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Médica desvenda a mastalgia: o que significa a dor nas mamas?

Entenda o que a ciência já sabe sobre o incômodo nos seios e saiba quando é hora de procurar ajuda médica

Por Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos, mastologista, via Brazil Health*
14 Maio 2025, 10h28
retirada das mamas
Dor nos seios pode ter origens variadas e suscita preocupação nas mulheres (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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A mastalgia, ou mastodinia, termo médico para dor nas mamas, é uma queixa comum que afeta mulheres de diversas idades e, ocasionalmente, acontece em homens. Apesar de geralmente ser autolimitada — ou seja, se resolver sozinha — em cerca de 15% das vezes é preciso tratá-la.

Essa dor varia em intensidade, desde um leve desconforto até uma dor intensa que pode impactar a qualidade de vida, interferindo no trabalho, no sono e no sexo.

Compreender as possíveis causas e tipos de mastalgia é fundamental para determinar se ela está associada a flutuações hormonais ou a processos patológicos, de forma a tranquilizar e orientar melhor quem vivencia esse sintoma, bem como tratar sua origem, se for o caso.

Este texto tem como objetivo fornecer informações claras e baseadas na ciência para o público leigo, desmistificando a mastalgia e oferecendo sugestões para buscar ajuda quando necessário.

Mastalgia não é doença

A mastalgia não é uma doença, mas um sintoma subjetivo que pode ter diversas origens e implicar em experiência emocional.

Ela é frequentemente referida em mulheres que procuram consulta médica geral ou especializada e ocorre em cerca de 70% nas culturas ocidentais e apenas 5% nas asiáticas. Alguns estudos populacionais no Brasil referem a prevalência de dor mamária de 40 a 60% entre as mulheres.

A distinção entre o que é uma dor mamária normal e o que deve preocupar é arbitrária, muitas vezes avaliada através de escalas visuais analógicas de dor. O medo de que a dor esteja relacionada a câncer de mama não só preocupa as mulheres, impelindo-as a procurar consultas médicas, como também interfere na resposta ao tratamento.

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+Leia também: Nódulo na mama é sempre sinal de câncer? Conheça causas para as lesões

Causas e tipos de mastalgia

A mastalgia é classificada em três categorias: cíclica, acíclica e extramamária, de causas diversas. Essa classificação tem relevância para o estudo sobre cada caso, a indicação de tratamento e a avaliação da resposta.

Mastalgia cíclica, relacionada à menstruação

É o tipo mais comum na pré-menopausa, ou seja, antes da última menstruação, e intensifica-se na fase pré-menstrual, frequentemente bilateral e percebida nos quadrantes superiores e laterais das mamas, por vezes acompanhada de inchaço ou sensibilidade ao toque.

Ela é associada às flutuações endócrinas do ciclo menstrual, especialmente dos hormônios estrogênio, progesterona e prolactina, ou a agentes hormonais farmacológicos como a terapia hormonal da menopausa e o uso de contraceptivos hormonais orais.

Apesar da sua alta prevalência, geralmente as mulheres a percebem como de baixa intensidade e usual, não necessitando de avaliação médica. Entretanto, nos casos severos, a queixa persiste após o período menstrual.

Nas mulheres que foram submetidas à histerectomia (retirada cirúrgica do útero), mas que ainda não estão em menopausa, a variação cíclica pode se associar a outros sintomas de tensão pré-menstrual. Dessa forma, é necessária uma avaliação prospectiva da mastalgia cíclica para se compreender sua associação com os ciclos menstruais.

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Mastalgia acíclica

A dor mamária acíclica não tem uma relação clara com o ciclo menstrual e é percebida por mulheres de qualquer idade, incluindo na pós-menopausa, de forma constante ou intermitente. Usualmente, ela afeta apenas uma mama e está localizada em uma área específica.

As possíveis causas incluem, dentre outras:

  • Estiramento de ligamentos de Cooper em mamas pendulares e volumosas;
  • Macrocistos mamários;
  • Ectasia ductal;
  • Mastite puerperal ou não puerperal;
  • Hidradenite supurativa;
  • Tromboflebite;
  • Alguns fatores dietéticos e de estilo de vida;
  • Gravidez;
  • Uso de medicações, incluindo a terapia de reposição hormonal e os antidepressivos;
  • Cirurgia e/ou radioterapia mamária prévia;
  • Trauma;
  • Câncer de mama, inclusive o carcinoma inflamatório.

Mulheres com dor mamária acíclica podem estar, na verdade, apresentando dor extramamária com sensibilidade costal. Em homens, a dor mamária é acíclica e usualmente está associada à ginecomastia.

O impacto da dor mamária acíclica na qualidade de vida é determinado pela necessidade de uso de medicações, pela concomitância com outras dores e pelo medo de câncer.

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Dor extramamária

Ela é uma dor referida, ou seja, percebida na mama, mas com origem em outras estruturas. Assim, ela pode resultar de:

  • Alterações musculoesqueléticas originadas de músculos, costelas e nervos intercostais, ocasionadas por trauma (inclusive cirúrgico e de radioterapia);
  • Esforços físicos;
  • Inflamações locais;
  • Artrite;
  • Problemas de coluna cervical;
  • Doenças de origem biliar, pulmonar, esofágica ou cardíaca.

