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Subvariante BQ.1 da Ômicron pode gerar novo surto de Covid-19

Esquema completo de vacinação contra o coronavírus continua protegendo contra casos graves. Mas crianças pequenas estão expostas

Por Fabiana Schiavon
9 nov 2022, 17h53
covid omicron
Crianças de até 5 anos estão entre os grupos mais vulneráveis aos efeitos da Covid-19. Nova onda é esperada no Brasil (Foto: David Veksler/UNsplash/Divulgação)
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O Brasil pode passar por uma nova onda de casos de Covid-19 devido à chegada da mais recente subvariante da Ômicron, a BQ.1. Apesar de provocar sintomas similares, ela é mais transmissível do que as outras cepas. A boa notícia é que, com os reforços da vacina em dia, dá para se proteger de casos graves.

A preocupação maior ainda é com os imunossuprimidos, idosos e pessoas com comorbidades. Embora já existam medicamentos para esses grupos, infelizmente não há acesso a eles pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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Outra parcela vulnerável são as crianças pequenas. Em julho, a Anvisa autorizou o uso da CoronaVac para aquelas entre 3 e 5 anos, mas, de acordo com reportagem publicada pela Folha de São Paulo recentemente, só uma a cada 10 crianças de 3 a 4 anos recebeu a primeira dose.

Em setembro, a Anvisa liberou a utilização da vacina da Pfizer dos 6 meses aos 4 anos. Contudo, em um primeiro momento, o Ministério da Saúde permitiu a aplicação somente naquelas com comorbidades. Até agora, no entanto, não houve a aquisição do produto, que tem particularidades em relação ao do público adulto.

Diante desse cenário, há mães que seguem isoladas para proteger seus filhos.

Entenda os novos movimentos do vírus, quais são os tratamentos disponíveis e como proteger cada grupo.

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Quem é a variante BQ.1 e de onde ela veio?

É uma subvariante da Ômicron. Ela é mais transmissível que as anteriores, mas ainda não há dados de que provoque uma doença mais grave – sobretudo diante de indivíduos completamente vacinados.

“A função do vírus é evoluir para conseguir se espalhar cada vez mais. Por isso, cada nova variante ou subvariante que aparece é mais transmissível e tem mais escape da vacina”, informa Alexandre Naime, infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

E isso ocorre porque ela apresenta mutações na chamada proteína spike, que serve de chave de entrada nas células. “Se o vírus tivesse mãos, podemos dizer que, no caso dessa subvariante, elas funcionariam como garras, permitindo a invasão das células com mais facilidade”, explica o médico da SBI.

+ Leia também: Variantes do coronavírus: quem são e como se comportam

A BQ.1 já está circulando há meses nos Estados Unidos e na Europa, levando a um aumento de infecções, mas não a uma alta de mortes.

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Especialistas explicam que esse comportamento tem a ver com a imunização. Pois é: mesmo com as mutações do vírus, as vacinas ainda conseguem impedir a evolução para casos graves ou morte. Mas essa blindagem considera a vacinação completa, ou seja, com as doses de reforço.

Uma falha nesse esquema representa um grande risco, como aponta Gilberto Berguio Martin, médico sanitarista e professor de medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Quem não está imunizado vai sofrer mais com a infecção, porque não tem o sistema de defesa estimulado. E, enquanto esse vírus se replica no organismo, é possível que apareça uma variante que realmente escape das vacinas que temos hoje”, raciocina o médico. Trata-se, portanto, de um perigo individual e coletivo.

Por que há risco de uma nova onda de Covid-19 no Brasil?

A BQ.1 já foi identificada no Rio de Janeiro, Amazonas, Espírito Santo e em São Paulo. Mas como demora um pouco para fazer o sequenciamento do vírus, é possível que essa cepa esteja circulando por aqui há mais tempo do que se imagina. Seguindo o que ocorreu em outros países, espera-se que o número de casos suba cada vez mais.

Há alguns outros termômetros apontando para isso desde o mês passado. O Instituto Todos pela Saúde (ITpS) avaliou testes feitos em laboratórios privados e, de setembro a outubro, a quantidade de resultados positivos saltou de 3% para 17%. Foram avaliados 595 534 testes feitos pelos laboratórios Dasa, DB Molecular e HLAGyn. O monitoramento acontece desde dezembro de 2021.

Já a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) relata que, do começo de outubro para a primeira semana de novembro, a positividade disparou de 3,7% para 23,1%.

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“Além desses dados, observamos uma tendência de maior número de internações nas últimas semanas”, aponta Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santos (Ufes). “Estamos no início de um novo ciclo”, define. Espera-se que a população comece a sentir uma verdadeira onda em alguns dias.

Como se proteger?

De olho na alta de casos de Covid já identificada no exterior, especialistas afirmam que é possível se adiantar e evitar episódios graves indo atrás das doses de reforço da vacina.

No Brasil, essa missão está deixando a desejar. Só 48% das pessoas aderiram à primeira dose de reforço, sendo que boa parte do Brasil já liberou inclusive o segundo reforço (ou quarta dose).

