinto dos hospitais públicos e privados do Brasil não ajustam corretamente a dosagem de antibióticos, etapa fundamental para se evitar o uso excessivo ou ineficaz.
Os dados foram divulgados no lançamento da campanha “Será que precisa? Evitando a resistência antimicrobiana por antibióticos e antifúngicos”, realizada pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
“Todos os indicadores reforçam a urgência de políticas públicas robustas, precisamos urgentemente combater o uso indiscriminado de antibióticos”, afirma Mara Machado, CEO do IQG.
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A pesquisa realizada em 104 unidades hospitalares do país revelou ainda que 87,7% delas ainda fazem uso empírico de antibióticos. O que quer dizer que trabalham por tentativa e erro.
Para a infectologista Ana Gales, coordenadora do Comitê de Resistência Antimicrobiana da SBI, fazer uso empírico e sem evidências pode levar a outros graves problemas de saúde pública. A resistência aos antibióticos é um fator agravante em muitos casos de morte, por exemplo, em UTIs.
“As infecções causadas por bactérias resistentes são de mais difícil tratamento, prolongam o curso da doença, acabam custando mais caro, aumentando o tempo de internação. Além disso, hoje já temos infecções, tanto na comunidade quanto no hospital, para as quais não temos opções de tratamento”, detalha Gales.