Sarcoma de partes moles, um tipo de câncer, ganha remédio novo no Brasil
O tratamento aumentou consideravelmente o tempo de vida de pessoas com casos avançados desse tumor
Há certos tipos de câncer que, apesar de todos os avanços recentes na oncologia, só podiam ser tratados com armais mais convencionais, a exemplo de quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Esse era o caso do sarcoma de partes moles, um tumor que surge em tecidos como músculos, ossos e gordura. Mas chegou ao Brasil um medicamento moderno que, para certos especialistas, representa uma revolução no tratamento.
O nome do fármaco é olaratumabe, da farmacêutica Eli Lilly. Em estudos que justificaram sua aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a droga, em conjunto com a químio, acrescentou 12 meses de vida a pacientes com casos avançados de sarcoma de partes moles. Isso quando comparada ao uso isolado da quimioterapia.
“O benefício é muito considerável. Tanto que as agências reguladoras liberaram o medicamento em diferentes países, inclusive aqui, mesmo antes da finalização dos chamados estudos de fase 3, que envolvem um número maior de voluntários”, contextualiza o oncologista Rodrigo Munhoz, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Essa informação é importante. Por mais que a novidade seja animadora, temos de esperar os resultados dessas pesquisas para ver o real efeito do olaratumabe entre os pacientes – tanto os positivos quanto as eventuais reações adversas.
De qualquer forma, a chegada da medicação foi comemorada por trazer uma opção de tratamento em uma área escassa de novidades há décadas. O olaratumabe, pertencente à classe das terapias-alvo, inibe moléculas que estimulam a proliferação da enfermidade.
Ou seja, ele freia sua progressão mirando pontos específicos do câncer, ao invés de, como a químio, bombardear boa parte do corpo.
Como fica o tratamento
O olaratumabe não é indicado para qualquer caso de sarcoma de partes moles. Quando é detectada nos estágios iniciais, a doença costuma ser combatida com cirurgias que removem a parte afetada do corpo. A radioterapia às vezes entra em cena para reduzir o risco de reincidência.
É quando o mal se espalha para outras partes do organismo que o olaratumabe entra em cena. Mas, até agora, sua aprovação é apenas para os casos avançados em que não se utilizou antraciclinas, um tipo de químio bastante empregado nas situações mais graves.
Mais: essa estratégia moderna não está disponível a crianças e adolescentes. Hoje, 8% de todos os cânceres infantis são sarcomas de partes moles.
“É possível que, no futuro, o uso desse remédio seja expandido para um maior grupo de pessoas”, avisa Munhoz, que também atua no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. “Mas, para isso, precisamos de estudos que confirmem a eficácia e a segurança do olaratumabe em diferentes cenários”, arremata.
O fármaco é administrado na veia do paciente. E, como a maioria dos tratamentos recém-chegados ao Brasil, não está disponível ano serviço público.
O sarcoma de partes moles é comum?
Trata-se de um câncer relativamente raro. No Brasil, não existem estimativas sobre a incidência da doença, porém todo ano morrem cerca de 5 mil pessoas com ela nos Estados Unidos.
Entre os indivíduos com o problema, mais ou menos metade desenvolverá metástases – ou seja, focos de tumor em outras partes do corpo. Nesse estágio, menos de 20% das pessoas sobrevivem por mais de cinco anos (contra 83% dos pacientes com sarcomas localizados). Que avanços como o olaratumabe aumentem essas taxas.