Pandemia atrapalha vacinação e pode deixar 80 milhões de bebês em risco
Quase 70 países interromperam campanhas de imunização infantil para doenças importantes por causa da crise do coronavírus, alerta Unicef
A pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) levou vários países a interromperem campanhas de vacinação, colocando em risco a saúde de 80 milhões de bebês com menos de 1 ano de vida. O alerta foi feito recentemente pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Dos 129 países onde há dados sobre o tema, 68 reportaram interferências moderadas ou severas no cronograma tradicional. O abalo por causa da Covid-19 ocorre em uma escala sem precedentes desde a expansão de programas nacionais de imunização, ocorrida nos anos 1970.
“Essas interrupções ameaçam décadas de progresso na prevenção de doenças como o sarampo”, destacou Tedros Ghebreyesus, diretor geral da OMS, em comunicado à imprensa. Para ter ideia, 27 países reportaram a suspensão das doses contra o sarampo. Outra situação que chama a atenção é a poliomielite, já que 38 países interromperam a campanha contra ela.
Há mais vacinas com as quais os especialistas estão preocupados, em especial as de rubéola, cólera, meningite, tétano e febre amarela.
Paralisação justificada
Fora as decisões governamentais, a relutância (compreensível) dos pais em sair de casa para vacinar os filhos por medo da Covid-19 e os atrasos na entrega de novas doses em decorrência das medidas de distanciamento social são apontados pelas entidades como fatores que influenciam negativamente a adesão à imunização.
Em março, a própria OMS chegou a recomendar que os países suspendessem temporariamente as campanhas para evitar aglomerações. Agora, com protocolos mais estabelecidos de segurança nos serviços de saúde, a orientação é que os países planejem a retomada de seus calendários.
Para isso, será necessário levar em conta dados locais de transmissão e risco de coronavírus, a capacidade do sistema de saúde e o benefício oferecido pelos imunizantes à população.
Importância das vacinas
Elas são fundamentais para evitar doenças passíveis de prevenção, que poderiam gerar novos impactos sérios na saúde pública já fragilizada. Mas a OMS destaca ainda que manter o sistema de vacinação atuante pode ajudar inclusive a mitigar a Covid-19.
Ora, quando se anunciar uma vacina capaz de proteger contra o novo coronavírus, já haverá uma infraestrutura em funcionamento para aplicá-la em larga escala. Nos próximos dias, a entidade deve emitir uma diretriz voltada para a manutenção de serviços essenciais de saúde, incluindo as vacinas.
Vale dizer que, fora um pequeno ajuste no cronograma da vacina da gripe, o Ministério da Saúde do Brasil não anunciou mudanças no Programa Nacional de Imunizações (PNI). As Unidades Básicas de Saúde (UBS), que aplicam as doses, seguem funcionando e alguns estados até adotaram modelos drive-thru de vacinação, para minimizar o contato físico.