Meningite e adolescentes: prevenção é essencial
A meningite meningocócica é uma doença grave e a circulação da bactéria entre adolescentes é motivo de alerta¹'²
Causada pela bactéria Neisseria meningitidis – também chamada de meningococo –, a meningite meningocócica é uma inflamação das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal, um quadro que pode deixar sequelas graves e até mesmo levar a óbito. Essa bactéria tem pelo menos 12 sorogrupos, sendo os mais comuns: A, B, C, W, X e Y.3,4
Segundo Ana Medina (CRF-RJ 24671), farmacêutica, pós-graduada em imunologia e gerente médica de vacinas da biofarmacêutica GSK, a doença inicialmente apresenta sintomas pouco específicos e muito parecidos com os de outras doenças, o que pode dificultar o diagnóstico precoce.5 “Eles incluem dor de cabeça e pelo corpo, cansaço, febre, coriza, náusea ou vômitos, falta de apetite, irritabilidade, entre outros. É essencial ficar atento e, diante de uma piora do quadro ou aparecimento de outros sinais, como pequenas manchas arroxeadas na pele, rigidez na nuca e sensibilidade à luz, é preciso procurar um atendimento médico o mais rápido possível. Sem o tratamento adequado, há um maior risco de evolução da doença para quadros mais graves, com convulsões, confusão mental, falência dos órgãos e até óbito. O grande desafio é a rápida progressão desses sintomas, que podem ocorrer em um período de 24 a 48 horas”, ela alerta.
A meningite meningocócica é, muitas vezes, associada às crianças, mas, na verdade, pode atingir pessoas de todas as idades.1,6 “Os principais acometidos pela doença são, de fato, os menores de 5 anos. Porém, temos registrado um novo pico da doença entre os adolescentes, e isso merece atenção, já que os jovens, além de serem acometidos pela doença, são importantes agentes na transmissão da meningite meningocócica”, conta Ana.
Atenção aos adolescentes é fundamental
Assim como acontece com outras doenças infecciosas respiratórias, o meningococo pode ser facilmente transmitido de uma pessoa para outra por meio do contato direto com gotículas ou secreções respiratórias através de tosse, espirro e beijo, por exemplo.2,6,7
“E aí, o comportamento dos adolescentes é naturalmente um fator de risco para a transmissão da bactéria, uma vez que eles costumam compartilhar copos, batons e outros objetos, além de frequentarem locais com aglomeração”, afirma a farmacêutica.
Outro dado que reforça a preocupação é que os adolescentes são os que mais carregam o meningococo na região da garganta. Para se ter uma ideia, até 23% deles podem ser portadores da bactéria e transmiti-la, sem necessariamente desenvolver a doença – são os chamados portadores assintomáticos.1
“Ou seja, esses potenciais transmissores da meningite meningocócica circulam livremente, beijam e frequentam baladas sem nem imaginar o risco que oferecem para as demais pessoas. Por esse motivo é importante acabar com a crença popular de que meningite meningocócica é coisa só de criança e, mais que isso, reforçar a necessidade da vacinação nessa faixa etária como uma forma de prevenir a doença e, também, no caso dos sorogrupos A, C, W e Y, para evitar a colonização e a propagação da bactéria entre a população”, destaca Ana.
Não corra riscos
A rapidez com que a doença pode evoluir e as sequelas deixadas preocupam.2,6,7
No dia 11 de setembro de 2009, Pedro Pimenta se sentiu mal durante o almoço. “Imaginei que estivesse com dengue ou gripe forte. Senti enjoo, muita dor no corpo. Eu tinha 18 anos, fazia cursinho pré-vestibular e estava com minha imunidade baixa. Naquele ano já tinha tido mononucleose e outros problemas de saúde, provavelmente por conta do estresse”, conta o rapaz, que foi para casa e passou o restante do dia descansando e tomando analgésico. Porém seu estado só piorou. Vomitou, sentiu fortes dores nos braços e pernas, teve confusão mental e febre.
No dia seguinte, Pedro acordou confuso, não conseguia se mexer, surgiram manchas roxas nos seus braços e pernas. Foi levado de ambulância para o hospital, onde chegou com infecção generalizada e 1% de chance de sobreviver. Depois de seis dias na UTI, ele saiu do coma e soube que tinha contraído meningite meningocócica. “A bactéria havia se espalhado por minha corrente sanguínea e, por isso, meus braços e pernas estavam necrosados, precisando amputar esses membros. Foi um choque de realidade”, ele lembra.
Foram cinco meses e meio de internação e uma força de vontade enorme para aceitar sua nova condição. Em casa, com o suporte da família e dos amigos, muitas sessões de fisioterapia e reabilitação, Pedro foi superando os obstáculos, um a um. E hoje ele usa próteses nos membros superiores e inferiores, e vive com total autonomia. Economista e cofundador de uma clínica de próteses que é referência na América Latina, ele confessa que seu sonho é que, através da vacinação, a meningite seja finalmente eliminada do Brasil. E deixa um conselho aos adolescentes e seus pais: “Muitas vezes a gente pensa que é invencível e que as doenças só atingem os outros, mas não é assim. Protejam-se.”
