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“Super fungo”: o que tirar do primeiro caso de Candida auris no Brasil

Detectado em um hospital na Bahia, o fungo Candida auris pode ser resistente aos remédios, o que o torna perigoso. Conheças seus sintomas e a transmissão

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 21 mar 2023, 15h56 - Publicado em 21 dez 2020, 12h05
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  • A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou recentemente o primeiro caso de infecção pelo fungo Candida auris no Brasil. Ele foi identificado na ponta do cateter de um homem de 59 anos, que estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital da Bahia.

    Logo após a confirmação, a Anvisa emitiu um alerta de risco para serviços de saúde de todo o país, com orientações de vigilância, prevenção e controle. A notificação da infecção se tornou obrigatória.

    De acordo com o infectologista Flávio Teles, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a grande preocupação está no fato de que esse agente infeccioso tende a ser resistente contra diferentes medicamentos antifúngicos.

    O que é a Candida auris, o que ela causa e como tratar

    Flávio Teles conta que esse micro-organismo havia sido inicialmente detectado em países da Ásia na década de 1990, chegando nos anos 2000 à Europa e América do Norte. “Entre 2018 e 2019, ele foi descoberto na Venezuela, na Argentina e no Chile, mas nunca tinha sido isolado no Brasil”, relata o infectologista, que também é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

    A Candida auris faz parte de uma família de fungos responsáveis pela candidíase. A mais conhecida é a vaginal, causada pela Candida albicans. “Algumas espécies dessa família acometem a pele, as unhas e a mucosa oral”, informa Teles. São, portanto, infecções mais superficiais.

    “A gente se preocupa mais com outra forma muito grave, chamada de candidíase invasiva”, explica o especialista. Também conhecida como candidemia ou sepse por Candida, ela acontece quando o fungo invade a corrente sanguínea. Embora diferentes membros da família possam deflagrar o problema em contextos específicos, a C. auris é a mais agressiva nesse sentido.

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    Quando a candidemia aparece, nosso próprio corpo libera substâncias inflamatórias para combatê-la. Só que a resposta não raro é exagerada, o que ocasiona danos em diferentes órgãos. Esse processo pode matar o paciente — é o desfecho em cerca de 40% a 50% dos indivíduos infectados pela C. auris.

    Os sintomas são febre, alteração da pressão arterial, dificuldade para respirar e aceleração do ritmo cardíaco. “Geralmente, a sepse por Candida ocorre após um período acima de dez a 14 dias na UTI”, complementa Teles.

    Em caso de infecção, os médicos aplicam antifúngicos na esperança de que algum ajude a controlar a C. auris. Aliás, muitas vezes os profissionais já receitam os medicamentos antes de ter a confirmação de que é esse ou outro fungo que está acometendo o paciente. No mais, eles fazem de tudo para lidar com os sintomas e as eventuais complicações.

    Como funciona a transmissão

    Normalmente, a C. auris aparece no ambiente hospitalar. Ela se espalha por instrumentos, roupas de cama e por aí vai. Ou seja, transmissão se dá por contato com pessoas e objetos contaminados.

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    “É por isso que a candidemia surge em pacientes que já estão em estado crítico ou em internamentos prolongados na UTI”, aponta Teles.

    Por que a Candida auris é perigosa e como se proteger

    Estudos destacados pela Anvisa indicam que até 90% das cepas isoladas desse micro-organismo são resistentes a fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas, as principais drogas antifúngicas. Mas não para aí.

    “Ela também é multirresistente aos desinfetantes hospitalares mais usados. Há outras substâncias químicas que funcionam, mas é necessário redobrar as medidas de higiene”, alerta Teles.

    Além disso, a detecção não é tão simples. No Brasil, apenas as unidades do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), que fazem parte da rede do Ministério da Saúde, e alguns hospitais universitários possuem os equipamentos que conseguem identificar o agente infeccioso nos exames de sangue.

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    “Por isso, existe a preocupação de que ele se espalhe pelos hospitais e seja confundida com outras espécies de Candida”, afirma o professor.

    Como o fungo aparece normalmente em pessoas que estão internadas, o maior foco de prevenção é dentro do hospital. Lave as mãos antes, durante e depois da ida a esses ambientes. E evite ficar encostando em tudo.

    Desde a confirmação do caso brasileiro, diversas entidades públicas municipais, estaduais e federais se uniram em uma força-tarefa para implementar medidas de contenção contra a disseminação do fungo.

    “A C. auris não é transmitida facilmente como a Covid-19, mas a comunidade médica precisa estar consciente de que ela existe, porque, se for transferida de um hospital para outro, pode se tornar um grande problema de saúde”, conclui o infectologista. Não devemos entrar em pânico, e sim monitorar a situação de perto.

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