Há décadas, especialistas em saúde pública e meio ambiente alertam sobre a qualidade do ar que respiramos, principalmente no contexto das grandes cidades.
Nem sempre conseguimos ver, mas podemos sentir os impactos de diversos tipos de poluentes. O ar insalubre pode conter, por exemplo, material particulado, dióxido de enxofre (SO2), ozônio, monóxido de carbono (CO) e dióxido de nitrogênio (NO2).
“Estes são os principais materiais encontrados no ar poluído. Eles já estão presentes normalmente no ar de São Paulo devido à grande quantidade de veículos circulantes. No entanto, as queimadas no interior do estado e nos biomas brasileiros, associadas à condição climática desfavorável, agravam o quadro”, destaca o médico pneumologista Andrei Cordeiro, do Hospital Santa Paula, da Rede Dasa.
É comum relacionar a poluição aos problemas respiratórios, mas eles são apenas parte de um cenário ainda mais grave.
+ Leia também: Poluição é o quarto principal fator de risco para a saúde do coração
As ameaças ocultas do ar poluído
Material particulado (MP10 e MP2,5)
Formado principalmente pela combustão de combustíveis usados em diversos setores, como transporte, energia, indústria, agricultura, além das residências.
“Consiste em uma mistura complexa de partículas sólidas e líquidas de substâncias orgânicas e inorgânicas suspensas no ar”, resume o médico pneumologista Humberto Bogossian, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Tanto a versão comum (MP10) quanto a forma mais fina (MP2,5) são capazes de penetrar nos pulmões, provocando doenças respiratórias. No entanto, o MP2,5 consegue alcançar a corrente sanguínea, levando a problemas cardiovasculares.
“A exposição prolongada a altas concentrações pode piorar doenças respiratórias como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica, além de intensificar agravos da via aérea superior como rinossinusite crônica e doenças cardiovasculares. A exposição ao material particulado fino e outros poluentes também podem ser a causa de surgimento de câncer de pulmão mesmo em pessoas não fumantes, no futuro”, pontua Cordeiro.
Ozônio
Se nas camadas mais altas da atmosfera ele ajuda, ao bloquear parte da radiação solar, no ar que respiramos ele é perigoso. O ozônio pode levar ao desenvolvimento de asma, redução da capacidade pulmonar e a doenças cardíacas.
Ele é formado durante o dia a partir de reações entre outros poluentes e a radiação solar.
+ Leia também: Não é só hidratar: 4 formas de aliviar a pele seca
Monóxido de carbono
Um dos principais poluentes de ar de ambiente interno, o monóxido de carbono surge da combustão incompleta de combustíveis fósseis, de sistemas de aquecimento, de usinas termelétricas a carvão, da queima de biomassa e tabaco.
Pode trazer prejuízos respiratórios, visuais, de desempenho cognitivo e aumento da mortalidade.
“O monóxido de carbono pode se ligar à hemoglobina assim como o oxigênio. Com isso, diminui a quantidade de oxigênio circulante no organismo, o que pode causar de sinais leves até a morte. Os sintomas mais comuns na situação atual seriam dor de cabeça, irritação na garganta e tonturas”, afirma Cordeiro.
Dióxido de nitrogênio
Incêndios florestais e queima de combustíveis fósseis também podem produzir dióxido de nitrogênio. Altas concentrações podem levar ao aumento de internações hospitalares por problemas respiratórios, pulmonares e alérgicos.
“Pode ter graves consequências para a saúde humana, incluindo irritação respiratória e redução da função pulmonar. Em altas concentrações, ele pode provocar pneumonia química e edema pulmonar. Além disso, o dióxido de nitrogênio contribui para a formação de ozônio e chuva ácida”, afirma Bogossian.
Dióxido de enxofre (SO2)
Vem da queima de combustíveis fósseis com essa substância em sua composição, além de atividades de geração de energia e aquecimento doméstico. A exposição agrava sintomas da asma e aumenta o número de hospitalizações.
+ Leia também: É seguro fazer atividade física em dias poluídos?
O que fazer para se proteger da poluição do ar?
Em dias de tempo seco e maior concentração de poluentes atmosféricos, é recomendada a utilização de máscaras ao sair de casa.
“A mais eficaz para conter os poluentes é a N95 ou PFF2 que reduz em até 95% a inalação das partículas poluentes suspensas no ar, incluindo o material particulado fino, sendo ideais para situações de poluição alta como a que vivemos agora. Outras máscaras ou lenços serão mais eficazes contra partículas mais grossas”, frisa Cordeiro.
Em casa, manter as janelas fechadas ajuda a impedir a entrada de poluentes.
“Purificadores com filtro HEPA podem melhorar a qualidade de ar em casa. Os umidificadores podem ajudar a manter as vias aéreas mais umidificadas, mas não melhoram a qualidade do ar“, afirma o médico do Hospital Santa Paula.
No geral, a nebulização tende a aliviar o desconforto respiratório. Ela deve ser feita apenas com soro fisiológico, com objetivo de umidificar as vias aéreas e diminuir o impacto de possíveis secreções respiratórias.
Para os praticantes de atividades físicas, é recomendado treinar em locais fechados. A respiração mais profunda e acelerada durante os exercícios aumenta a quantidade de poluentes inalados.
“Pacientes com DPOC e doenças com fibrose pulmonar que realizam atividades físicas ou reabilitação motora e respiratória não devem treinar ao ar livre. Idosos e crianças pequenas também devem evitar locais abertos”, conclui Cordeiro.