A importância da vacinação
A imunização é a principal forma de prevenção da doença meningocócica.7 De acordo com o Ministério da Saúde, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os adolescentes devem seguir o esquema vacinal recomendado para a idade. E diversas vacinas estão disponíveis tanto na rede pública de saúde quanto na rede privada.8-11
A vacina meningocócica ACWY, que previne contra quatro sorogrupos que causam a doença, está disponível gratuitamente nos postos de saúde para vacinação de rotina dos adolescentes de 11 a 14 anos.7,11 Para as outras faixas etárias, estão disponíveis na rede privada tanto a ACWY quanto a vacina meningocócica B. Ambas são recomendadas nos calendários das sociedades médicas da criança e do adolescente a partir dos 3 meses de idade.8,9
“Devido à disponibilidade de vacinas, gravidade da doença e aumento de casos em algumas regiões, alguns estados do país ampliaram a vacinação contra a doença meningocócica C ou ACWY para jovens até 19 anos, grupos especiais e profissionais de saúde, por exemplo. Então, é essencial que o jovem e os pais procurem um profissional de saúde para se informar sobre a situação vacinal e a necessidade de completar doses faltantes, se preciso. Existem vacinas disponíveis hoje que não existiam quando os atuais adolescentes eram bebês. Caso não tenha recebido alguma dose na infância, é necessário atualizar a caderneta de vacinação o mais rápido possível, além de receber os reforços recomendados na adolescência”, alerta Ana Medina.
Ela ainda destaca que alguns adolescentes podem ter recebido na infância a vacina contra a meningite meningocócica causada pelo sorogrupo C, que foi disponibilizada no país pelo Programa Nacional de Imunizações com foco em lactentes a partir do ano de 2010, e para pessoas de 11 e 12 anos a partir do ano de 2017. “Os adolescentes que receberam apenas essa vacina na infância, por exemplo, podem fazer o reforço na rede pública com a vacina meningocócica ACWY se estiverem entre 11 e 14 anos de idade, ou fazer a vacinação na rede privada com as vacinas meningocócicas ACWY e B, consultando sempre o esquema vacinal adequado para a idade e seguindo a recomendação médica”, conclui.
Vale lembrar que, assim como acontece com outras doenças infecciosas transmitidas através das vias respiratórias, a meningite meningocócica pode ser prevenida por meio de outras medidas, como evitar aglomerações, lavar as mãos com água e sabão (principalmente depois de tossir ou espirrar) e manter os ambientes limpos e ventilados.12
Material dirigido ao público em geral. Por favor, consulte o seu médico.
NP-BR-GVU-JRNA-240001 – Junho/2024
Referências
- CHRISTENSEN H et al. Meningococcal carriage by age: a systematic review and meta-analysis. Lancet Infect Dis, 10(12): 853-61, 2010.
- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde de A a Z. Meningite. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z-1/m/meningite. Acesso em: 10 maio 2024.
- ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Vigilância das pneumonias e meningites bacterianas em crianças menores de 5 anos. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52718/9789275721896_por.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 10 maio 2024.
- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Meningococcal Meningitis. Disponível em: https://www.who.int/teams/health-product-policy-and-standards/standards-and-specifications/vaccine-standardization/meningococcal-meningitis. Acesso em: 10 maio 2024.
- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Meningite. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/meningite/. Acesso em: 15 maio 2024.
- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Newsroom. Fact Sheets. Details. Meningitis. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/meningitis. Acesso em: 10 maio 2024.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Família SBIm. Doenças. Meningite meningocócica. Disponível em: https://familia.sbim.org.br/doencas/meningite-meningococica. Acesso em: 10 maio 2024.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário de Vacinação do nascimento à terceira idade: recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) – 2023/2024 (atualizado 21/08/2023). Disponível em: https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-0-100-2023-2024.pdf. Acesso em: 10 maio 2024.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Calendário de Vacinação da SBP 2023. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/24158g-DC_Calendario_Vacinacao_-_Atualizacao_2023.pdf. Acesso em: 10 maio 2024.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Dia do Adolescente: a importância para o pediatra. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/DIA_DO_ADC_SBP_2019-RAS_REVISADO_LEO_16_de_setembro.pdf. Acesso em: 10 maio 2024.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Calendário Nacional de Vacinação do Adolescente. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/calendario-nacional-de-vacinacao/calendario-vacinal-2022/anexo-calendario-de-vacinacao-do-adolescente_atualizado_-final-20-09-2022-copia.pdf. Acesso em: 10 maio 2024.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção de doenças infecciosas respiratórias. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/prevencao_doencas_infecciosas_respiratorias.pdf. Acesso em: 10 maio 2024.