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Metais tóxicos em absorventes internos: quais são as evidências e recomendações

Estudo dos EUA identificou 16 tipos de metais, incluindo chumbo e arsênio, nesses produtos. Especialistas pedem cautela e mais pesquisas

Por Victória Ribeiro, da Agência Einstein*
24 set 2024, 16h00
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  • Desde que chegaram ao mercado, na década de 1930, os absorventes internos se tornaram uma escolha comum entre as pessoas que menstruam, ajudando a minimizar alguns desconfortos típicos desse período.

    Contudo, a ciência tem investigado a segurança desses produtos. Uma pesquisa publicada em agosto no periódico Environment International constatou a presença de metais tóxicos, como chumbo, arsênio, níquel, mercúrio e zinco, em absorventes internos e abriu brecha para a dúvida: eles são seguros para a saúde?

    Conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos, o estudo avaliou 16 tipos de metais (arsênio, bário, cálcio, cádmio, cobalto, cromo, cobre, ferro, manganês, mercúrio, níquel, chumbo, selênio, estrôncio, vanádio e zinco) em 30 absorventes internos de 14 marcas diferentes não divulgadas, comprados nos EUA, na Grécia e no Reino Unido, entre setembro de 2022 e março de 2023.

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    Os cientistas focaram em produtos populares, selecionados entre os mais vendidos em um grande varejista online e em lojas físicas. A conclusão foi de que todos os absorventes internos analisados continham metais, com variações nas concentrações dependendo do local de compra, se eram feitos com algodão orgânico (geralmente livres de agrotóxicos e pesticidas) e a marca.

    Por exemplo: as concentrações de chumbo foram maiores em absorventes internos não orgânicos, ao passo que os orgânicos tiveram maior concentração de arsênio.

    “Mesmo a exposição de baixo nível [ao chumbo] pode resultar em impactos neurocomportamentais em adultos e crianças, incluindo diminuição da função cognitiva, como atenção, memória e capacidade de aprendizagem prejudicadas.

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    No caso da exposição ao arsênio, há possíveis impactos nas funções do útero e ovários, bem como risco de doenças cardiovasculares”, escrevem os autores no estudo.

    De acordo com a pesquisa, os metais podem chegar aos absorventes internos de várias maneiras: o algodão usado pode ter absorvido os metais da água, do ar, do solo, por meio de um contaminante próximo (por exemplo, se um campo de algodão estivesse perto de uma fundição de chumbo) ou alguns podem ter sido adicionados intencionalmente como parte de um pigmento, branqueador, agente antibacteriano ou algum outro processo relacionado à fabricação.

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    Absorventes internos se tornaram uma escolha comum entre as pessoas que menstruam, (Foto: Freepik/Divulgação)

    Alerta e cautela

    Segundo a ginecologista Renata Bonaccorso Lamego, do Hospital Israelita Albert Einstein, a presença de metais tóxicos em absorventes internos pode, sim, significar uma preocupação. Isso porque a toxicidade desses metais pode ocasionar, além de impactos neurológicos e cardíacos, um aumento do risco de câncer, doenças renais e infertilidade.

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    A vagina possui uma vascularização intensa, o que significa que substâncias que entram em contato com o canal vaginal podem ser facilmente absorvidas.

    “Para se ter ideia, algumas medicações, normalmente administradas por via oral, podem ser prescritas para ser utilizadas pela via vaginal por possuir a mesma eficácia”, destaca a médica.

    No entanto, o novo estudo não é suficiente para dizer que os absorventes internos são nocivos à saúde. Isso porque o trabalho identificou apenas a presença dos metais nos absorventes, e não que eles são absorvidos e chegam à corrente sanguínea, por exemplo.

    “Para confirmar essa hipótese, seriam necessários novos estudos que avaliassem a presença desses metais no sangue de usuárias em comparação com quem não usa os absorventes internos”, observa a ginecologista Adriana Campaner, presidente da Comissão de Trato Genital Interior da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

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    Outro ponto é que o estudo não foi realizado com produtos brasileiros, o que impede conclusões sobre os absorventes comercializados por aqui. “É possível existir a absorção, mas por enquanto não é algo que podemos afirmar. Outros pontos também devem ser investigados, como se, além dos riscos para o organismo, há também potenciais riscos para a área genital em si. Tudo isso exigiria um estudo a longo prazo”, destaca Campaner.

    Os próprios autores do artigo ressaltam que a pesquisa é um ponto de partida e que novas investigações serão necessárias, especialmente para avaliar se os metais podem escapar dos absorventes internos e ser absorvidos pelo corpo. Além disso, o grupo pretende expandir a análise para outros produtos químicos presentes nesses itens.

    Quando se trata especificamente do cenário brasileiro, Lamego destaca que um ponto a ser considerado é o cultivo do algodão utilizado na produção desses absorventes. Por ser muito vulnerável a pragas, esse tipo de fibra vegetal acaba sendo suscetível ao uso intensivo de agrotóxicos.

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    Por isso, mesmo não sendo um alimento, sua contaminação por pesticidas pode ter impacto no corpo humano. “Isso reforça a necessidade de uma regulamentação e uma fiscalização mais atenta sobre a cadeia de produção, além de um incentivo ao uso de algodões tratados de maneira mais sustentável”, pontua a ginecologista do Einstein.

    Evite o uso prolongado

    Renata Lamego também alerta para o uso indevido de absorventes internos, o que pode favorecer a proliferação de bactérias presentes no sangue acumulado, levando a infecções. A recomendação, de acordo com ela, é trocar o absorvente a cada duas a seis horas, dependendo do fluxo.

    “Hoje em dia, temos outras opções, como os coletores e discos vaginais. A grande maioria é feita de silicone e as propagandas sempre frisam que são antibacterianos. Mas, assim como os absorventes internos comercializados por aqui, nós também não sabemos o que está presente na composição desse tipo de produto, o que ressalta a necessidade de mais pesquisas relacionadas a esse tópico”, destaca a médica do Einstein.

    *Conteúdo publicado originalmente na Agência Einstein.

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