+Leia também: O uso de anticoncepcionais pode aumentar o risco de câncer de mama?

Quando a dor merece atenção médica?

A dor é um sintoma pouco frequente do câncer de mama inicial, mas pode ocorrer no seio e irradiar para a axila do mesmo lado. Assim, não se pode dizer que a presença de dor exclui o diagnóstico de câncer.

De forma diversa, a presença de tumores localmente avançados, ou com envolvimento de músculos, costelas ou nervos, associa-se a dor locorregional em quase 70% dos casos.

Embora na maior parte das vezes a mastalgia seja leve e transitória, a avaliação médica deve ser procurada na presença de dor persistente, interferindo nas atividades diárias ou provocando ansiedade e preocupação.

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A dor unilateral, principalmente se for recente, intensa ou associada a alterações nas mamas como nódulo, calor, espessamento, vermelhidão, abaulamento e/ou retração de pele, descarga papilar (saída de secreção pelo mamilo) ou alterações no mamilo, é indicativa de pronta necessidade de avaliação.

Diagnóstico

Na avaliação da mastalgia, além da resposta à anamnese padrão, o médico deverá perguntar

  • O local da dor;
  • Se é uni ou bilateral, localizada ou difusa;
  • Qual sua severidade e interferência no cotidiano;
  • A associação com ciclo menstrual (nas mulheres antes da menopausa);
  • A associação com uso de medicamentos hormonais ou gestaçõe;
  • Se há outros sinais ou sintomas associados;
  • Se piora com atividade muscular ou palpação;
  • Se houve trauma mamário recente;
  • Como a dor é sentida (fincada, agulhada, queimação, ardor, etc).

O exame físico servirá para perceber sinais de inflamação/infecção ou nódulos/neoplasia em mamas e axilas, com especial atenção para a região dolorosa. Em caso de achados que sugiram uma patologia, a investigação segue para sua avaliação.

Nos demais casos, a realização dos exames complementares, usualmente mamografia e/ou ultrassom, dependerá da idade da paciente, da classificação da mastalgia e da severidade do sintoma.

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Mulheres com mastalgia cíclica ou bilateral geralmente não requerem exame diagnóstico de imagem mamária; elas devem ser avaliadas em relação ao rastreamento, a depender da idade e do risco de câncer de mama hereditário.

Em mulheres abaixo de 30 anos, com mastalgia acíclica ou focal, a ultrassonografia é inicialmente solicitada, na ausência de suspeitas clínicas para se excluir câncer. Em mulheres acima desta idade, a mamografia pode ser um exame para investigação da mastalgia.

Mulheres com mastalgia e sem alterações em exame físico ou de imagem apresentam cerca de 0,5% de risco de câncer de mama.

Possibilidades de tratamento

O tratamento da mastalgia depende da sua causa e intensidade.

A primeira linha, na ausência de doença mamária, consiste em abordagens não farmacológicas, com orientação verbal, uso adequado de sutiã, colocação de compressas frias ou quentes associadas à massagem local.

Na persistência do sintoma, o uso de analgésicos ou anti-inflamatórios pode aliviar a dor. Os medicamentos hormonais, devido aos possíveis efeitos colaterais, como o tamoxifeno, estão reservados para situações de dor severa sem melhora com as outras terapias de primeira linha.

Técnicas de relaxamento, exercícios físicos direcionados, uso de analgésicos e de relaxantes musculares podem ser indicados na mastalgia musculoesquelética. Na presença de medicação que esteja induzindo a dor, deve-se discutir os riscos e benefícios de seu uso.

Se o incômodo for causado por cistos, infecções ou outros problemas específicos, o tratamento focará na resolução dessas condições. Algumas mulheres apresentam redução da dor com uso de fitoterápicos e suplementos, que são associados a baixo risco de efeitos adversos.

Entretanto, não há comprovação de eficácia dessas terapias por estudos randomizados no tratamento da dor mamária. Embora a mastalgia possa estar associada ou se exacerbar com ansiedade, depressão ou altos níveis de estresse, ela não deve ser tratada como doença puramente psíquica.

+Leia também: Não é coisa da sua cabeça: sintomas menosprezados atrasam diagnóstico

Conclusão

Em resumo, a mastalgia é uma experiência adversa comum e, na maioria das vezes, benigna.

Compreender os diferentes tipos, as possíveis causas e os sinais de alerta é fundamental para que as pessoas com esse sintoma possam buscar ajuda médica de forma informada e tranquila.

A dor nas mamas, por vezes, está associada a outras condições benignas, como alterações hormonais, cistos, inflamações ou causas musculoesqueléticas. No entanto, qualquer queixa persistente, especialmente se acompanhada de outros sinais de alerta como nódulo, alterações na pele ou secreção, deve ser investigada em consulta médica para descartar a possibilidade de câncer de mama.

A avaliação médica é essencial para um diagnóstico preciso e para a definição da melhor estratégia de manejo, garantindo o bem-estar e a saúde mamária.

*Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos é médica especialista em ginecologia e mastologia, secretária adjunta da Sociedade Brasileira de Mastologia e mestre em Ciências da Saúde.

(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)

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