A pandemia do coronavírus fez subir o consumo de alcoólicos na população, segundo pesquisas feitas durante esse período. Agora foi possível também medir a consequência dessa mudança de hábito. O relatório “Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2022” aponta que as mortes totalmente atribuíveis ao abuso de bebidas aumentaram 24% em 2020 – pontuação inédita nos últimos dez anos.
Esses óbitos atingiram mais os adultos de 35 a 54 anos (25,6%), e, na sequência, a faixa dos 55 anos (23%). Entre os jovens de 18 a 34 anos, o índice também não é modesto: 19,5%. Há pouca diferença entre homens (24%) e mulheres (23%).
O levantamento foi feito pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) e utilizou dados fornecidos pelo DataSus. Pelo sistema, as mortes totalmente atribuíveis ao álcool são alcoolismo, envenenamento causado pelo álcool, intoxicação alcoólica aguda, miopatia alcoólica, síndrome alcoólica fetal, transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool, uso nocivo da bebida.
“O problema é que quem já bebia intensificou demais o consumo”, esclarece o psiquiatra Arthur Guerra, presidente do Cisa.
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É preocupante a mudança de hábitos daqueles que bebiam de forma moderada ou socialmente. “O padrão mudou na frequência e na quantidade. Quem tomava algo só no fim de semana agora esticou para outros dias”, alerta Guerra. “O home office também fez o bebedor das noites de dias úteis passar a consumir álcool no almoço também”, completa.
“Binge drinking”
Também chamado de beber pesado episódico, esse termo é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o ato de ingerir quatro ou cinco doses de qualquer bebida alcoólica em até duas horas. “É um consumo rápido, intenso e que provoca mudanças de comportamento”, relata Guerra.
Acidentes de trânsito, relações sexuais não consentidas e outros atos de violência estão associados e esse tipo de comportamento.
Guerra avalia não haver uma receita clara para identificar uma pessoa com problemas alcoólicos. O ideal é observar e dar o exemplo aos mais próximos. “A negação é comum em quem está bebendo demais, mas é suficiente para dar um diagnóstico”, diz.
O alcoolismo é definido pela OMS como um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de álcool.
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Por que bebemos e quanto podemos beber?
Foi no meio da pandemia que a cantora canadense Alanis Morissette lançou a música Reasons I Drink (Razões para Beber, em tradução livre). Na letra, ela fala do consumo do álcool como alívio para agruras da rotina. E, na vida real, esse é realmente um argumento comum de quem ingere cerveja, uísque e afins, segundo o relatório divulgado pelo Cisa, que traz também uma pesquisa encomendada pelo Ipec sobre o comportamento dos diferentes perfis de bebedores.
De acordo com o levantamento, boa parte das pessoas bebe “para ter sensações positivas” ou para “aliviar emoções negativas”. Socializar, no entanto, é o motivador mais comum quando se trata do tema.
“Vivemos em mundo alcoólico. É natural que mesas de festas tenham bebida. Recebemos amigos em casa com a pergunta: o que você quer beber? A chave disso é saber consumir com moderação”, defende Guerra.
O quanto alguém pode beber depende de alguns fatores:
- Porte físico
- Sexo
- Idade
- Genética
- Condições de saúde
- Classe social
- Estômago cheio ou vazio
- Qualidade da bebida e teor alcoólico
Há, no entanto, uma média para definir o bebedor moderado. Para homens são:
- Duas doses por dia (latas de cerveja, long neck e taças de vinho. Também os destilados, considerando que essas doses são um pouco menores, por volta de 40 ml). Nessa conta, a ideia é ingerir até mais ou menos 14 gramas de álcool.
Para mulheres:
Uma dose por dia, considerando os mesmos aspectos citados acima. O limite é menor porque, em geral, as mulheres são mais leves e menores, além de possuírem uma menor concentração de enzimas que ajudam a processar o álcool no fígado.