Idosos, imunossuprimidos e indivíduos com comorbidades precisam redobrar os cuidados. “A indicação é que usem máscara, porque os reforços para esses públicos foram dados há alguns meses, e o imunizante vai perdendo a força”, ressalta Naime. E, de novo: quem não tomou o reforço precisa ir atrás da picada.

O que evoluiu no tratamento da Covid desde então?

Surgiram medicamentos capazes de salvar vidas, principalmente dos indivíduos mais vulneráveis. Porém, médicos enfrentam a barreira da burocracia para recrutá-los no dia a dia.

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Há dois antivirais que podem ser utilizados nos primeiros dias de sintomas em pessoas mais suscetíveis ao agravamento da infecção.

“O paxlovid é o mais efetivo, e está disponível lá fora para essas pessoas com elevado risco. Quanto mais cedo ele for utilizado, melhor. Aqui, o uso está autorizado pela Anvisa e pela Conitec [comissão que indica medicamentos e tratamentos a serem incorporados pelos SUS]”, conta o infectologista Julio Croda, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

O problema é que o Ministério da Saúde não comprou o medicamento – logo, ele não é encontrado em lugar algum.

+ Leia também: Contra a variante Ômicron, vem aí uma vacina atualizada da Covid-19

Uma opção, segundo Croda, é o molnupiravir. Este foi aprovado pelo Ministério da Saúde, mas barrado na Conitec. “Estudos apontam que ele é menos eficaz, porém, é um bom substituto quando há alguma contraindicação ao paxlovid. Mas sem a liberação no SUS, acabamos sem nenhum deles”, lamenta o médico.

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Há, ainda, medicações voltadas a quem já está internado e precisando de oxigênio. É o caso de corticoides e também do baracitinibe. “Este último está aprovado e disponível SUS, mas a compra feita não atende à demanda”, relata Croda.

Quem não integra o grupo de risco para o agravamento da Covid não deve se preocupar com tratamento, mas com prevenção, frisa Martin, da PUCPR. “A melhor decisão é atualizar as doses de reforço: só elas podem manter a pessoa protegida”, reforça o médico.

+ Leia também: Medicamento para artrite pode ajudar em casos de Covid-19 grave

Quais são os sintomas preponderantes da BQ.1?

Filho de peixe, peixinho é. Como subvariante da Ômicron, ela causa os sintomas que já foram relatados desde que essa variante surgiu:

  • Febre
  • Dor de garganta
  • Coriza
  • Tosse
  • Dores no corpo

Vulnerabilidade das crianças preocupa. Há mães que seguem isoladas

Como informado, a vacina da Pfizer contra a Covid-19 para crianças de 6 meses a 4 anos foi aprovada pela Anvisa em setembro. No entanto, o Ministério da Saúde liberou a injeção apenas entre os pequenos com comorbidades. Mesmo assim, nem sinal da vacina.

Os dados do próprio Ministério apontam para a urgência do assunto. De acordo com o último boletim, do início do ano até 15 de outubro, foram registradas 12 634 hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) decorrente de Covid-19 em crianças e adolescentes. Foram confirmadas 463 mortes nas que têm até 5 anos de idade.

Na visão de algumas mães, o isolamento é a única saída. “Faz quase três anos que não frequentamos um restaurante”, comenta a defensora pública Rossana Gomes, de Maceió, mãe de uma menina de 2 anos.

Ela e o marido até voltaram ao escritório quando as medidas de distanciamento foram relaxadas, mas trabalham todos os dias com máscara PFF2, que traz o mais alto grau de proteção.

“Não participamos de nenhum evento social. Será o terceiro Natal que ficaremos sozinhos”, afirma.

A indignação de viver dessa maneira fez Rossana se unir a outras mães e criar um movimento pela vacina. Elas estão no Instagram (@vacinajapediatricacovid) e mantêm um grupo de Whatsapp para desabafar e trocar dicas sobre como proteger a família.

+ Leia também: A geração Covid: o impacto da pandemia no desenvolvimento das crianças

A servidora Luciana Bougleux Abreu, de Niterói, no Rio de Janeiro, achava que sua família era a única do mundo que ainda vivia uma eterna quarentena. Até que conheceu esse grupo.

Com um filho de 1 ano e meio, ela passou todo esse tempo isolada da família e dos amigos, que nem conheceram o menino. “Ele nunca viu outra criança, só pela televisão. Sinto que isso não atrapalhou o desenvolvimento dele. Por outro lado, no grupo há relatos de mães que precisam ir atrás de um fonoaudiólogo ou psicólogo, mas têm medo de sair de casa”, afirma Luciana.

As Sociedades Brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) divulgaram uma nota em que analisam dados de estudos sobre a vacina da Pfizer para os pequenos. A partir disso, endossam a recomendação de disponibilizar a injeção imediatamente para crianças brasileiras de 6 meses a 4 anos.

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