Conviver com o excesso de peso ou com muito açúcar correndo pelo sangue já gera bastante preocupação entre os experts, porque favorecem diversas complicações para a saúde – entra elas, o câncer. E a influência não é nada insignificante, como prova um estudo publicado recentemente no periódico The Lancet Diabetes & Endocrinology.
O trabalho conclui que, em 2012, a união dos dois problemas levou ao surgimento de quase 6% de todos os tumores do planeta. Os pesquisadores, que atuam no Imperial College de Londres, na Inglaterra, calcularam ainda que a obesidade e o diabetes responderam, no planeta, por quase 800 mil novos casos dos 12 tipos de cânceres avaliados no trabalho. Dados como esses apareceram depois de uma análise robusta, que considerou nada menos do que 175 países.
Para traçar uma relação entre as doenças, os autores usaram estimativas de diabetes e obesidade em 2002 e observaram a incidência de câncer em 2012 – assumindo que o tumor demoraria uns dez anos para aparecer. Individualmente, o peso excessivo foi responsável por quase o dobro de casos (544 300) de câncer em relação ao constante excesso de glicose na circulação (293 300).
Segundo a oncologista Clarissa Mathias, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), o organismo do indivíduo acima do peso está naturalmente inflamado. Por isso, não funciona de forma normal. “Todos nós produzimos células com defeitos. Mas, como o sistema imunológico de uma pessoa obesa não identifica essa característica direito, há maior risco de elas se tornarem um câncer”, explica.
Já quanto ao diabetes, níveis elevados do hormônio insulina – que circula quando há muito açúcar correndo no sangue – poderiam estimular o crescimento das células cancerosas.
Cada caso, um caso
No trabalho, chamou a atenção que 24,5% dos tumores no fígado e 38,4% dos que acometeram o endométrio foram atribuídos à dobradinha obesidade e diabetes. Clarissa explica que, no caso do endométrio, o tecido adiposo produz ainda mais hormônios capazes de estimular o crescimento de células cancerosas.
Já o tumor hepático é geralmente causado pela esteato-hepatite, a popular gordura no fígado. “Esse é um tipo de inflamação induzida por gordura”, esclarece a médica.
Também foi observado que mulheres obesas e diabéticas têm quase o dobro de probabilidade de desenvolver células tumorais em comparação a homens na mesma situação. Isso seria explicado pela maior produção hormonal – que não atinge apenas o endométrio, mas também as mamas.
Como dá para imaginar, os estudiosos pedem foco na implementação de medidas para reduzir as taxas de obesidade e o diabetes no mundo, já que as projeções sugerem que essas doenças serão potenciais promotoras de muitos outros tipos de câncer em algumas décadas. “A obesidade é o cigarro do século 21”, conclui a diretora da Sboc.