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Nitazoxanida contra Covid-19: estudo traz sinais positivos, com limitações

Primeiras fases de pesquisa brasileira sugerem que vermífugo pode ter efeito sobre o coronavírus, mas achado ainda precisa ser confirmado

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 19 jul 2022, 17h21 - Publicado em 7 jul 2021, 18h45

Um estudo recém-divulgado, conduzido por pesquisadores brasileiros, avaliou o uso da nitazoxanida em casos moderados de Covid-19. Publicado na revista científica E-Clinical Medicine, o novo trabalho incluiu 50 indivíduos já internados com sintomas moderados da infecção pelo coronavírus. Eles foram divididos em dois grupos – metade tomando placebo, metade tomando o comprimido, que tem dosagem diferente daquela vendida na farmácia sob o nome comercial Annita.

Os voluntários que receberam a nitazoxanida tiveram alta mais cedo, em média em seis dias, ante 14 dias de hospitalização no braço do placebo (cápsulas sem princípio ativo). Houve ainda maior redução da carga viral e de substâncias inflamatórias nos participantes que tomaram o medicamento real.

Os autores destacam que esse estudo é uma prova de conceito – ou seja, uma espécie de teste inicial que diz se o remédio merece ou não investigações mais aprofundadas, em ensaios clínicos maiores. É preciso tanto confirmar os achados em mais gente quanto ter certeza sobre a segurança do medicamento.

“Sabemos, por exemplo, que a hidroxicloroquina não é segura para quem está com Covid-19, assim como a aspirina também não é indicada para quem tem dengue”, explica Ricardo Diaz, professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos autores da pesquisa. O risco de tratamentos não embasados com evidências científicas sólidas é a piora da doença e até a morte.

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Limitações do estudo

É cedo para tirar conclusões otimistas por alguns motivos. Primeiro, porque a prova foi feita com poucas pessoas, justamente por ser uma etapa exploratória, para testar um conceito, avalia Alexandre Zavascki, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS).

“Uma investigação como essa não busca estabelecer a eficácia de uma medicação, apenas levanta uma primeira hipótese, que deverá a partir daí ser confirmada”, esclarece o médico gaúcho.

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Alguns aspectos do protocolo do ensaio dificultam ainda uma análise aprofundada por outros especialistas. A falta de detalhes e informações conflitantes sobre o estado de saúde dos participantes, por exemplo.

“Um dos critérios foi incluir maiores de 18 anos com taxa de saturação de oxigênio menor que 96, população que, além de ser bem abrangente, está em uma faixa que pode configurar Covid-19 grave. O texto, no entanto, informa que os indivíduos manifestaram a doença moderada”, diz Zavascki.

A nitazoxanida

Trata-se de um composto utilizado há décadas para tratar diversos tipos de parasitas, como amebas e giárdias, que já foi estudado por sua atividade antiviral. “Evidências preliminares anteriores mostram que ele pode ter ação contra outro vírus, como o ebola e o influenza, da gripe”, relata Diaz.

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Testar opções disponíveis é uma estratégia comum da busca por tratamento diante de uma urgência. “Com uma doença nova como a Covid-19, não há tempo de desenvolver medicamentos, então realizamos pesquisas com fármacos já existentes no mercado”, complementa o infectologista.

O vermífugo chegou a integrar o “kit” de tratamento precoce defendido por alguns profissionais, mas ainda não há dados suficientes para embasar sua aplicação nesse contexto. Achados prévios, obtidos por cientistas diferentes do grupo envolvido no novo trabalho, detectaram que a medicação diminui a carga viral em pacientes com Covid-19, mas teve efeitos limitados na melhora de sintomas.

Que tratamentos já foram aprovados?

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aprovou o medicamento REGN-COV2 para pessoas com Covid-19 nos primeiros dias dos sintomas e que não foram internadas, mas que possuem risco maior de desenvolver quadros graves. O coquetel contém dois anticorpos monoclonais, casirivimabe e imdevimabe, e é aplicado via infusão intravenosa.

O medicamento remdesivir, da biofarmacêutica americana Gilead Sciences, também foi aprovado pela agência em março deste ano, mas para pessoas internadas recebendo suplementação de oxigênio.

A busca continua

Para os especialistas, a procura por tratamentos contra o coronavírus é importante para superar a pandemia. “A circulação do vírus entre a população só será reduzida com três fatores: a adoção de medidas não farmacológicas, caso de máscaras e distanciamento social, a imunização em massa e a medicação eficaz, que trata o indivíduo e impede que ele transmita a doença”, defende Diaz.

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Assim, as corridas por imunizantes e drogas ocorrem em paralelo. “Nenhuma vacina é 100% eficaz, por isso é preciso ter opções terapêuticas para quem se contaminar”, pontua o médico Vinicius Blum, gerente executivo de Assuntos Médicos e Pesquisa Clínica da FQM Farma, um dos envolvidos na nova pesquisa da nitazoxanida.

Resta saber se a medicação poderá ser parte desse arsenal. “Apesar de ser um estudo pequeno e de ter enfrentado dificuldades, acreditamos que é um bom passo, dentre muitos que ainda precisam ser dados”, analisa Blum.

A terceira fase da investigação, que deve trazer respostas nesse sentido, já começou, com 400 participantes. Ainda não há data prevista para a apresentação dos resultados.

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