Menopausa afeta o sono: como lidar com essa fase e dormir melhor
Insônia, apneia do sono e sono fragmentado lideram queixas das mulheres no climatério. Mas tem solução

Uma das fases mais desafiadoras da vida da mulher, a menopausa é marcada por alterações hormonais significativas, com uma série de impactos físicos e psicológicos.
No turbilhão de sensações, ainda se encontram problemas para dormir. Os distúrbios mais comuns são a insônia, a apneia obstrutiva do sono e o sono fragmentado.
As diversas mudanças, que costumam surgir por volta dos 50 anos, podem colocar em segundo plano os cuidados com o descanso, aumentando o estresse e comprometendo a qualidade de vida.
Entenda, a seguir, os principais aspectos biológicos e hormonais que podem tirar o sono das mulheres na transição da etapa reprodutiva para a pós-menopausa.
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Por que elas dormem mal na menopausa?
A menopausa marca o último ciclo menstrual, representando o encerramento do período reprodutivo. Embora a idade média seja de 50 anos, ela varia entre as pessoas, por conta de fatores genéticos e individuais, como obesidade e tabagismo, por exemplo.
Cerca de 90% das mulheres têm a última menstruação entre 45 e 55 anos.
Dificuldade persistente para iniciar ou manter o sono, mesmo em condições ideais, a insônia assombra essa fase da vida por uma série de questões. A começar pelas alterações hormonais, marcadas pela queda do estrogênio no organismo, como explica a médica ginecologista Helena Hachul, do Instituto do Sono.
“O declínio do estrogênio leva aos fogachos, que são ondas de calor seguidas pelo suor excessivo. Esses sintomas vasomotores aparecem com uma frequência variada, acometem cerca de 70% das mulheres e duram sete anos, em média”, afirma Hachul.
Estudos revelam que o fenômeno está associado ao despertar durante a noite, que pode ocorrer antes, durante ou após a passagem da sensação de quentura pelo corpo.
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Abalos na saúde mental e mais xixi
A ginecologista acrescenta que a associação entre os fogachos e a ansiedade potencializa a dificuldade para dormir.
“Além da perda de hormônio, a mulher está vivendo um cenário complexo. Os filhos estão crescendo ou saindo de casa para estudar, há mudanças na rotina diária e até mesmo o cuidado com os pais idosos, tudo isso acaba levando a sintomas depressivos e de ansiedade, impactando na qualidade do sono”, detalha.
Quando ela consegue finalmente pregar os olhos, outro incômodo traiçoeiro pode despontar.
As baixas no estrogênio também provocam impactos para a região íntima feminina, com destaque para a secura vaginal, relacionada a dores durante as relações sexuais e alterações no trato urinário.
Uma condição chamada nictúria, explicada pelo aumento na flacidez da bexiga, eleva a necessidade de urinar, inclusive durante as madrugadas.
“Esse despertar para ir ao banheiro é um motivo de fragmentação do sono, a mulher acorda e depois não consegue voltar a dormir”, frisa a ginecologista.
Ganho de peso também influencia
Com o passar do tempo e a queda do estrogênio, são comuns mudanças no metabolismo dos ossos, perda de colágeno e aumento de gordura na região abdominal.
O ganho de peso e o acúmulo de gordura na área cervical são fatores que favorecem o desenvolvimento da apneia obstrutiva do sono, quadro relacionado a bloqueios sucessivos da respiração ao longo da noite.
“Estudos mostram que cada centímetro de circunferência abdominal aumenta em 5% o risco do problema”, destaca Hachul. A ginecologista afirma que é comum receber pacientes em consultório com queixas de insônia, relatando sono fragmentado e ruim.
“A ausência de alguém para perceber as paradas respiratórias durante a noite também leva a essa percepção. No entanto, em boa parte dos casos trata-se de apneia obstrutiva do sono, que é muito prevalente nessa fase da vida”, pontua Hachul.
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Como dormir melhor na menopausa?
As manifestações ao longo do climatério variam de um mulher para outra, algumas podem experimentar sinais mais brandos, enquanto outras estão sujeitas a quadros mais exuberantes.
Nesse cenário, os tratamentos são definidos pelo médico de acordo com a avaliação individual. Considerando os distúrbios do sono, o primeiro passo é checar se as condições são fruto do climatério ou se já existiam e foram exacerbadas com demais alterações desse momento.
Entre as estratégias disponíveis para o cuidado da menopausa estão a terapia de reposição hormonal, medicações para alívio dos sintomas, além de hidratante, creme ou laser vaginal para melhora da lubrificação.
Ao mesmo tempo, entram em ação as medidas para o manejo dos distúrbios do sono, que variam de acordo com cada encrenca.
No caso da insônia, pode ser útil a realização da higiene do sono, que prevê mudanças de comportamento para facilitar o adormecimento, como evitar ir para a cama de estômago cheio, reduzir a iluminação do quarto, evitar usar o celular na cama e manter horários fixos de dormir e despertar.
Em alguns casos, a psicoterapia é indicada para atenuar sintomas depressivos e de ansiedade que atrapalham o sono.
Para contornar a apneia obstrutiva do sono, é necessário, em primeiro lugar, fazer o diagnóstico correto da condição. A identificação é feita a partir de avaliação médica e pelo exame de polissonografia, que avalia o sono durante a noite em clínicas especializadas.
O tratamento base envolve o CPAP, sigla em inglês para aparelho de pressão positiva contínua. O equipamento, que tem ganhado versões menores e mais confortáveis, mantém o fluxo de ar constante por meio de uma máscara.
Chegue bem
Para chegar bem à menopausa, é preciso se preparar com antecedência.
“Recomendamos às pessoas que estão com mais de 40 anos medidas de planejamento para essa fase de transição. Vale intensificar a atividade física, buscar estratégias para relaxar e zelar pela saúde mental, uma vez que os impactos emocionais das alterações físicas são significativos”, pontua Hachul.
No contexto nutricional, é importante investir em dietas equilibradas, ricas em nutrientes como cálcio, fibras, vegetais e, principalmente, valorizar a hidratação diária.