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Primeiro exame de sangue a avaliar risco de Alzheimer chega ao Brasil

Recém-aprovado nos Estados Unidos, teste não fecha diagnóstico, mas pode auxiliar médico na tomada de decisões em casos de demência leve

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 9 Maio 2022, 18h10 - Publicado em 9 Maio 2022, 18h00
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  • O primeiro exame de sangue para detectar o risco de Alzheimer, um dos principais tipos de demência, acaba de chegar ao Brasil. Ele busca traços da proteína beta-amiloide, que se acumula no cérebro de quem tem a doença. 

    O teste, trazido ao país pela Dasa, foi aprovado nos Estados Unidos há cerca de um mês. Por enquanto, está recomendado para pessoas com comprometimento cognitivo leve, com suspeita de demência.

    Cerca de um terço dos indivíduos nessa situação – em geral idosos que apresentam pequenos esquecimentos, dificuldade de concentração e outros lapsos – progridem para o Alzheimer.  

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    “Ele não fecha o diagnóstico, mas pode colaborar na conduta médica e evitar a realização da punção lombar para coleta do líquor, exame mais invasivo que é usado hoje para estimar os níveis das placas amiloides”, aponta Gustavo Campana, diretor médico da Dasa. 

    Ainda não coberto pelos convênios, a novidade será oferecida sob prescrição médica na rede de laboratórios Alta Diagnósticos, por um preço de cerca de R,5 mil, e outros laboratórios do grupo. 

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    Como é feito (e para que serve) o exame 

    Ele segue um raciocínio que tem norteado as pesquisas em análises clínicas: substituir procedimentos mais complexos por métodos menos invasivos. É o caso, por exemplo, da biópsia líquida, que pode ajudar a flagrar recidivas de câncer ao rastrear fragmentos de DNA tumoral. 

    A tecnologia do exame que chega agora é a espectometria de massas. “Trata-se de uma evolução tecnológica disponível há alguns anos, que permite enxergar moléculas em pequena concentração no sangue ou em outras amostras biológicas”, explica Campana. 

    No caso do Alzheimer, a máquina é programada para detectar duas frações da proteína beta-amiloide – a 40 e a 42 – e, aí, calcular a razão entre elas. 

    + Leia também: Alzheimer: o começo do fim

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    “A beta-amiloide é considerada o principal biomarcador da doença de Alzheimer”, explica a neurologista Renata Faria Simm, neurologista do Hospital Santa Paula. Outras moléculas, como a proteína TAU, também estão envolvidas na progressão da doença.

    Mas, como dissemos, o exame não confirma o diagnóstico. Até por isso não deve ser solicitado indiscriminadamente.

    “Esse tipo de método [que detecta os níveis de beta-amiloide] é solicitado para uma porção pequena dos pacientes, onde há dúvida sobre o diagnóstico”, explica a neurologista Jerusa Smid, coordenadora do departamento de neurologia cognitiva e do envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). 

    Saber da presença dessas proteínas, apesar de ser um forte indicativo da doença, não resolve todos os enigmas da investigação. “Com eles, não é possível saber se há ou não acúmulo da TAU, que também é importante para o desenvolvimento dos sintomas. E, como em qualquer outro exame, podem existir falhas”, complementa Jerusa. 

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    Além disso, não está claro para a ciência quanto tempo se passa entre o surgimento das placas de beta-amiloide e o aparecimento do comprometimento cognitivo. “Alguns trabalhos falam em 20 anos, por exemplo. E, hoje, não temos um medicamento para mudar o curso da doença precocemente”, ressalta a neurologista. 

    Qual é a precisão do teste?

    Em uma das pesquisas conduzidas com a nova metodologia, uma série comparativa com dados de mais de 200 pacientes demonstrou uma sensibilidade de 71% em flagrar indivíduos com alterações no PET-Scan, um tipo de tomografia usado para confirmar o diagnóstico de Alzheimer.

    Isso significa que, a cada 100 indivíduos com o cérebro comprometido pela doença, 71 seriam encontrados pelo exame.

    Os resultados detalhados desse ensaio, ainda não publicado, serão apresentados em julho, no congresso internacional da Alzheimer’s Association (AAIC), que ocorre na Califórnia.

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    A importância do diagnóstico certo

    A ideia de que esquecimentos “são coisas da idade” está ficando no passado. Com a expectativa de vida cada vez maior, a medicina busca meios de prevenir e, se possível, corrigir as falhas da mente que surgem com o envelhecimento

    É que, em alguns casos, esses comprometimentos iniciais podem significar uma demência tratável. “É importante fazer essa diferenciação cedo, porque elas têm tratamentos diferentes, e o próprio Alzheimer logo terá medicamentos que poderão ser usados nesse estágio inicial”, aponta Renata. 

    A neurologista se refere à categoria dos anticorpos monoclonais, atualmente estudados para frear a progressão da doença. “Mas, até agora, todos falharam em melhorar os sintomas do paciente, apesar de reduzirem os níveis de beta-amiloide no cérebro”, contrapõe Jerusa.

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    Como é feito o diagnóstico hoje 

    A maioria dos casos é diagnosticada com base nos sintomas. “Usamos a história de declínio da memória recente, em que o paciente piora progressiva e lentamente, até que suas atividades de vida diária e outros domínios cognitivos fiquem prejudicados”, conta Jerusa. 

    A partir das queixas, o médico especialista (neurologista, psiquiatra ou geriatra) realiza testes funcionais para averiguar o grau de comprometimento. “Solicitamos ainda uma foto do cérebro, via ressonância magnética ou tomografia, e exames de sangue que vão descartar outras alterações não-neurológicas que podem atrapalhar a memória”, completa Jerusa. 

    Em alguns casos, quando ainda restam dúvidas, o profissional pode pedir exames mais complexos, como a análise do líquor ou a tomografia PET-CT, que avalia o metabolismo do cérebro. Existe um tipo de tomo ainda que marca as proteínas beta-amiloide, mas só duas máquinas no país realizam o procedimento. 

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