O tratamento do câncer de mama evoluiu muito nos últimos 30 anos. Se antes receber o diagnóstico de um tumor no seio era sinônimo de mutilação das mamas, hoje a realidade é diferente. Apesar de as decisões sobre os tratamentos envolverem diversos fatores – desde características pessoais até a análise genética do tumor – o tratamento cirúrgico está cada vez mais preciso e o objetivo é a busca pela abordagem cirúrgica menos invasiva possível.
O atual padrão ouro para a maioria dos casos iniciais é a cirurgia conservadora (nome dado à cirurgia que remove apenas o tumor e uma mínima margem de segurança ao redor), que tende a causar pequena ou nenhuma alteração estética. A realização do rastreamento anual por meio da mamografia é a principal forma de detectar precocemente o câncer e, quanto mais cedo ele for diagnosticado, maiores a chances de cura e do uso de técnicas cirúrgicas menos agressivas.
Ainda assim, a mastectomia é muitas vezes necessária. Esse é o nome dado à cirurgia que remove por completo a glândula mamária (podendo envolver ou não a retirada de pele e/ ou mamilo). As indicações são diversas e dependem do tamanho do tumor, do volume mamário, da presença de mutações genéticas de alto risco para câncer, da presença vários tumores na mesma mama, entre outros.
+LEIA TAMBÉM: O potencial da imunoterapia e das vacinas contra o câncer de mama
São diversas também as técnicas usadas. Na mastectomia simples, por exemplo, o cirurgião remove toda a mama, incluindo o mamilo, aréola e pele. Na mastectomia poupadora de pele, o tecido mamário, o mamilo e a aréola são removidos, mas a maior parte da pele é preservada e usada na reconstrução imediata, normalmente com implantes de silicone ou próteses expansoras.
Há ainda a mastectomia poupadora de pele e mamilo, uma opção para as mulheres com algumas condições favoráveis, entre elas a presença de tumores distantes da pele e do mamilo. Esta é a opção preferível sempre que tecnicamente possível e com adequada segurança oncológica, garantido a reconstrução imediata da mama com prótese na maioria dos casos e uma aparência mamária mais anatômica, com a presença da aréola e do mamilo.
“O conceito de beleza das mamas está muito ligado à simetria. O mamilo é uma identidade da mama. Muitas vezes, quando ele precisa ser retirado, a mulher busca uma reconstrução estética e/ou faz até tatuagens. Por isso é tão importante a busca pela conservação do mamilo na cirurgia”, afirmou a ginecologista e mastologista Danielle Martin Matsumoto, do Hospital Israelita Albert Einstein e coordenadora do Programa de Aprimoramento em Mastologia do hospital.
Biópsia por congelação durante a cirurgia
Na mastectomia poupadora de pele e mamilo, é muito importante que se busque a confirmação intraoperatória de que o mamilo não esteja acometido por partes do tumor. Assim, durante a cirurgia, o cirurgião remove um fragmento do tecido da região e faz uma “biópsia por congelação” durante o procedimento cirúrgico. O material é analisado pelo médico patologista na hora, e vai indicar ao cirurgião se há presença do tumor ali, orientando a conduta médica.
“Se isso não for feito na hora e o resultado final da análise da peça cirúrgica vier positivo depois de dez, 15 dias da cirurgia, é muito frustrante e desgastante para a mulher. Ela acabou de se submeter a uma cirurgia e terá que refazer o procedimento para tirar o mamilo. Essa é a vantagem da biópsia de congelação”, explicou Danielle.
Estudo publicado recentemente no American Journal of Clinical Pathology confirmou a importância da realização da biópsia de congelação do tecido do mamilo durante a cirurgia para prever se há carcinoma residual na região e a partir de então respaldar os cirurgiões se será possível preservar o mamilo ou não.
Os pesquisadores avaliaram os resultados de 1 026 mastectomias poupadoras de mamilo (sendo 570 realizadas em mamas doentes e 456 profilaticamente), e chegaram ao número de 7,2% de biópsias positivas.
“O estudo corrobora o que já é a rotina da prática cirúrgica há muitos anos. A técnica de congelação é realizada rotineiramente, tanto na rede pública quanto na rede privada”, afirmou Danielle.
Um dos problemas da técnica é que a acurácia da congelação não é a mesma do exame anatomopatológico – estima-se que em cerca de 10% dos casos há risco de o resultado ser um falso-negativo ou um falso-positivo. “Todas as amostras obrigatoriamente vão para o exame anatomopatológico depois da cirurgia. Na técnica de congelação, o patologista faz uma avaliação inicial de algumas células. A gente espera um resultado 100% correto, mas pode haver uma discrepância”, ponderou.
BUSCA DE MEDICAMENTOS
Consulte remédios com os melhores preços
Câncer mais comum nas mulheres
O câncer de mama é o de maior incidência (excluindo apenas o de pele não melanoma) e o que mais mata mulheres todos os anos no Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), 66 280 novos casos da doença foram diagnosticados em 2021.
Embora o Ministério da Saúde recomende que o rastreamento com mamografia seja feito por mulheres a partir dos 50 anos a cada dois anos, as sociedades médicas preconizam que o exame seja realizado a partir dos 40 anos, anualmente.
“Infelizmente o Brasil é formado por vários Brasis. No mundo privado, a chance de uma mulher descobrir o câncer de mama precocemente e fazer uma cirurgia conservadora é muito maior do que na rede pública”, concluiu Danielle.
*Este conteúdo foi produzido pela Agência Einstein.